segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

RIBEIRA - 199

CENSURA
A Guerrilha do Araguaia é como se costuma chamar um conjunto de operações guerrilheiras ocorridas durante a década de 1970 promovidas por grupos contrários ao Regime Militar em vigor no Brasil. O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB)´oriundo de uma cisão no PCB. Na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma ação terrorista prolongada, os integrantes do PCdoB pretendiam combater o governo militar e implementar o comunismo no Brasil, iniciando o movimento pelo campo, à semelhança do que já ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959). O palco de operações se deu onde os estados de Goias, Pará e Maranhão faziam fronteira. O nome foi dado à operação por se localizar às margens do rio Araguaia, próximo às cidades de São Geraldo e Marabá no Pará e de Xambioá, no norte de Goiás. Estima-se que participaram em torno de setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte se dirigiu àquela região em torno de 1970. Entre eles, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, que foi detido pelo Exercito em 1972. Na época, as Forças Armadas iniciaram um estudo para efetuar as operações antiguerrilha. Estas foram envolvidas de um planejamento executado em sigilo e que durou em torno de dois anos. Na época em que Emílio Garrastazu Médici era presidente do Brasil, as operações militares foram executadas de maneira sigilosa e era proibida a divulgação da existencia de um movimento guerrilheiro no interior do país. Portanto, devido à censura, nunca foi autorizada a publicação de detalhes sobre a guerrilha e sempre se afirmou que os documentos da operação haviam sido destruidos. No entanto, durante as polêmicas ocasionadas no governo Lula em relação a abertura de arquivos do período militar, foi descoberto que boa parte dos materiais foi preservada. Para combater os 79 guerrilheiros do PCdoB, houve a mobilização e cinco mil soldados brasileiros, em três fazes distintas que se prolongaram até 25 de dezembro de 1974, data em que o movimento insurgente foi definitivamente extinto. Os soldados brasileiros que participaram das operações iniciais desconheciam a sua missão e foram comandados pelo general Antônio Bandeira. Para preparar o teatro de operações, o comandante mandou construir uma rodovia com cerca de 30 km de extenção. Segundo os militares ela era necessaria para que fosse executado o deslocamento de tropas. A área dominada pelos guerrilheiros abrangia em torno de sete mil quilômetros quadrados, indo da cidade de Xambioá até no sul do Pará, nas proximidades de Marabá. O General Olavo Viana Moog exerceu o comando tático das operações e o general Hugo de Abreu também comandou as ações para por fim ao movimento. Do lado da guerrilha, os principais comandantes foram Maurício Grabois, (nascido em Salvador, em 2 de outubro de 1912, fundador e o principal líder do PCdoB, e assassinado no Araguaia, em 1973), e João Amazonas que eram oriundos do PCB e que haviam sido presos na década de 1930 durante a imposição do Estado Novo.
Por uma questão de segurança do grupo, os guerrilheiros não tinham indentificações. Seus nomes nunca eram revelados, usando desta forma nomes e identificações falsas. Sabe-se, porémque muitos eram estudantes e profissionais liberais que haviam participado de manifestações contra o regime na década de 1960. Sabe-se por relatos dos poucos que sobreviveram que muitos tinham sido torturados e presos anteriormente pelo regime por não concordar com uma ditadura comandando o Brasil. Um dado importante é que a grande maioria dos guerrilheiros, em torno de 70 por cento, eram oriundos da classe média, que tinham profissões liberais como médicos, dentistas, advogados e engenheiros. Havia também bancários e comerciários. Sabe-se que menos de 20 por cento eram camponeses, e que estes eram recrutados na região do Araguaia. A quantidade de operários que participavam do movimento guerrilheiro mal chegava aos 10 por cento do total. Em média, a idade predominante era em torno dos trinta anos. Na medida que íam chegando à região, adquiriam a confiança dos moradores agindo como agricultores, farmaceuticos, curandeiros, pequenos comerciantes, donos de pequenas vendas de beira de estrada, além de outros tipos de ocupações comuns no interior do Brasil. Nunca conversavam entre sí, e nunca moravam próximos uns dos outros.. Integravam-se às comunidades onde agiam, participando de todos os eventos, sendo desta maneira absorvidos por estas. Não atuavam e não influiam nas políticas locais, não se envolviam em discussões políticas para evitar o despertar de desconfianças. Suas atividades principais se baseavam no ensino do trabalho comunitário, voluntariado e assistencialismo. Quando podiam, ajudavam os moradores com medicina, odontologia, ajudavam nas escolas, davam aulas, ensinavam a população como organizar e realizar mutirões. Agindo assim, aos poucos o grupo foi ganhando respeito e admiração da população local.
O Exército Brasileiro descobriu a localização de núcleo guerrilheiro em 1971 e fez tres investidas contra os rebeldes. As operações de guerrilha iniciaram-se efetivamente em 1972, tendo oferecido resistência até março de 1974. Em janeiro de 1975 as operações foram consideradas oficialmente encerradas com a morte ou detenção da maioria dos guerrilheiros. Em 1976 ocorreu a chamada Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes históricos do PCB. João Amazonas, na ocasião, se encontrava na Albania. Dentre os muitos nomes envolvidos na Guerrilha do Araguaia destaca-se o de Oswaldo Orlando da Costa, militante do PCdoB que chegou à região em 1966 com a missão de organizar a guerrilha rural. Em 4 de fevereiro de 1974, enquanto abria uma trilha no mato, Oswaldão deparou-se repentinamente com uma patrulha do Exercito, pela qual foi alvejado no peito, no momento exato em que abria os braços para afastar o mato da sua frente. Em seguida, o seu corpo foi arrastado pela mata e içado de cabeça para baixo por uma corda presa à um helicoptero. Dizem alguns que, para ter certeza de que "o morto estaria realmente morto", ao chegar a uma grande altura, teriam soltado e arremessado o corpo de Oswaldão ao solo, sendo em seguida apanhado, amarrado novamente à aeronave e levado para ser exibido aos camponeses como um troféu. Segundo testemunhos, a maioria dos guerrilheiros capturados foi torturada antes de ser executada, e seus corpos ocultados, numa espécie de operação limpeza promovida pelos militares a partir de 1975. Sabe-se que, após 1975 foi realizada na região uma espécie de operação limpeza, que durou até meados de 1978, com a finalidade de eliminar focos de militantes remanescentes na região.

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