segunda-feira, 15 de junho de 2009

RIBEIRA - 304

A MULHER INVISIVEL
O género comédia costuma ser um terreno movediço. "A Mulher Invisivel" é uma prova disso. O diretor e roteirista Claudio Torres deve achar seu filme engraçado. mas "A Mulher Invisível", protagonizado por Selton Mello e Maria Manoella, com Luana Piovanni e Vladmir Brichta nos papéis de coadjuvantes, mais parece um piloto para sitcom, como boa parte da produção cômica nacional que chega aos cinemas.
Claudio Torres estreou na direção de longas em 2004 com a comédia de humor negro "Redentor". O filme, uma sátira ao Brasil do vale-tudo, tinha um humor ácido, um visual apurado e uma boa pegada crítica. No ano passado, (2008), ele lançou "A Mulher do Meu Amigo", uma comédia de erros, cujo maior equívoco foi existir.
Partindo de um roteiro assinado por ele mesmo, Claudio Torres tenta fazer comédia a partir da fantasia. Pedro leva um fora de sua mulher e inventa uma "mulher ideal", Amanda, que só existe em sua imaginação.
O primeiro ato do filme é o relacionamento de sonho entre Pedro e Amanda. Seu melhor amigo começa a desconfiar que ela não existe, o que, mais tarde, leva Pedro a também questionar a existência da moça. Mas, na verdade, o filme não é sobre ele, nem sobre ela. A verdadeira mulher invisível do título é Vitória. Vizinha apaixonada por Pedro, Vitória, que ficou viúva recentemente, há tempos ouve as conversas dele através da parede. Mas Pedro nunca a notou, seja no elevador ou no corredor do prédio. É como se ela não existisse.
Se "A Mulher Invisível" se assumisse como um filme sobre Vitória, talvez tivesse mais a oferecer e explorar, até porque ela é a personagem mais interessante e Maria Manoella, a atriz mais talentosa em cena.
Numa das primeiras cenas, a música "A Woman Left Lonely", na voz de Janis Joplin, ilustra bem o estado emocional de Vitória, mas sua exaustiva repetição é sinal de que as idéias já se esgotaram. Vitória é aquela mulher solitária e tímida que tenta conquistar o vizinho, mas, quando finalmente toma coragem, ele já enlouqueceu, tentando se livrar da figura de Amanda, mesmo que ela só existia em sua cabeça.
Selton Mello parece atuar no piloto automático, sem o carísma que mostrou em produções como "O Auto da Compadecida", desempenhando um tipo que poderia ser engraçado, ou minimamente simpático, mas que acaba sendo irritante com tantas neuroses. Luana, que confunde comédia com histeria, se acomoda na sua persona de mulher sensual e acredita que isto basta para compor um personágem. O filme ganha quando ela sai de cena e a personagem Vitória cresce..
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