segunda-feira, 29 de junho de 2009

RIBEIRA - 320

CASARÃO
Hoje, o casarão está completamente deteriorado. Já não se sente o viço de sua juventude quando, ali, podiá-se brincar horas a fio, sem medo e sem receio. Naquele casarão, ainda me lembro das crianças que lá brincavam tempos e mais tempos como brincavam todas as crianças na sua tenra idade de 7 anos, um, e 6 anos, o outro. Eram irmãos. Dois irmãos. No seu tempo não havia coisas e mais coisas que pudessem fazer com que os dois meninos temessem de ficarem só. Certa vez, um dos meninos, o mais novo, quebrou um dente de leite quando rumava em seu carro de madeira, indo bater de encontro a um pilar do casarão que ficava no extremo de um trajeto que ele costumava fazer. Empurrando com um dos pés, o menino perdeu a direção de seu carro de madeira e bateu com a sua boca no pilar. Foi choro muito. Naquela gritaria penetrante, a mãe da criança correu em seu socorro, a clamar por todos os santos, anjos e querubins. Foi o alarido de morte o clamor da criança. Sem nada o que fazer, a mulher lavou a boca da criança com água e sal, e depressa, foram os três - o maior, também -em busca de um enfermeiro que era o médico que a mulher encontrava mais próximo da sua casa. O homem pegou a criança, ainda inconsolável, e o medicou, pois, alí não havia nada a fazer. O homem receitou um medicamento e sossegou a criança de modo que o garoto deixasse tanto de chorar daquele modo. A mulher ainda não tinha sossego pois a tranquilidade só chegava horas bem depois quando a criança parasse de chorar como então lacrimava como se sentisse a morte.
Aquele acidente, a mãe do garoto nunca esqueceu, mesmo depois de velha, já bem carcomida pelos anos. Do acontecimento casual, a mulher procurava a dizer a todos que moravam na redondeza e até mesmo às pessoas que residiam bem mais longe de seu casarão mal dividido e sem um mínimo de aposentos. O garoto, com os dias a passar, não sentiu mais coisa alguma, pois seu dente sequer caiu. Houve somente o choque contra o pilar da casa. Com o tempo, já estavam os dois irmãos a brincar do mesmo jeito que antes, com o carro de madeira pelo meio do casarão sem temer qualquer acontecimento infeliz como o que fizera o menino menor. De outras vezes, daixando o carro de lado, lá estavam os dois irmão a brincar de sacerdotes. A sua mãe, lá dentro de casa, apenas perguntava os que os dois estavam a fazer. Diante da resposta de que não era coisa de grande importância, a mulher continuava a fazer as suas obrigações de casa.
De uma certa vez, ouviu-se um grito e o berro a seguir. A mulher, desesperada, correu para ver o que tinha contecido. Ao notar o que o irmão mais velho fizera - coisa de só menos importância - a mulher deu de garra de uma vassoura e partiu para pegar o filho mais velho, pois, apesar de dizer que nada fizera, a sua mãe não contava conversa: com a vassoura em punho, tacava na cabeça do garoto, um correndo e a mulher correndo apressada, dizendo os descabidos desaforos atrás do menino. Uma certa tacada a mulher acertou no dedo maior da mão direita do filho, que se torceu de dor, naquele vexame treslocado. Uma vez castigado o filho maior, a sua mãe voltou para o interior do casarão, sem calar a boca, enunciando tudo aquilo que ela achava por falar.
Esse foi o momento mais crucial da vida dos dois irmãos, sem contar que em instantes seguintes estavam eles a acudir novamente os seus desaforados instantes de sua meninice. Os dias passaram e os dois irmãos já estavam em outro sítio, para onde foram morar. Da casa grande, só resta agora o escombro que o tempo vem sendo implacavel em consumir. Uma vez ou outra, alguém passa por meio daqueles escombros e nota tão somente a fachada da frente de uma casa velha, quase caindo, com sua pintura desaparecendo, coberta de mata ao redor cheia de musgos de cima a baixo. Ninguém se lembra que, naquela casa velha, um dia, viveram felizes os dois irmãos, salvo pelos contratempos que acudiam a todo menino travesso e disposto em plena idade do seu imberbe ser.

Um comentário:

Rocio disse...

Essa palavra interessante, espero que em algum momento nós temos a capacidade de escrever essas coisas, eu espero que você tenha a oportunidade de ler tudo quando eu tenho minhas lentes de contato