quarta-feira, 24 de junho de 2009

RIBEIRA - 314

LILIAN GISH
Uma das estórias mais impiedosas e mesquinhas do "star-system" de Hollywood foi o processo contínuo e caríssimo com o qual da MGM aniquilou propositalmente a grande carreira de Lilian Gish para colocar uma outra estrela em ascenção como a deusa do estúdio: Garbo, o MITO. Lilian, a atriz e eterna inesquecível heroína de Griffith no período de auge do cinema mudo (Nascimento de uma Nação)desde de 1912. Foi chamada para a Metro em 1925. Lá ela fez filmes de "prestígio" na mesma época em que Garbo, a "temptress destruidora de lares", "abria a boca" para beijar seu galã (pela primeira vez na estória do cinema) em "The flesh and the devil". As sedutoras vamps que Greta Garbo interpretava e que quase sempre eram castigadas no final do filme e morriam, encontravam mais empatia e simpatia com o público.
A MGM queria somente UMA estrela no firmamento do cinema e estava conseguindo alcançar seu objetivo. Trazendo Lilian Gish para esse estúdio o management da Metro ficou com sua carreira nas mãos, para aniquilar com a única carreira que poderia ter sido capaz de ameaçar o "fenomeno" Garbo.
Se Greta Garbo seduziu John Gilbert em "The flesh and the devil", no qual ela além do "beijo na pecador", até transforma um cálice de comunhão na igreja num instrumento profano, e as cenas de amor deixaram o público suando. A dupla Gish/Gilbert em "La Boheme" não deixou o público nem tépido.
Os filmes de prestígio de Lilian Gish, entre eles o maravilhoso "The scarlett letter" foram fracassos totais de bilheteria. Mas este foi um investimento da Metro que foi totalmente calculado: a grande perda de dinheiro que os filmes de Lilian Gish causou, porque foram produções de prestígio, seria ínfima comparada às futuras cifras que Greta Garbo traria como lucro para este estúdio. Um investimento carissimo e extremamente cruel.
A última aventura cinematográfica desta atriz, antes do filme falado, foi o belíssimo e ao mesmo tempo assustante "The Wind", de Victor Seastrom. Um filme mudo no qual a sensação de se ouvir um ensurdecedor e ameaçador barulho de vento é impressionante - levando a heroína à loucura - uma linguagem cinematografica de muita classe! À partir desta época, e junto com o advento do cinema falado, Lilian Gish passou a simbolizar para o público de cinema uma representante de um tempo passado, como, entre outras, também Glória Swanson. A hierarquia do estúdio mudou e Greta Garbo passaria uma década reinando mas não realmente mais com o público dos Estados Unidos. O público europeu era o público de Greta Garbo e seus filmes faziam sucesso e ganhavam dinheiro na Europa, não nos Estados Unidos. Quando a guerra começou e, de certa forma, uma grande parte do mercado europeu ficou fechado para a indústria cinematográfica americana, a MGM desesperadamente ainda tentou mudar a imágem de Greta Garbo, transformando-a numa americana de cabelos no permanente que até dançava rumba em "Two faced Woman" de George Cukor. O resultado não poderia ter sido mais forçado e vexaminoso, e Greta Garbo despediu-se das telas.
Lilian Gish continuou no teatro, trabalhou durante os anos 30, 40, 50 e 60 continuamente no cinema. Em 1947 sob a direção de King Vidor, ela seria nominada para um "Oscar" de melhor atriz coadjuvante por "Um Duelo ao Sol". Em 1978 ela fez uma aparição fantástica no faladissimo "Um Casamento", de Robert Altman, ao lado de Mia Farrow, Geraldine Chaplin e Carol Burnett. Em 1971 recebeu um "Oscar" especial por sua contribuição ao cinema. Seu canto de cisne no cinema aconteceu no sensibilissimo "The Whales of August". Lilian Gish morreu em 1993, aos 99 anos de idade. O seu rosto foi considerado um dos mais bonitos e fotogênicos do cinema.
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