domingo, 21 de junho de 2009

RIBEIRA - 312

O BONDE
Quem vê, nos dias de hoje, a rua Frei Miguelino, olha e nada comenta. Essa rua por onde passou o Bonde nos anos remotos - até 1956 - tem história. Era por aquele recanto que os homens que se agasalhavam no Forte dos Reis - hoje, conhecido por Forte dos Reis Magos - faziam a ligação até a Cidade. Alí não havia nada. Só mangue, pois o rio - Potengi - tomava todo o canto, uma vez que a sua margem era bem mais ampla. O rio expandia-se pela chamada Ribeira - antigamente não era assim conhecida -correndo por todos os locais, da Avenida Silva Jardim até a Praça Augusto Severo, nomes dados no século XX. Quem viesse pela rua Frei Miguelinho, andejava por um lugar estreito, cheio de lama. Um vesdadeiro lamaçal. Foi por aquele local que um grupo de soldados portugueses trouxeram o corpo de André de Albuquerque que havia morrido durante a noite, para sepultá-lo na Igreja da Cidade, conhecida depois como Catedral de Natal. Ao passar por uma casa alí existente, onde morada uma mulher que vendia escravos a quem comprasse, os soldados foram parados, pois a mulher - Ritinha Coelho - se compadeceu do estado do cadáver, despido, e lhe arranjou uma manta para cobri-lo. A rua Frei Miguelinho ganhou esse nome porque ali, em uma casa, cujo número era 52, nascera a criança Miguel e que passou a ser chamado de Miguelinho. Ele viveu na casa que fica em uma esquina da rua, no seu inicio, até a juventude, rumando depois para o Recife, Pe, onde se ordenou frade e, posteriormente, fez votos para ser padre.Por isso, a rua, hoje em dia, é chamada de Frei Miguelinho.
No curso da história, aquela mesma rua, onde o bonde está a passar, tinha uma casa de comércio, chamada M.Martins & Cia. Do lado esquerdo do bonde, já na esquina da rua, tinha a Loja 4 e 400 - que se chamava Loja quatro e quatrocentos -, Era uma casa de artigos para presentes, próprios para as crianças. A senhoras gran-finas podiam comprar artigos de miudezas. Um incendio destruiu a casa da noite para o dia, consumindo tudo. Natal, nesse tempo, não tinha unidades do Corpo de Bombeiros, tendo que chamar os carros que estavam em Parnamirim, na unidade da FAB - Força Aérea Brasileira -.Uma outra unidade, só para conduzir água, estava na Base Naval. A Loja 4.400 foi tomada pelo fogo, incendio de tamanha proporção que até um barco da Marinha que se encontrava ancorado ao largo do Cais Tavares de Lyra, teve que ajudar, fornecendo água retirada do rio Potengi, e encaminhada por dois guinchos, com a intenção de apagar o incendio. Com a chegada dos Caminhoes Tanques da Aeronáutica, as chamas foram debeladas já no dia seguinte. Nesse tempo, o bonde que fazia trajeto pelo local, ficou interditado, voltando, então, pelo caminho que fazia como ida, pela rua Duque de Caxias. Tudo foi consumado pelo incêndio e a casa, ficou apenas o escombro por vários anos. Esse acidente ocorreu por volta de 1948, um dia em que o proprietário da Loja estava aqui, em Natal. O homem tinha chegado do Rio de Janeiro e só teve que presenciar as chamas que consumiam a sua Loja. Esse foi um fim melancólico para a casa comercial. O bonde voltou a circular pelo seu antigo trajeto, dias depois, quando tudo havia terminado, com o rescaldo todo pronto. Os próprios funcionários da casas próximas tiveram um dia de folga dado o fogo que consumiu a grande - por assim dizer - loja de artigos para crianças e adultos.

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