quarta-feira, 19 de novembro de 2008

RIBEIRA - 191

EXTREMOZ
Quando eu ainda era bem pequeno, talvez tivesse meus oito anos, um dia, eu fui com meus pais, à pequena e nem sabida vila de Extremoz. Daquele recanto, o que se ouvia falar, era das comídas típicas que faziam as mulheres que alí moravam. Siquilhos, grude, bolo-preto e tudo mais que enfeitavam a nossa imaginação de criança e, porque não dizer, dos adultos também. Desse tempo, já pelos seus 60 anos, ficou em minha memória o mato que abrigava os pés de urucum que se enraizavam encostados aos pés de árvores gigantescas. Deles, brotava uma semente pequenina, entre muitas outras, formando um verdadeiro cacho. Eu recolhi muitas daquelas sementes, inda verdes para trazer para a minha casa, como um trofeu da minha gigante proeza. O urucum é produto com que se faz o coloral. Quando estive em Extremoz, meu pai me contou uma história de um carreiro que levava os sinos para a Capela do vilarejo. Acontece que o homem adormeceu, não só pela viagem que era longa, também pelo caminhar dos bois e o roncar ou canto do pau da carroça no atrito dos cocões. O carro-de-boi foi trazido para o Brasil pelos portugueses, tirando uma idéia da India. Aqui, no Nordeste, ele era típico para carregar madeiras, cana, mudanças, famílias e até mesmo servir de um carro para transportar um enterro e assim, o carro era, sem duvidas, transformado em um "carro-fúnebre". Houve até uma lei proibindo os carros-de-boi de circular nas cidades, ficando o seu uso no meio rural. O roncar do pau no atrito com os cocões, com seu canto, lamento ou gemido dava para quem ouvia uma triste solidão. Com os burros de carga, as carretas foram perdendo a vez. Os burros não faziam cara-feia para atravessar qualque lugar. Com isso, os bois foram sendo aposentados. Ainda lembrando da história que meu pai me contava, o homem adormeceu. Quando acordou, o seu carro-de-boi já estava tragado pelas águas da Lagoa que alí existia. Era noite-madrugada quando tudo isso aconteceu. Coisa terrivel que ninguém tem a menor insistência em lembrar. Do homem, nem se teve noticia. E dos sinos, só se ouvia o badalar cheio de um lúgubre penar nas noites tristes de terrivel escuridão. Parecia que eles - os sinos - estavam a pedir por socorro às almas penadas do lugar. Isso é verdade, pois à noite de escuro se ouve ainda o lamento desse perdidos sinos.
Mas, Extremoz era uma antiga aldeia onde moravam os índios Tupis e Paiacus. Quando o homem branco chegou por lá, isso, depois de 1.500, passou denominada de aldeia de São Miguel de Guajirú. Aquelas terras faziam parte das missões de catequese dos jesuitas. O local era fértil e havia criação de gado entre outros animais com a paz reinando entre eles, até que em 1757 chegaram os colonizadores e expulsaram os freis. Nesse tempo, 257 anos depois da descoberta do Brasil, a aldeia, com cerca de 1.400 pessoas e com a Igreja, foi elevada à condição de Vila com o nome de Vila de Extremoz, a primeira vila do Rio Grande do Norte. Em 1855, a sede da vila foi transerida para o povoado de Boca da Mata, atual municipio de Ceará-Mirim. Extremoz passou, então, a pertencer a esse municipio. Sua emancipação se deu em 1963. O seu padroeiro é São Miguel e , hoje, Extremoz abriga um dos mais belos postais do Estado, com dunas, lagoas, como a Genipabú, passeios de buggies e até mesmo no lombo de dromedários que foram importados. Pela história recente, Extremoz foi fundada em 4 de abril de 1963, apesar de ter uma história para além do tempo da descoberta do Brasil.

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