quarta-feira, 19 de novembro de 2008

RIBEIRA - 192

RIBEIRA DE ENTÃO
Esta é a Ribeira. É o bairro da Ribeira, em Natal, para quem ainda não conhece. Para se notar, é muito facil. Olhando bem a foto, ver-se um Bonde que trafega pela a Avenida Tavares de Lyra, quase cruzando com a rua Duque de Caxias. Na ponta dereita da foto, pode-se vê um elegante sobrado de apenas um andar. Ao seu lado, tem um palacete, também de um andar que foi morada por muito tempo e hoje está abandonado. Para traz, existiam casas de morada, de um lado e do outro da avenida. E na esquina, ao contrario do majestoso sobrado, só havia uma praça onde, tempos depois foi construido o prédio do Banco do Rio Grande do Norte. No lado de cá da praça, tem um mercearia que depois foi um jornal do major Theodorico Bezerra. O interessante era que, naquele tempo, os postes de iluminação cedia lugar às calçadas, como este que fica em frente à mercearia, naquele tempo chamada de bodega. As árvores frondosas continuavam em seu estado natural. Essa foto foi tirada de cima da Igreja do Bom Jesus. Nota-se na avenida Tavares de Lira, a estação telefônica com uma abóbada de ferro logo acima do prédio que era apenas uma casa. Essa casa ficava onde hoje é uma casa de comércio, entre a Rua das Virgens e a Rua Dr. Barata. Como o trexo é pequeno, logo se sabe onde ficava a Central Telefônica que teve início no bairro da Ribeira. Tempos depois, a Estação foi montada na rua 13 de Maio que depois ficou sendo chamada rua Princesa Isabel. Essa mesma rua, no seu inicio de povoamento era conhecida por Rua dos Tocos. O nome é "tócos" mesmo. Vendo essa foto, eu me recordo de um jovem homem de seus 50 anos conhecido por Zé Areias. Seu nome completo era José Antônio Areias Filho. Ele nasceu nesse bairro, em uma rua sem nome e que passou a se chamar Esplanada Silva Jardim. Ele nasceue cresceu ali perto da casa de João Café Filho, o presidente da República, no ano de 1954, depois do falecimento de Getulio Vargas, que era o presidente da Republica até o dia de sua morte, a 24 de agosto daquele ano. João Café era seu vice. Com a morte de Getulio, ele assumiu o poder. Para bem recordar, existe em Natal um edificio como o nome de Café Filho. É aquele que abriga as dependencias do INSS, antigamente IPASE. Mas, deixando essas parcas memorias de lado, é bom lembrar que Zé Areias nasceu em uma rua e João Café, na outra, na rua do Triunfo que, tempos depois passou a ser a Rua 15 de Novembro, quando ficou bem mais conhecida, por ter ali a tradicional "ZONA". Zona, para quem não sabe, é o lugar onde as "mulheres da vida" fazem ou faziam a noite. Ao se passar por alí, quando ainda a rua era uma "zona", as mocinhas que regressavam às suas residências, nas Rocas, baixavam a cabeça e não deixavam de trocar o sorriso malicioso. As mocinhas cobertas por suas mães e algumas, por seus irmãos, regressavam do terço de maio ou mesmo da missa dominical na Igreja do Bom Jesus.. Isso é outra história. Como eu estava falando, essa foto me lembra Zé Areias, pois ele viveu nesse bairro por longos e imortais tempos. Do Bonde, era o "morcego" que ele sempre fazia. "Morcego" é pegar o Bonde e não pagar. Ele lembrava quantas vezes fez isso, em companhia de Café Filho. e de muitos outros arteiros meninos que procuram uma forma de lazer. E pegar o bonde na carreira, era o que mais os garotos gostavam de fazer. Tempos depois, Café Filho se meteu com o estudo, chegando até exercer a função de advogado antes mesmo de se formar. Zé Areias aprendeu a fazer barba. Por isso, ele era barbeiro, coisa que deixou por volta de 1950, pois barba não dava dinheiro. Mesmo assim, com dinheiro ou sem dinheiro, Zé Areias bateu o mundo e o fundo, chegando a ir ao Senegal e depois, muito tempo depois, pelos idos de 1954, baté à porta do Catete. Foi procurar seu colega de infancia, João Café. Teve ali, com ele, mas não obteve e que pensava ter. Café, lá pras tantas, disse a Zé que estava assumindo o poder naquele instante e o que podia oferecer a seu amigo era um emprego na borracha.Zé Areias fez um "pluts", como costumava fazer, com suas bochecas ronchechudas e disse de volta; "Café, quem gosta de tirar leite de pau é buceta". E isso, saiu. Ah Ribeira de meus sonhos, de Zé de Areias, de João Café, que um dia se fantasiou de "mulher" e se mandou para Pernambuco, para não ser preso aqui, por questões políticas. Ribeira de então, onde durante muito tempo só se trasitava para a Cidade Alta, passando por uns troncos armados no meio de um alagadiço que havia ali perto da Estação do Trem. Você sabe que Luis da Camara Cascudo nasceu na velha Ribeira?

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