quinta-feira, 13 de novembro de 2008

RIBEIRA - 182

RACHEL GENOFRE
A morte da menina Rachel Genofre, de 9 anos, e a onda de crimes sexuais contra crianças noticiada em seguida no Paraná chocaram a população do estado. Ainda mais chocante, porém, talvez seja saber que essa é apenas a ponta do iceberg - estatísticas oficiais mostram que abusos sexuais contra menores de idade são muito mais comuns do que qualquer noticiário possa fazer supor. Só em Curitiba, o número de agressões registradas chega a mais de 500 por ano. É o equivalente a uma criança vítima de abuso a cada 16 horas. Mais de um crime por dia. Levando em conta todo o estado do Paraná, o intervalo cai para apenas seis horas. No total, todos os anos, cerca de 1.5 mil crianças sofrem com este tipo de agressão no Paraná. Os dados da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação de Risco em Curitiba e do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência. E a situação pode ser ainda bem pior: de acordo com a psicóloga e técnica da Coordenação de Ações Preventivas da Secretaria de Estado da Criança e da Juventude, Ticyana Paula Begnini, estudos mostram que para cada notificação recebida existem outras vinte ocorrencias que não são registradas. O fato de a violação acontecer, na maior parte dos casos, dentro de casa é um fator preponderante para a falta de registro preciso. Conforme Ticyana Begnini, em 87% dos casos de violência, inclusive sexual, o agressor é da família ou alguém de confiança. "A criança tem medo de falar, ou por se sentir co-responsável, ou por sofrer ameaças. A criança tem dependência do julgamento moral do adulto, ela não tem como avaliar a situação, por isso é necessário ter sempre uma conversa franca com ela e dar condições para que ela fale do que está ocorrendo", afirmou Ticyana Begnini. Para a coordenadora de Proteção Social Especial de Média Complexidade da Fundação de Ação Social, Marisa Mendes de Souza, o diálogo com a criança é uma ferramenta importante. "É importante ouvir a criança e acreditar nela.. O adulto tem de oferecer ajuda", afirma Marisa Mendes. A preocupação de Marisa se explica - é comum que em casos de violência sexual exista a conivência de outros familiares. "O agressor, normalmente, é o pai ou o padrasto. E a mãe é conivente", diz a pesquisadora da UFPR, Arací Asineli da Luz, especialista em questôes de infãncia e adolescência. "A mulher diz acreditar que precisa daquele companheiro. Temos casos de mães que abandonam os filhos que foram abusados para ficar com o companheiro", relatou Arací da Luz. E ressalta porém que, hoje, os casos de violência sexual têm vindo mais a tona. "Aquilo que estava escondido tem vindo à tona. E até mesmo tem se somado a casos barbaros, que não representam questôes dométicas." enfatizou Araci da Luz. Para a pesquisadora, os últimos casos de violência sexual ocorridos no Paraná demonstram o perfil de nossa sociedade. "Antes de mostrar um individuo doente, temos uma sociedade doente que gera esse tipo de sujeito (agressor). Eles não surgem do nada. O que existe é a oficialização da violencia sexual, com o agravante que a criança, além de ser abusada, é morta", enfatiza Arací da Luz. A onda de violência sexual contra crianças é explicada por Araci também pelo efeito midiático. Estes individuos se sentem invisiveis. Quando ha divulgação de um caso, eles buscam visibilidade, sentem-se estimulados. Uma menina de 10 anos moradora no noroeste do Paraná, está grávida de cinco meses. O pai do bebê, segundo ela, seria o padastro da criança, que estaria abusando sexualmente dela há dois anos. O caso foi descoberto na última sexta-feira, quando a diretora do colégio onde a menina estuda desconfiou da gravidez, e a levou para ser examinada em um posto de saúde. De acordo com a polícia, a menina conta que era abusada quase todos os dias, desde os oito anos, nos momentos em que a mãe não estava em casa. Ela afirma que não contava nada, pois o homem a ameaçava de morte.

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