terça-feira, 8 de setembro de 2009

RIBEIRA - 399

PROSTITUIÇÃO
A crise econômica obrigou a brasileira M.S.M.A., de 28 anos, a retomar uma atividade que a fez viver "o inferno nesta terra": a prostituição. Após trocar Goiânia por Madri, livrar-se de uma quadrilha de cafetões e conseguir trabalho de manicure, a falta de dinheiro a levou a um beco com poucas saídas e ela acabou voltando a se prostituir. "Não foi escolha, foi sobrevivência", desabafa. Imigrante ilegal na Europa, M.S., que prefere o pseudônimo de Elsa, chegou à Espanha em 2005 com a ajuda de uma quadrilha sabendo que iria exercer a prostituição. O que não sabia era que estaria em regime de semi-escravidão, vigiada 24 horas ao dia e com ameaças de morte.
FUGA
Em 2007, ela fugiu com a ajuda de um cliente e recebeu ajuda psicológica na ONG Apramp (Associação para Prevenção, Reinserção e Atenção à Mulher Prostituída), que a ajudou a encontrar um trabalho como manicure e cabeleireira em um salão. Mas em fevereiro o sonho da reabilitação acabou. "O salão fechou. Eu, sem documentação, não tinha muita chance de trabalhar. Fiz o que pude, mas sem licença de trabalho, acabei voltando à prostituição", disse Elsa. A mulher se emociona ao contar por que tomou uma decisão que ela define como "um passo de caranguejo". "Não vou mentir e fingir que virei santa, porque quando aceitei vir para cá, já sabia o que tinha pela frente, Vivi o inferno nesta terra", diz. "No começo fiquei 15 dias sem trabalhar (para a quadrilha) porque só chorava e pedia para voltar para o Brasil. Nenhum cliente queria ir comigo por isso. Aí ameaçaram me matar e matar a minha família. Foi tão horrivel que depois daquilo perdi o medo, a dignidade, perdi tudo", relata. Depois de largar a prostituição, sobre a qual a família em Goiânia nunca ficou sabendo, Elsa achava que tinha fechado um capítulo em sua vida, até ser surpreendida pela crise.
SONHO
Para ela, os 950 euros (cerca de R$ 2.500) mensais por doze horas de trabalho, seis dias por semana, num salão modesto da capital espanhola, valiam mais a pena do que o salário minimo de secretária no Brasil. "Todo imigrante vem com o sonho de ter uma casa, um carro, ajudar os pais. Voltar sem ter conseguido nada é duro também para a família que ficou lá esperando muitas coisas", justificou. Elsa, que pertence a uma família de evangélicos, e não esteve no Brasil desde que imigrou, sonha com o retorno quando puder ter recursos financeiros para comprar um imóvel e ajudar o pai a ter seu próprio negócio. Prostituindo-se numa casa em um bairro nobre de Madri com outras onze mulheres imigrantes, ela consegue em torno de 700 euros por semana. Poderia ganhar mais trabalhando por conta própria nas ruas, mas tem medo das batidas policiais ordenadas pelo governo municipal, que considera a prostituição um "ataque à dignidade da mulher", como descreveu a diretora geral de Igualdade da Prefeitura de Madri, Asuncion Miúra.
Deportação
A lei espanhola permite a prática da prostituição, mas criminaliza a exploração de mulheres e a estadiade imigrantes ilegais. Por isso, se fosse pega na rua, a deportação de Elsa seria imediata. "Uma política repressiva, absurda e ridicula", disse Cristina Garaizábal, diretora da ONG Hetaira, que defende os direitos das prostitutas e afirma que apenas 5% das mulheresque praticam a prostituição na Espanha estão controladas por máfias. Para a ONG, mulheres como Elsa estariam em melhores condições se pudessem ter garantias trabalhistas. "Ela agora poderia estar recebendo seguro desemprego em lugar de ter de voltar à prostituição se não quisesse", afirmou Garaizábal. Para a brasileira, o sonho da carteira assinada é uma utopia. A maior preocupação é ficar marcada para sempre por ter escolhido uma forma de ganhar vida."O pior nem é o sexo. O pior agora é a sensação de fracasso, sabe? Eu sei que vou sair disso, mas essa mancha nunca vai desaparecer da minha vida. Espero ganhar o suficiente para voltar para o Brasil, começar uma vida nova, mas sei que isso não vai dar para apagar", observa Elsa.
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