domingo, 27 de setembro de 2009

RIBEIRA - 418

- JEANNE MOREAU -
Mais de duzentas pessoas trocaram uma manhã de sol com todas as possibilidades de praia para assistir a uma conversa com Jeanne Moreau no Cine Odeon, centro do Rio. A renomada atriz de "Os Amantes" e "Jules e Jim", de 81 anos, chegou pontualmente às 11h, de braços dados com Cacá Diegues, diretor do único filme brasileiro de Jeanne, "Joanna Francesa", (1973). Aplaudida de pé, Moreau ouviu dezenas de elogios, de Cacá e de outros presentes, entre eles, Odete Lara - que protagonizou um dos momentos mais emocionantes do encontro. A atriz brasileira, de 80 anos, intérprete de filmes emblemáticos do cinema brasileiro - como "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha -, depois de declarar igualmente sua admiração pela colega, perguntou-lhe quais as diferenças que encontrou entre o Brasil que viu há 36 anos atrás e agora. Jeanne fez questão de agradecer a Odete: "Estou muito tocada que a senhora tenha vindo aquí. A energia que reencontrei, de pessoas como a senhora e Cacá e tantos outros com quem falei, é uma das melhores coisas de estar aquí". Em seguida, respondeu: "Cheguei à noite, mas pude notar que não existe mais uma estradinha que havia à beira-mar. Há muitos prédios altos escondendo a paisagem". Mas acrescentou: "Não sou nostálgica".
Ela comprovou a afirmação quando um dos espectadores lhe perguntou qual o filme preferido, entre o tantos que fez. "O filme preferido é sempre o próximo. A gente tem que olhar para a frente". Da mesma forma, quando outro espectador, falando da Nouvelle Vague e do Cinema Novo, lhe perguntou o que faltava para que ocorresse uma mesma onda de renovação no cinema atual, ela cortou; "Mas você está muito bem situado para ver onde está a criatividade, aqui no Brasil, onde foi feito "Cidade de Deus" e Cacá Diegues está refazendo "Cinco Vezes Favela". Jeanne, inclusive, vai visitar o grupo Nós do Morro, no Vidigal, envolvido neste projeto de Cacá, o que foi um de seus pedidos expressos nesta viagem. A pergunta de outro espectador, sobre se ela ainda cantava - como fez nos filmes "Jules e Jim", de François Truffaut, e também em "Joanna Francesa", interpretando canção de Chico Buarque de Holanda - deu oportunidade a que a atriz revelasse um novo projeto. Ao lado do cantor pop francês Étienne Daho, ela contou que se prepara para cantar composições inspiradas em Jean Genet. A previsão do lançamento é em meados de 2010.
A 11ª edição do Festival do Rio começou, oficialmente, debaixo de uma garoa irritante, na noite de quinta-feira. Parte da demora foi causada pela grande homenageada, a atriz Jeanne Moreau. Com um ollhar firme e um discurso terno e direto, ela subiu ao palco e relembrou seu trabalho com Diegues em "Joanna Francesa", rodado em 1973.
Jeanne Moreau passou um pouco de sua experiência ao público em debate na manhã deste sábado (26/09) no Festival do Rio. Aos 81 anos, manteve-se disposta por cerca de uma hora e meia. Sempre com um olhar firme e agitando os braços ao falar. Determinação que mostrou ao responder que sabia, ao fazer "Ascensor Para o Cadafalso" (1957), que estava no epicentro de um furacão que desembocaria na Nouvelle Vague, o movimento rebelde que rompeu com a caretice de cinema francês entre o pós-Segunda Guerra e o final dos anos 50. Alguns anos após, tendo conhecido François Truffaut nesse período, no Festival de Cannes, foi a vez de em 1962 lançar "Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois", que se tornou um símbolo do movimento da nova onda. Em "A Noite", feito em 1961, dirigido por Michelangelo Antonioni. ele setiu um novo impulso para o cinema. Para ela, interpretar possibilita entender personalidades além da sua. E mostra quão vil são as pessoas. Ela não é nostálgica e não coloca a Nouvelle Vague em um pedestal inalcançavel. Privilegia os novos talentos e diretores e não deixa de repetir que o teatro clássico é sua formação. Disse ela, que, no seu começo como atriz, em 1938, os diretores procuravam um rosto bonito. Ela era esse "rosto". Então foi fundo para extrair o que eles se impressiovam. Duas vezes aplaudida, na entrada e na saída do Cine Odeon, Jeanno Moreau repetiu simpáticos "obrigado" aos seus admiradores.
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