terça-feira, 29 de setembro de 2009

RIBEIRA - 420

- CHINA -
Em Pequim, policiais abrem uma enorme bandeira nacional
para celebrar os 60 anos da República Popular da China.
É uma cidade encaixada em um estreito vale que não teria nada de notável, não fosse por uma velha ponte sobre o rio Dadu. Antigamente ela marcava a fronteira entre o mundo chinês Han e o território tibetano. A oeste, um templo budista deu origem a um pagode de vários andares na encosta de uma colina, a leste uma cidade moderna nasceu no pé de uma montanha. A ponte foi construida sob a dinastia da Manchúria. É uma obra modesta e suspensa, feita de correntes e de tábuas, como não se faz mais. Mas não foi sua estética que a tornou famosa na China: o local foi palco de um dos episódios mais gloriosos da Grande Marcha dos soldados maoístas (Mao Tsé- tung) forçados a recuar para o norte, pelas alturas tibetanas, depois de terem sido expulsos do sul da China pelas tropas nacionalistas de Chiang Kai-shek.
Gloriosos? Pelo menos é o que repete sem parar a propaganda do regime pequinês: uma heroica batalha teve lugar aqui, em 29 de maio de 1935, com os "vermelhos" tomando a ponte, o lugar estratégico em seu itinerário. A história é certamente muito diferente da versão repetida pelos textos oficiais e exaltada no Museu de Luding, onde o público, com a ajuda de afrescos, pode admirar o heroismo dos comandos do exército popular: 74 anos mais tarde, ainda não se sabe toda a verdade sobre os mistérios da ponte de Luding.
Se acreditarmos na propaganda, nesse dia de primavera de 1935 um grupo de 22 homens atravessou a construção sob uma saraivada de balas disparadas pelos soldados nacionalistas. Em certo momento, esses últimos tentaram colocar fogo das tábuas. Mas, levados por uma indomável coragem, os soldados de Mao Tsé-tung - que havia permanecido à beira do rio - conseguiram se agarrar às correntes e lançar granadas no campo adversário. Milagrosamente, nenhum inimigo foi atingido. No Museu de Luding, 22 lápides, algumas sem nome, marcam a lembrança de seu valoroso avanço, sem o qual a Grande Marcha teria sido mais curta.
Essa não é a opinião de todos os historiadores; alguns acreditam que a batalha não se deu dessa forma, que ela teve grande intensidade, e que do outro lado da ponte, tropas nacionalistas eram, na verdade, somente soldados perdidos de um senhor de guerra local, que os "vermelhos' engoliram. Tem historiadores que dizem que a batalha da ponte não aconteceu. Na semana passada, no vilarejo pobre que se estende ao longo do rio na margem oeste se encontra uma testemunha ocular da batalha. Com o olho esquerdo atingido por glaucoma, a dicção um pouco cansada e o sotaque forte de Sichuan, a velha senhora Li Guoxiu, de 91 anos, parecia, apesar de tudo, ter guardado uma lembrança viva dos acontecimentos: "Eu tinha 17 anos naquele dia", ela começou a contar, mordiscando nozes frescas no sofá de seu barraco. "Eu me lembro de todos esses soldados que passavam, eram jovens, armados com fuzis, mas também paus e sabres." E ouvi uma batalha que durou sete dias e sete noites", finalizou Li Guoxiu. A mulher guarda ordens das autoridades centrais de nunca dizer o que viu ou ouviu. O que a mulher declara é absoluto segredo. A propaganda diz justamente o contrario do que Li Guoxiu afirmou.
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