terça-feira, 3 de junho de 2008

RIBEIRA - IX



Viver na Ribeira era o mesmo que sonhar acordado. O certo era que no bairro havia de tudo um pouco. Da farinha de trigo trazida pelos navios mercantes aos deliciosos bom-bocado, bolos que se encontrava em quase todas as casas de lanches que abundavam naquele local de ébrios e sacerdotes. Quando o garoto foi trabalhar no bairro da Ribeira jamais pensou em encontrar um mundo tão estranho como nunca tivera a ocasião de admirar. Gente muita estava ali naquele recanto de estranha atracão. Os Bancos ou casas de créditos, esses haviam naquele local e na hora de movimento, nos dias de semanas, eram todos cheios de gente buscando sacar dinheiro ou mesmo depositar em sua conta.

Certo dia, o garoto foi mandado por seu tio a fazer um depósito de um titulo em uma agência bancária do bairro. Nesse tempo, como ainda hoje acontece em certos Bancos, as Casas de Crédito abriam logo cedo do dia, por volta das 9 horas. O Banco era o mais importante do país já naquele tempo. Só tinha uma agência em Natal. Era o Banco do Brasil. O garoto foi depressa à agência que ficava em um prédio localizado entre a rua Duque de Caxias e a Rua 15 de Novembro. Isso, foi antes de ser inaugurada a agência da rua Duque de Caxias. A definitiva, até hoje. Gente, tinha demais. A pessoa entrava por uma porta de ferro e se deslocava até um balcão feito de madeira. Ali, ele viu uma quantidade de gente a trabalhar. Para o garoto, ir a uma agência do Banco do Brasil já era uma surpresa e tanto.

Com certeza o garoto já estava acostumado em ir a Bancos, como a Caixa Rural. o Bandern e mesmo ao Bancaldo. Porém, era a primeira vez que ele estava a fazer um mandado no Banco do Brasil, coisa que lhe deu uma arrepio na espinha. Antes de chegar ao BB, ele passou pela rua 15 de Novembro, correndo, segurando o dinheiro no bolso de sua camisa. A rua era chamada de rua das putas porque havia muitas mulheres em casas de certo modo, bem feitas. O fato de ser 9 horas da manhã não lhe incomodava muito pois ele acreditava que aquela hora as mulheres estariam dormindo. Ou então, nem pensava em nada.

Mas o que aconteceu lhe causou surpresa. Duas mulheres estavam sentadas na porta de entrada da casa onde moravam, provavelmente. E uma delas, de repente abordou o garoto, chamando para entrar e fazer algo que ele teve medo. Sem contar conversa. o garoto escapuliu e fez carreira, entrando no Banco, com o coração batendo forte, igual a um tambor. Nunca alguém lhe metera tanto medo na vida. O certo, é que o garoto nem gravou a fisionomia da meretriz. Quando ele estava na agência bancária, alguém lhe tocou o ombro. De imediato ele se voltou, só pensando na mulher que tentara lhe seduzir. Mas não era ela, e sim, um homem.

O garoto, que estava escorado no balcão do caixa, entre todas as outras pessoas que se aglomeravam no local, ou do homem essa recomendação:

- Garoto! Se afaste daí! Sabe por que? Isso é um caixa! E se alguém, no momento que receber o dinheiro e achar por falta de alguma cédula, você evita de levar a culpa. Por isso, se afaste do balcão.

O garoto, de imediato obedeceu ao que lhe disse o homem. Ele nunca mais se encostou perto do Caixa de um Banco e sempre lembrava aquilo que o homem lhe dissera. A partir de então, o garoto procurou guardar a fisionomia do cidadão que lhe deu uma aula de sabedoria. O tempo passou e nunca mais ele teve oportunidade de conversar com o cidadão. Um dia, um rapaz, seu companheiro, ao saber dessa história, lhe disse que aquele homem era o pai de sua esposa. Quanto tempo se passou essa aventura, um já homem feito não podia mais se lembrar. Somente que esse velho senhor, um dia morrera e o menino nunca teve oportunidade de lhe agradecer o bom conselho.

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