segunda-feira, 2 de junho de 2008

RIBEIRA - VIII


Em certo dia, o garoto estava no escritório do seu tio Zeca, ouvindo conversa que trocavam os homens que estavam lá já há algum tempo. Eram eles Zé Areias, Rapa-Coco e um outro que lia os jornais, como fazia todos os dias, antes de ir para o trabalho. Seu nome era Gastão. Homem de pele clara, bem clara mesmo. Branca, para melhor dizer. O seu vestir era um paletó branco, calça e camisa também brancas e uma gravata para destoar com a alvura de todo o branco que o homem vestia: de cor azul ou cinza, parece. De conversa em conversa, Zé Areia lembrou de uma história ocorrida na Ribeira. Uma tatajuba. Ou tatajubeira, como era mais conhecida.

O pé de tatajuba ficava numa feira que só servia café com bolo, tapioca, cuscuz, macaxeira cozida e pão bem quentinho feito em uma padaria que ficava em frente a feira. Para se ter uma idéia, a tal feira que só vendia café, logo cedo da manhã ficava da rua Frei Miguelinho, esquina com a Ferreira Chaves. Mesmo na esquina. Do lado que havia a feira não tinha nada. Prédiu nenhum. Do outro lado, confrontando com a feira havia uma loja de ferragens. Pelo lado direito da rua Frei Miguelinho, tinha o Beco da Quarentena, famoso Beco de tanto desamor. Logo adiante ficava um prédio meio alto que era a padaria Palmas. Alí, tinha pão o dia todo. Os vendedores de pães, bolachas, biscoitos, brotes e outras coisas, apanhavam seus carregamentos logo cedo para levar aos moradores da Ribeira, Rocas e parte da Cidade Alta.

Nessa ocasião, por volta de 1930, juntavam-se rapazes e homens feitos também, para tomar seu café alí, em baixo da tatajuba, frondosa que deixava uma calma em todo o ambiente. As mulheres da "zona" também vinham saborear o café quentinho que era servido a todos e a qualquer um por um preço razoavel. Com certeza, o café saía de graça pois se cobrava mais pelo cuscuz, a tapióca, o beijú e tudo enfim. Era essa conversa que durava a manhã inteira no escritório, com Zé Areias gargalhando ao contar as passagens de cada um dos frequentadores.

A tatajuba é um pé frondoso que aqui em Natal já não existe mais. Os poucos que haviam foram pondo ao chão pela ação do machado. De arvores antigas, a tatajuba só existe para os lados do Para e Amazonas.Aqui, por esses lados, já não existe mais. E Zé Areia falava com pesar da morte de tal frontosa árvores, posta ao chão pela necessidade de se construir um novo prédio. Foi o que se deu naquele local. Com a morte da tatajuba também acabou-se a feira e o café saboroso que se vendia no local. Restava apenas a Padaria Palmas, por alguns anos ainda. Depois também a padaria acabou. Restou apenas a lembrança. Hoje, dizia Areias, não mais ninguém para recordar os velhos e famos tempos que já passaram.

Era bem certo o que Areias dizia, naquele tempo. Mas que palavras, ele abria um leque para o futuro, pois o tempo se ía e tudo que ele viveu, já nao restava mais. O homem. esse ser do seu presente, poria ao chão tudo o que ainda sobrava para dar lugar as casas de comércios que também passariam seu tempo para morrer, um dia. Quem sabe, um dia, pensando no que dizia Zé Areias o homem não tenha misericória de si mesmo.

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