quinta-feira, 26 de junho de 2008

RIBEIRA - XXVIII

Postes do Telégrafo




No ano de 1954 chegou ao escritório de José Leandro o seu sobrinho, Jubal Fernandes, todo bem arrumado, com a roupa dos Correios, calça, blusão e quepe, sem falar nos sapatos e foi logo pedindo a benção do seu tio, colocando em cima do galpão que separava o escritorio em dois compartimentos. Chegou e foi logo dizendo para o garoto que estava trabalhando já há dois anos, tentando aprender cada vez mais o que havia de fazer.

- Vim dizer que nos Correios tem vagas para estafeta. É preciso ir lá. Sendo menor. Vai com seu pai e procura dona Maria, assistente da Diretoria. - disse ele ao garoto, já com seus 15 anos.

Para o garoto foi noticia feliz. Ele pediu permissão ao seu tio de poder ir aos Correios, naquele dia, à tarde. Teve a permissão e não contou conversa. Agradeceu ao seu primo e de tarde, em companhia do seu pai, o garoto estava na Agencia dos Correios para falar com dona Maria, assistente da Diretoria. Tudo deu certo e, no outro dia, o garoto já estava nos Correios para desempenhar a sua nova função de estafeta que era o memo aquele de entregar telegrama.

O tempo era dividido em turnos: de manhã, em um dia; de tarde, em outro;e a noite, em um terceiro para recomeçar tudo outra vez no dia seguinte. No começo do seu oficio, o garoto foi com um outro, já experiente, entregar os telegramas. O nome do seu colega era Arnaldo. E tinha também varios garotos, todos quase da mesma idade. O garoto olhava, cismado, aqueles rapazes temendo que alguns ficassem em seu lugar, com certeza. Porém não tinha nada que temer. Os telegramas chegavam a todo instante, recebidos por homens em uma máquina que ele aprendeu se chamar "Morse". Com sua idade juvenil, de imediato ele era um rapaz. Do emprego no escritório do seu tio, ele já nem se lembrava mais. Vez por outra, pela manhã, o garoto se encontrava com Jubal, seu primo, que sempre perguntava:

- Então? Como vai o serviço? - perguntava Jubal.

- Vai bem! - respondia o garoto.

- É assim. Você vai aprender logo. - disse Jubal.

O garoto sorriu. Havia uma diferença: Jubal recebia suas correspondencias no andar de baixo, numa porta que estava já no fim do prédio dos Correios. Em contra-partida, o garoto trabalhava no andar de cima, por isso, tendo que subir a escada de acesso quando chegava para o trabalho. Com esses atropelos, mesmo assim, ele nem sentia a diferença. Faz logo amizades e tinha um outro estafeta de nome Ely Aguiar, que se mostro bom amigo e tendo saído por várias vezes com o garoto para fazer a entrega de telegramas. Nos Correios, um prédio existente na rua Hildebrando de Gois, na Ribeira, onde tinha a caixa-postal. o garoto aprendeu muito, em termos de telegrama ou de cartas simples, cartas maritimas, e até mesmo telegramas ou cartas pelo CAN - Correio Aéreo Nacional - que saía às quartas-feiras, em um avião Búfalo da FAB.

Um detalhe a mais era a palavra - Telegrama. No Brasil, tinha repartição e escritórios que usavam esse termo - Telegramas - . Nesse caso, um telegrama vindo com a indicação de SATÉLITE era para ser entregue direto no Banco do Brasil. Por lá havia também um endereço que se chamava ZELEANDRO. Era o do seu tio. Outras casas de comércio, Bancos e afins tinham também seus Telegramas. O Telegrama sem fios era a denominação europeia para as comunicações por ondas electromagnéticas em "Codigo Morse". Na América, essa expressão foi usada até 1910. Depois dessa data a designação oficial passou a ser simplesmente rádio. A Marinha de Guerra dos Estados Unidos determinou inclusive que fosse usada a palavra Rádio em vez de Wireless nas comunicações oficiais a partir de 1912.

O garoto esteve nessa profissão de estafeta durante somente três meses quando a União suspendeu a remessa do numerario para a Agencia de Natal cobrir o soldo que teria de pagar aos demais garotos. No entanto, alguns ficaram na Agencia e teve muitos que chegaram a funções de carteiros ou mesmo de outras atividades. No Correio, o garoto aprendeu que trabalhar era muito mais que fazer um mandado. Certa vez, indo à noite para a praia de Areia Preta, ele procurava um endereço de uma mulher chamada por Maria Piano de Pau. Ao chegar a residencia exposta, procurou entrega o telegrama mas ninguem conhecia essa pessoa.

- Piano de Pau?! Não mora aqui, não!!! - disse alguem entre inúmeros sorrisos de outras mocinhas. Até que alguém se lembrou e disse:

- Piano de Pau? É Maria! No interior, ela é conhecida por esse nome, gente!!!

Todos cairam na risada e chamaram Maria para receber e assinar o telegrama destinado a ela. Isso, era umas 9 horas da noite. O caso ficou registrado na memoria do garoto, com certeza. Outros casos pitorescos também lhe trouxeram imaginaveis recordações, como a de um homem que foi receber o telegrama, durante à noite, em uma casa, na rua Belo Horizonte, com uma enorme faca-peixeira na mão. O garoto quase morre de medo. Mesmo assim, pediu para que homem assinasse o recibo. O homem se recusou e o garoto colocou nas costas do recibo: Nao Sabe Ler".

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