terça-feira, 10 de junho de 2008

RIBEIRA - XII


Certa vez, pela manhã, por volta das 9 horas, José Leandro mandou que o garoto fosse fazer a cobrança dos alugueis dos quartos que ele alugava aos mais pobres. Os quartos ficavam na travessa Belo Horizonte próximo a rua do mesmo nome, já no começo da rua. Para fazer o serviço, José Leandro ensinou ao garoto como se chegava até o local. O garoto já sabia muito bem. Sabia até de um pé de Tatajuba que encontrava no meio de um beco que dava entre a rua do Areal e a rua Belo Horizonte.. A tatajubeira ficava bem no meio do beco que nem nome tinha. E lá se foi o garoto com uma recomendação de cobra a todos que moravam nos oito quartos existentes na casa, de modo especial a Zé Areais que morava no primeiro quarto da vila.

Da Ribeira para as Rocas, o garoto levava um bom tempo, pois era uma caminhada e tanto. Mesmo assim, lá foi o garoto pegando a rua mais próxima que havia - General Glicério - até chegar ao ponto em referencia. Ao chegar na vila da travessa Belo Horizonte, ele bateu forte na porta serrada ao meio até que alguém de dentro perguntou:

- Quem é!!! - voz de quem perguntou.

E o garoto, sem meias palavras, respondeu:

- Cobrança do aluguel. !! - voz do garoto

A voz calou e após um bom pedaço de tempo apareceu entre a meia porta quase aberta a figura de Zé Areias, despido da cintura para cima, um bucho grande, cor pálida, olhos meio fechados, barba por fazer, cabelos assanhados de quem dormia até aquela hora. Tão logo abriu a meia porta, de modo entreaberta, o garoto enfiou a mão com o recibo do aluguel para que o homem pudesse pagar a conta que devia. Porém, pegando o recibo e devolvendo ao garoto, Zé Areias disse apenas isso:

- Ora! Diga a Zé Leandro que já paguei o aluguel, ontem mesmo. Mandei o dinheiro pelo "avalista". - voz de Ze Areias.

Disse isso e fechou a porta. O garoto continuou com o seu trabalho de cobrador, batendo em todos os outros quartos e de todos recebendo um "só pago no final da semana". Missão cumprida e o garoto voltou ao escritório na rua Dr. Barata, no edifícil d'A ORDEM. Ao chegar lá, foi inquirido por seu tio, com sua vez altiva, o rosto redondo, olhos esbugalhados, os óculos para ver melhor, pança aloprada e tudo mais que fazia de Zé Leandro um senhor do comércio:

- Recebeu?! - perguntou Zé Leandro.

- Não, senhor. - respondeu o garoto. E disse mais:

- ...Somente Zé Areias que falou ter mandado o dinheiro desde ontem pelo seu fiador. - respondeu o garoto.

E José Leandro, a receber a noticia, disse apenas.:

- Oooooora!! O fiador sou eu!! - com a cabeça entravada e baixando para refazer as contar.

Horas depois, Zé Areias apareceu no escritório, perguntando:

- Vamos ao Carneirinho? - voz de Areias.

O Carneirinho de Ouro era um bar frequentado por todos os habituais da Ribeira. O bar ficava no alto do Café Expresso, esquina da Dr. Barata com a Av Tavares de Lyra, em frente ao Armazém Potiguar. No seu interior tinha um bar repleto de bebidas e três mesas de bilhar onde a turma jogava em troca de uma cerveja ou coisa assim. O Bar vivia cheio de gente de boa postura e de linhagem diversa. Nessa ocasião, Zé Leandro apenas respondeu:

- Não! Hoje eu vou ao Lago Azul. Bebi demais, ontem. - disse Zé Leandro.

De cobrança, nem falou. E o garoto ficou ali, calado e espantado com o procedimento de seu tio. Era de se perguntar por que não falou em pagamento do aluguel? Afinal. era tudo que ele falou poucas horas antes. Cobrar de Zé Areias. Passado o tempo, ele recebeu órdens para fechar o escritório. Já era 11 horas do dia e Zé Leandro, acompanhado de Zé Areias, Rapa-Coco e o garoto, rumou para oLago Azul, um bar que ficava na rua Coronel Cascudo, em frente ao Armazém de Móveis de seu Zacarias, quase em frente à Loja de Jesse Freire. Por lá, ele ficou até doze e meia, com Rapa-Coco escorado na porta de entrada e o garoto esperando dentro do carro do seu tio, um veículo Mercury que toda vez que chegava a ladeira da Radio Poty, na av Deodoro. estancava, obrigando Zé Leandro a descer, fazendo a volta para ir pela a avenida Rio Branco, dizendo, sempre:

- Oooooora!!! Inda compro um carro que preste!!

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