domingo, 1 de junho de 2008

RIBEIRA - VI



O bairro da Ribeira era o de maior prestígio da Capital, com suas casas de comércio, lojas e armarinhos, livrarias e agências de jornais e revistas, casas de material de pesca, tipografia, cafés, restaurantes, ruas e vielas cheias de gente da manhã à noite. Estabelecimentos bancários, isso também tinha a Ribeira como havia repartições públicas estaduais e federais. Na Ribeira tinha de tudo. Era o mundo a seus pés. O Centro Náutico Potengí ou o Cais do Porto onde atracavam navios vindos do Brasil e de vários países do mundo, como até hoje se faz. Quando alguém precisava de um remédio, logo se dizia:

- Na Ribeira, tem. Vá na Ribeira. É la na Ribeira, - dizia o povo.

O Teatro era na Ribeira. Só na Ribeira. O Teatro "Carlos Gomes" durante muito tempo. Depois é se chamou "Alberto Maranhão". Os maiores e melhores espetáculos que se podia vê eram no Teatro "Carlos Gomes". Ali, somente se entrava de paletó e gravata, sendo homem. As mulheres trajavam os seus modelos mais chiques da época. E as crianças, quando eram levada para assistir um espetáculo, vestiam roupas finas, do mais puro linho ou mesmo de organdí, tropical e camisas bem ensaiadas. Se fosse um jovem, este vestia também um uniforme de domingo.
Quem passasse pelo Teatro ou seu lado, ficava a olhar extasiado por tanta beleza que ali se ostentava. Se de um lado ficavam dois hotéis de luxo, e uma Recebedoria de Rendas do outro, contudo era do seu lado que ficava imperando, de face para o sol da tarde, o Teatro "Carlos Gomes"
Sua construção datava do início do Século XX, pelos idos de 1904. Havia apresentações de Orquestras, exibições de fitas de cinema, poetas e cantores, os mais célebres, teatro, as mais doces artes que se podia assistir. Quando alguém dizia:
- Nós fomos, ontem, ao Teatro. - voz de alguém
Era uma chama de que alguma coisa estava a se apresentar na Capital. Somente a classe média-alta podia ter o poder de ir ao Teatro, pois a blebe, essa não tinha palavras nem para falar. Para a blebe armava-se espetáculos nos coretos das pracinhas onde peças eram encenadas e igualmente cantores sem qualquer brilho podia se apresentar. O Teatro era um TEATRO. Algo que não tinha par. Não raro, os artistas de se apresentavam naquela Casa elogiavam a acustica do local pois era rara em todo o Brasil.
O Teatro é monumento tombado pelo Patrimônio Histórico e Artistico do Rio Grande do Norte. Conserva linhas e elementos da arquitetura francesa do final do século 19, além de cerâmica belga como revestimento do piso de entrada e da platéia. Sua construção teve inicio em 1898 obedecendo planta do engenheiro José de Berredo, no Governo Ferreira Chaves, sob a direção do Major Theodósio Paiva.
Em 1910, o Teatro Carlos Gomes, como era chamado àquela época, conservava a forma de chalé, com 18,30 metros de largura por 78,60 de extensão, tendo três portas e uma escultura de Mathurin Morreau denominada "arte", encimando a fachada. No segundo governo de Alberto Maranhão, o Teatro sofreu nova reforma, ganhando um pavimento superior, portões e grades de ferro vindas da França, assim como os balcões e obras de arte na fachada. A Gran-Campañia Española de Zarzuela, Opera e Opereta Pablo Lopez reinaugurou o teatro do dia 19 de julho de 1912 com a ópera "Princesa dos Dólares" de Leo Fall. Em 1957 a Prefeitura de Natal mudou a sua denominação para Teatro Alberto Maranhão.
Enfim o Teatro não perdeu a sua gamorosidade resurgindo a cada passo como o mais nobre Teatro de Natal. Desafiando as cheias que a Ribeira sofre com as marés e a chuva, o teatro continua sua marcha incólume, para ostentar em sua história algo que nenhum teatro será capaz de sofrer com o tempo pelo menos em sua larga história de pouco mais de um século. Apesar de ser um patrimônio, o Teatro não sido procurado por turista que vem a Natal para ao menos tirar uma foto de sua fachada, tão bela e pura. Por varias vezes, o garoto parou naquele teatro para contemplar as suas estátuas. Em outras ocasiões, ele chegou a entrar naquele recinto sagrado.E teve a oportunidade de várias vezes a desempenhar peças em seu palco, algo solene para quem quer viver um pouco de sua magia.

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