sexta-feira, 13 de junho de 2008

RIBEIRA - XVI


A Ribeira foi e é o centro cultural de Natal, Rn. Nesse bairro nasceu a cidade, em 1599, apesar de ter sido fincado o marco de fundação na Cidade Alta, hoje praça André de Albuquerque. Naquele ermo local, onde só havia tocas de índios, a delegação de Portugal fincou o marco de fundação daquilo que seria a cidade. Naquele largo se pôs um pelourinho, demarcou-se a cidade e se providenciou a construção de uma tapera de palha que, com o passar do tempo, seria a antiga Catedral de Natal. Porém foi para além do rio, na entrada da barra, que houve de fato a construção, de pau a pique, de um fortim que se batizou de Fortaleza dos Reis Magos, pois sua construção aconteceu no dia 6 de janeiro de 1600, dia de Santos Reis. No forte ficavam abrigados os soldados do Império com todo a sua dispensa, munições e armas de fogo. Ali, nascia o Forte e para além, a Ribeira, com o passar do tempo. No começo houve muita luta com os índios que habitavam uma aldeia - a Aldeia Velha -, cujos nativos chamavam de Igapó.

Ao lado do forte, pelo lado do rio Potengi, não havia proteção qualquer. Era apenas uma espécie de praia. Quando a maré estava cheia, pela praia do Forte ficava represado um riacho que levava as águas das lagoas que se juntavam em círculos ao longo do que se chama hoje Praia do Forte. Quando a maré estava vazante, essa água descambava para o rio Potengí e, dali, para o oceano. Com a construção do Forte, abriu-se um buraco no chão da fortificação, e por esse buraco ou cavidade, sacudia-se os corpos de soldados que viessem a morrer naquele lúgubre pedaço de chão. Com a invasão dos holandeses, anos depois, se viu a importância da cavidade e os soldados mortos eram jogados alí mesmo para sair direto no oceano, em mar aberto, passando por baixo de um calçadão de pedra feito pela natureza.

O tempo passou e os soldados do Império rumavam para o cerco da Cidade, em busca de alguma coisa para comer, pois o dinheiro do pagamento aos praças demorava muito a chegar. No alto, eles trocavam por bugingangas aquilo que lhes serviam. E, vez por outra, tinham em uma índia a sua compensação para suprir as suas necessidades machistas. Isso, na Cidade, onde existia a capela feita de palha. E pelas andanças de vai-e-vem, os soldados foram criando com o tempo o costume de ir por um local que eles chamavam de ribeira, pois todo o setor era alagado pelas águas do rio Pontengi. No seu impulso o rio morria por perto do que hoje se chama av. Rio Branco. Uma ponte havia - e ainda hoje existe - no local para transpor as pessoas de um lado a outro da ribeira. Era uma ponte feita com troncos de coqueiros, igual a uma outra que se fez, também de troncos, na passagem das Rocas, na rua Hildebrando de Gois, hoje assim chamada a via Antes, era tudo mangue.

Contudo, o tempo seguiu. E a ribeira se fez nascer como um bairro: o bairro da Ribeira, seguindo o seu chamado de longas datas. Na Ribeira ficava, com o tempo, aquele centro cultural histórico da capital. Inúmeras ruelas atravancavam o bairro. A rua Dr. Barata tinha seu fim antes do que é hoje, caminhando-se pela rua Chile. Com o tempo se rasgou aquele trecho e a rua veio a ficar da Av. Tavares de Lyra (nome dado hoje). Falava-se em centro cultural porque alí havia a verdadeira cultura de uma cidade nascente. Já no século passado - século XX - a Ribeira mostrava que existia com a sua Rua do Comércio, hoje chamada de rua Chile, av, Tavares de Lira, rua Frei Miguelinho, Av. Duque de Caxias e, por fim, av Rio Branco e rua Almino Afonso.

O centro cultural da cidade, no século XX, ficava por conta do Teatro Carlos Gomes, o salão de bailes do Grande Hotel e, na década de 20, os carnavais que faziam a festa na Av. Tavares de Lira, onde as pessoas desfilavam em carros da época diante de olhares dos que ficavam nas calçadas. Além desse divertimento anual, havia o comércio, tanto na rua Chile como nas demais artérias do bairro, entre os quais rua Frei Miguelinho, Dr. Barata, Tavares de Lira e Duque de Caxias. Um bairro que nasceu ao longo do tempo trazendo todo o passado de glórias e amarguras para que ainda hoje poetas e trovadores decante a sua magia nostálgica.

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