quarta-feira, 25 de junho de 2008

RIBEIRA - XXVII

Av.Duque de Caxias, próxima a rua Frei Miguelinho.




Quem passa pela Ribeira, com certeza, deve ter passado pela rua Frei Miguelinho, uma rua que nasce na Esplanada Silva Jardim e segue até a av. Tavares de Lyra. A rua é curta como todas as outras artérias desse bairro. Curta e estreita, dando passagem a apenas dois veículos. As calçadas de um lado e de outro da rua, são estreitas. Estreitas, mesmo. Tem canto que não permite a passagem de nem duas pessoas. As casas são desiguais. Umas bem para dentro e outras para fora da rua. Nessa artéria, funcionou, lá pelos idos de 1920/30 uma tradicional feira que só vendia café. Era a feira, se é que se pode chamar assim, de Tatajuba ou Tatajubeira.. Tal feira ficava na confluência das ruas Frei Miguelinho e Ferreira Chaves.

É aí que se começa a falar em Frei Miguelinho. A rua tem esse nome porque em uma casa que existe no seu inicio, onde começa mesmo, nasceu o garoto Miguel de Almeida e Castro. Isso não tinha a menor importância se Miguel, quando rapaz, fosse se tornar Padre. Nascido no dia 17 de setembro de 1768, ele era filho do capitão Manoel Pinto de Castro, português, e D. Francisca Antonio Texeira. Miguel foi batizado a 3 de dezembro de 1768, na matriz da Apresentação, que fica na Cidade Alta. Onde Miguel nasceu, não havia rua na frente de sua casa. E nem havia o Cais do Porto e as casas que se ergueram, como a Alfandega e os Correios. Afinal, não havia nada, alí. E a casa em que Miguel nasceu era bem diferente do que é hoje, onde funciona uma repartição.

Natal, na Ribeira, era tomada por mangues, charcos, que vinha do rio Potengí. Na verdade, alí era ainda um riacho ou parte do rio Potengi. Para se chegar à Cidade Alta, vinha-se por um caminho estreito e se fosse tempo de maré cheia, quando o rio tomava conta de todo o lugar, circulava-se por outros caminhos, bem para dentro, até chegar a uma ponte estreita e curta existente onde hoje está a sua lembrança na Praça Augusto Severo. O bairro que nem era bairro, já começava a existir, assim mesmo, com as construções de casas à beira do Potengi.

Quando já era grande, com os seus 16 anos, Miguel foi morar no Recife. Em 1784, ele entrou para a Ordem Carmelita da Reforma, quando se tornou frei Miguel de São Bonifacio. Ele adotou esse nome em lembrança à sua avó materna que se chamava Bonifácia. E por tal razão, ficou conhecido como Frei Miguelinho. Acontece, porém, que indo para a Europa, em 1800, requereu do Papa Pio VII, a sua secularização. Ao retornar ao Brasil, já padre, a nova ordem confundiu muita gente, fazendo com que o sacerdote potiguar continuasse sendo chamado frei Miguelinho. Entretanto, o certo é chamá-lo de padre Miguelinho, por ter conseguido sua secularização. No ano de 1817 foi nomeado Mestre da Retórica do Seminário de Olinda. Em Recife, morou com sua irmã Clara de Castro.

Idealista, participou da Revolução Pernambucana de 1817, sendo preso em 21 de maio de 1817. Na noite anterior, juntamente com sua irmã Clara Castro, ficou queimando os papéis que incriminavam todos aqueles que tinham participado do movimento. Disse para a sua irmã: "Mana, nada de choro.Está órfã. Tenho enchido os meus dias, logo me vêm buscar para a morte. Entrego-me a vontade de Deus e nele te dou um pai que nem morre. Mas aproveitemos a noite e imita-me; ajuda-me a salvar a vida de milhares de desgraçados".

Preso, foi levado à Fortaleza das Cinco Pontas. Padre Miguelinho, juntamente com setenta e dois revolucionários, seguiu no brigue "Conosco" para Salvador. Desembarcou na capital da Bahia no dia 10 de junho. Durante o seu julgamento, perante uma comissão, o conde dos Arcos tentou ajudá-lo, perguntando se ele tinha inimigo, ao que o padre respondeu: "Não senhor. Nao são contrafeitas. As minhas firmas nesses papeis são todas autênticas.. Por sinal,em uma delas falta o "O" de Castro. Ficou pela metade por acabar porque faltou papel"

Frei Miguelinho foi condenado por crime de lesa-majestade e fuzilado no dia 12 de junho de 1817. Conforme Adauto da Camara, "os restos mortais do Padre Miguelinho foram inumados no antigo cemitério do Campo da Pólvora, reservados aos escravos, aos pobres e aos que padecessem da morte violenta".

Em 1912, quando foi criado um grupo escolar no Alecrim, por iniciativa de Cândido Medeiros e por indicação de Nestor Lima, o governador Alberto Maranhão deu à nova escola o nome do sacerdote norte-riograndense, Frei Miguelinho. Depois, bem mais tarde, quando o grupo se transformou em escola de primeiro e de segundo graus passou a se chamar Instituto Padre Miguelinho, corrigindo o erro inicial.

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