quarta-feira, 11 de junho de 2008

RIBEIRA - XIII


Natal foi fundada no dia 25 de dezembro de 1599. De lá para cá sofreu terríveis descompassos, como invasões estrangeiras, de franceses, holandeses, japoneses, alemães e até mesmo de portugueses que se achavam donos dessas terras. Ainda hoje se tem imigrantes que vivem aqui, fazem fortunas e se dizem donos das terras que eles ocupam. Há uma falta de Governo pois se tem dado as nossas coisas boas aos de fora e, para os daqui, sobram os pedaços miúdos que já não servem de coisa alguma. Este é o Brasil nordestino que na visão de sulistas é uma terra sem dono. Peixes para os que vem visitar e ficar na terra e espinhas para os que são nativos, os verdadeiros donos dessas terras cuja idade é de quase 410 anos, porém, se contar os silviculas, vai muito mais além desse tempo.

A praia de Areia Preta é um sinal disso tudo. No inicio do século XX, a praia era um deserto. O que havia eram casas de taipa ou de palha e, além disso, nada mais. Era uma praia de pescadores. Poucos pescadores, por sinal. Eles viviam da pesca e do mar, trazendo para a cidade - cidade? - aquilo que conseguiam apanhar no arrasto das ondas. Esses pescadores, ninguém sabe os seus nomes, descendência ou o que faziam de bom e de mal. Eles eram apenas "pescadores" e nada mais. Os casebres sofriam com as cheias do mar e a cada vez, os pescadores eram sempre empurrados para cima, para bem longe do mar, fonte de vida que eles teimavam em tirar um pouco do muito que esse oceano tinha e tem a oferecer.

Pelo que se sabe, Areia Preta era um pedaço de terra de pescadores nos primeiros anos do século XX. Porém, o progresso estava chegando. Haviam casas de morada - casebres - no Alto do Juruá, uma fatia de terra bem antes de Areia Preta. Foi ali que, em 1905 morou e morreu o padre João Maria, sacerdote de Natal, vitimado pela doença do diabete. Com certeza, no Alto do Juruá ja havia casas como também havia lá em baixo, na praia de Areia Preta. O tempo passou e chegou o ano de 1912, quando se instalou a linha de bonde para Petrópolis. Pela "rua" que o bonde seguia, mais tarde chamada de av Getulio Vargas, havia somente uma casa, no alto do morro. A Casa dos Ingleses, e nada mais. Na rua tinham os postes que conduziam os fios para dar a energia onde o bonde se sustentava. No chão, os trilhos desses veículos. Nesse tempo, poucas casas eram vistas na praia do Morcego ligada à praia do Meio.

Em 1920, o bonde seguia o seu caminho até a praia de Areia Preta, onde havia apenas casas de palha e de taipa. Um local que servia café para aqueles que faziam serestas era o local mais rico daquele recanto. O café ficava onde hoje é uma peixada, no cruzamento da Rua Dois de Novembro e a avenida Silvio Pedroza. Alí, o bonde voltava para a cidade, onde começava fazer o seu percurso novamente. No ano de 1935, nada havia além da praia de Areia Preta em direção ao morros que dava sustento para unas poucas casas de taipa. Com o tempo, já em 1960, alí passou e se chamar de Rua Guanabara, nome dado por um um Guarda da Febre Amarela - hoje, SUCAM - seu Orlando de tal. Um homem baixo, um pouco gordo, mas nem tanto. Ele vivia de trazer água de beber que apanhava nas caçimbas existentes em Areia Preta.

Como se dizia, no ano de 1935 a Areia Preta servia de refugiu para quem queria passar as férias na praia ainda deserta. E o ano se passou. Chega-se a 1940. Um pescador, certa vez, trouxe uma mulher e sua neta, vindo de Paraíba - que hoje de chama João Pessoa - para vir com ele morar em Natal. A mulher foi residir numa casa no alto do morro, onde hoje é o cruzamento dos ónibus, numa esquina, perto do local onde tempos depois - 1951 - se construiu o Farol de Natal. Alí morava o pescador, sua mulher e uma neta. Em cima do morro, existiam 13 casebres situados na altura de onde hoje é uma galeteria, no começo da rua João XXIII. Esse pessoal teve que sair dos seus casebres por ordem dos Guardas da Febre Amarela - SUCAM - e foram morar na rua que hoje se chama Teófilo Brandão. E veio a II Guerra Mundial. Tudo, na praia era silêncio. A mulher do pescador, Luiza, e a sua neta, seguiam para buscar alguma coisa para comer nas casas existentes no Alto do Juruá e proximidades.

Luiza também teve a profissão de "parteira", como era assim chamada. Os garotos que moravam no Alto do Juruá, quando vinham buscar frutas nos morros que rodeavam a casa, costumavam pedir licença a então Mãe Luiza e na volta, sempre deixavam um pouco de frutas eu sua mesinha. Os soldados do quartel avançado do Ante Aéreo, também costuvam ir, quando precisavam, pedir licença para tirar uns galhos de pé de pau e assim fazer a estrada até chegar ao Quartel Avançado. Tudo que existia na rua João XXIII era uma casa de seu João Balbino, onde hoje tem uma casa de comercio de madeiras, tintas, portas, tijolos e outros materiais semelhantes. Somente um morador na rua sem nome e em um bairro também ignorado. Era o ano de 1944 quando o trator derrubou a mata na entrada do morro e se fez ali uma calçada com pedras de praia.

Terminada a guerra, Mae Luiza continuava a fazer parto das mulheres, pelos idos de 1947. No Quartel do Exercito, que ficava no quadrado entre as ruas Trairy, Afonso Pena, Mossoró e Rodrigues Alves, o Comandante da Unidade dava aos moradores do morro uma sopa, todos os dias, inclusive aos domingos, dias santos e feriados. E Mae Luiza também recebia um pouco de comida que as pessoas recebiam. Eram moradores dos morros próximos. Na avenida Hermes da Fonseca, onde hoje é a Escola Maria Auxiliadora, era o então Quartel General. No resto do terreno, tudo era mato e umas trincheiras para os soldados treinar. No Morro, continuava morando Joao Balbino e lá em cima, onde o Governo construiria o Farol, morava Máe Luiza. Por tal motivo, o bairro quando se formou, passou a ser chamado de Mãe Luiza, por conta dessa parteira. O Farol ficou sendo Farol de Natal, inaugurado do ano de 1951. Essa é a história de Mãe Luiza.

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