segunda-feira, 30 de junho de 2008

RIBEIRA - XXX

Avenida Tavares de Lyra


Em idos dos anos 20 (1920 em diante) se fazia a festa do Carnaval, em Natal (Rn) no bairro da Ribeira, ponto de grandes tradições da nossa história. Era na Av. Tavares de Lyra que os foliões faziam a festa, com desfile em carros Ford, moças no assento de trás ou mesmo nos para lamas dos pneus da frente ou mesmo sendo aclamadas pela mocidade quando passavam pulando em uma espécie de bagageiro que ficava atrás de tudo. Os carros eram como uma Baratinha mais antiga. Os veículos dirigidos por seus donos que seguiam também ornamentados com chapeus de palhaço ou coisa assim, faziam o trajeto pela A. Tavares Lyra, indo então pela Rua Chile, pegando em seguida a Av.Duque de Caxias e retornando pela A. Tavares de Lyra. Tudo era festa com lança-perfume, talco, confetes, serpentinas para o orgulhos dos que tinham carros naquele tempo, e de suas belas e mascaradas filhas, durante a tarde e noite dos tres dias de folia.

Nas calçadas próximas, o povo alegre com a passagem dos veículos vagarosos com as suas damas no seu interior ou no seu para-lamas. Era assim que se festejava o carnaval em uma cidade com ares de interior, naqueles idos do tempo. Na Catedral Metropolitana, o sacerdote não parava de dizer que aquilo er a festa do Demônio e que o bom cristão não deveria participar de tal evento temido pelo clero, nesse tempo, recolhido em oração em lugares distantes do meio da cidade. Mesmo assim, o povo não pensava em pecado e se pecar fosse aquilo, essa gente tinha o resto do ano para se arrepender, mesmo com o padre lhe dizendo que o que ele fizera era arte do Diabo.

Pois bem. Com o Diabo ou não, a festa se realizava costumeiramente e entre os presentes estavam os legítimos representantes do comercio de Natal, e entre estes, os homens menos afortunados da cidade, levando a brincadeira no seu melhor prazer. Via-se dentre muitos outros, o Rei Momo - que era a figura do Demônio para os clérigos, e pessoas que estavam a trocar o dias de trabalho pelo dias de folia. E dentre estes, via-se seu Yoyo - um cidadão que se chamava Melchiardes Barros, eleito por cinco anos, entre 1920 a 1925, venerável da Loja Maçônica "Filhos da Fé", assunto que para o Clero representava o verdadeiro "perigo", pois a Igreja nunca se deu bem com a Maçonaria. E muitos outros adeptos da folia frequentvam as festas de Rei Momo, como o cidadão Zé Areias, cujo nome verdadeiro era José Antõnio Areias Filho, nascido no ano de 1900. Zé Areias era um autêntico folião que se vestia de mulher para se disfarçar, apesar de não usar máscara, fazendo arranjos no cabelo. Os seios avantajados de Zé Areias dava um toque a mais na sua idementária femenina. No meio dos que brincavam a folia estava o homem, popular por assim dizer, jogando confetes nos demais participantes, num toque de quem bem dizia: com dinheiro ou sem dinheiro, meu amor, eu brinco.

Na festa popular dos antigos carnavais costumava-se vê figuras como Zé Areias e seu Yoyo a fazer a animada algazarra. Seu Yoyo, para bem dizer, era um homem de baixa estatura, bem gordo, pele clara e, no Carnaval, ele saía ornamentado do homem pobre carregando um pinico com cerveja e linguiça dentro dele que dava a impressão de ser algo intoleravel de se olhar. Seu Yoyo carregava o pinico na altura de sua cintura, passeando para lá e pra cá. Sem falar. Naqueles aureos tempos como também não havia rádio e os gramofones eram peças raras e caras, o povo brincava com as melodias fetas em marchinhas que pouco gante decorava-lha a letra por completo, ficando apenas no soar do estribilho.

Em 1723 o carnaval chegou ao Brasil sob a influencia européia. Somente no século XIX é que os blocos carnavalescos surgiram com os carros decorados e pessoas fantasiadas de forma bem parecida como se faz nos tempos mais recentes. Mesmo assim, apesar de haver uma aceitação por parte da Igreja, nos idos 20 tinha-se o propósico de se rejeitar uma tradição pagã que teve origem na Grécia por volta dos anos 600 a.C. Através dessa festa os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção..Bem após, já os romanos inseriram bebidas e sexos na festa tornando intoleravel para a Igreja

sexta-feira, 27 de junho de 2008

RIBEIRA - XXIX

Caixa de Correio que era vista em Repartições Públicas


Com certeza, trabalhar numa empresa como os Correios, é algo fundamental. Ali se conhece de tudo um pouco. Das coisas que só pode saber quem mandou ou quem as recebeu. Nos Correios, porém, quem trabalha na expedição tem seus meios de saber o que está em uma correspondência, em um telegrama. É igual ou semelhante a um telefone. A um telefone celular, por exemplo. Ou fixo, mesmo. Todavia, o muito que se tem que fazer, não sobra tempo para tal. Entretanto, se uma correspondência vem acontecendo costumeirmente para uma região ou uma determinada pessoa, então é a vez de se cuidar melhor daquela correspondência. Ou daquele telegrama. Um telegrama inofensivo pode ser um ponto de encontro maior do que se imagina.

Essas coisas se pode ver numa agência de Correios. Portanto, o importante que se diz é que a agência dos Correios é o cérebro de um governo. O desenvolvimento da História Postal corresponde ao crescimento e à transformação histórica do próprio Pais, razão pela qual o conhecimento dos principais fatos ligados à implementação e ao desenvolvimento dos serviços postais fornece um panorama do desenvolvimento histórico brasileiro. Do surgimento dos serviços postais até os dias de hoje, os Correios assumiram sua postura de elo que aproxima as pessoas da instituição respeitável que sempre procurou adequar-se aos vários períodos de desenvolvimento do Pais, buscando o progresso para os seus serviços prestados à sociedade.

Com a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500, surgiu a primeira correspondência oficial ligada ao Pais a qual, escrita por Pero Vaz de Caminha e enviada ao Rei de Portugal, relatava com notório entusiasmo o descobrimento de uma nova terra. Com este acontecimento, eternizado na história brasileira, estava sendo escrita a primeira página do surgimento dos correios no Brasil. Os primórdios dos serviços postais no Brasil-Colônia reportam-se aos correios em Portugal e à sua atuação neste novo território. Durante os primeiros tempos da colonização do Brasil, os portugueses não dispunham de um sistema postal bem organizado, tendo, inclusive, que recorrer ao de nações vizinhas.

Nem a criação do Correio-mor das Cartas do Mar, em 1673, resolveu o problema de ligação postal entre a nova terra e a metrópole. Deste modo, a dificuldade na comunicação entre Portugal e o então Brasil-Colônia fez com que fossem instituídos, definitiva e oficialmente em 1798, os Correios Marítimos e, anos mais tarde, com que surgissem preocupações de maior expansão dos serviços para o interior da Colônia. A chegada da família Real ao Brasil abriu caminhos para que o serviço postal pudesse melhor se desenvolver. Deste evento resultaram o progresso comercial, a elaboração de 1º Regulamento Postal do Brasil, o funcionamento regular dos correios marítimos e a emissão de novos decretos. Período, posteriormente, bastante conturbado por lutas pela independência do País, serviu de palco para que os correios desempenhassem um papel valioso como meio importante de comunicação entre aqueles que ansiavam por separar a colônia da metrópole e trabalhavam para isso.

O Código Postal Universal, elaborado por ocasião do IX Congresso Universal em Londres em 1929, viria a legislar e apresentar soluções para os problemas postais modernos e dar início a uma nova era na história dos Correios. A chamada Revolução de 30, causou, neste momento, alterações profundas na estrutura político-administrativa do País que atingiram, consequentemente, o setor postal. Os Correios, logicamente, não ficaram indiferentes às mudanças e passaram a analisar não só a sua estruturação, mas também a evolução de seu desempenho, seus meios e sua capacidade técnica de atender à necessidade de comunicação. Foi então que o novo presidente , Getúlio Vargas, baixou decreto em 1931 pelo qual fundia a Direção Geral dos Correios e Telégrafos - o DCT, subordinado ao Ministério de Viação e Obras Públicas, cuja Administração instalou-se, num primeiro momento, no antigo Paço da Pátria XV de Novembro, no Rio de Janeiro, , onde ficou até ser transferida. posteriormente, para Brasília em 1975.

Em 1931 é criado o Departamento de Correios e Telégrafos, as administrações dos Correios passam a denominar-se de Diretorias Regionais; é criado o Correio Aéreo Militar, que deu origem ao Correio Aéreo Nacional, permitindo a remessa de correspondências a lugares quase inatingiveis. Já a partir de 1944, começa a ser utilizado, entre outros modelos, o anfíbio Catalina CA. No entanto, somente a partir de 1968 é que o DCT foi subordinado ao recem criado Ministério das Comunicações. Contudo, com o desenvolvimento dos setores produtivos do Brasil torna-se necessária a reorganização do serviço postal em torno de um modelo mais moderno que o do DCT, que não apresenta infra-estrutura compatível com as necessidades dos usuários. Nesse sentido é criada, em 20 de março de 1969, a Empresa Brasileira de Correios e Telegrafos - ECT, como empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações.

O surgimento da ECT corresponde a uma nova postura por parte dos poderes públicos com relação à importância das comunicações e, particularmente, dos serviços postais e telegráficos, para o desenvolvimento do País. O ciclo de desenvolvimento ocorrido na década de 70 correspondeu as novas necessidades de uma clientela que, pouco a pouco, viu as distâncias serem encurtadas e percorridas graças ao serviço postal, que se estruturou e passou a desenvolver e oferecer produtos e serviços de acordo com a realidade do mercado e as necessidades de sua clientela. Ao mesmo tempo, nesse período a ECT consolida seu papel como importante agente de ação social do Governo, atuando no pagamento de pensões e aposentadorias, na distribuição de livros escolares, no transporte de doações em casos de calamidade, em campanha de aleitamento materno, no treinamento de jovens carentes e em inúmeras outras situações em que se demonstra sua preocupação com o bem-estar da sociedade.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

RIBEIRA - XXVIII

Postes do Telégrafo




No ano de 1954 chegou ao escritório de José Leandro o seu sobrinho, Jubal Fernandes, todo bem arrumado, com a roupa dos Correios, calça, blusão e quepe, sem falar nos sapatos e foi logo pedindo a benção do seu tio, colocando em cima do galpão que separava o escritorio em dois compartimentos. Chegou e foi logo dizendo para o garoto que estava trabalhando já há dois anos, tentando aprender cada vez mais o que havia de fazer.

- Vim dizer que nos Correios tem vagas para estafeta. É preciso ir lá. Sendo menor. Vai com seu pai e procura dona Maria, assistente da Diretoria. - disse ele ao garoto, já com seus 15 anos.

Para o garoto foi noticia feliz. Ele pediu permissão ao seu tio de poder ir aos Correios, naquele dia, à tarde. Teve a permissão e não contou conversa. Agradeceu ao seu primo e de tarde, em companhia do seu pai, o garoto estava na Agencia dos Correios para falar com dona Maria, assistente da Diretoria. Tudo deu certo e, no outro dia, o garoto já estava nos Correios para desempenhar a sua nova função de estafeta que era o memo aquele de entregar telegrama.

O tempo era dividido em turnos: de manhã, em um dia; de tarde, em outro;e a noite, em um terceiro para recomeçar tudo outra vez no dia seguinte. No começo do seu oficio, o garoto foi com um outro, já experiente, entregar os telegramas. O nome do seu colega era Arnaldo. E tinha também varios garotos, todos quase da mesma idade. O garoto olhava, cismado, aqueles rapazes temendo que alguns ficassem em seu lugar, com certeza. Porém não tinha nada que temer. Os telegramas chegavam a todo instante, recebidos por homens em uma máquina que ele aprendeu se chamar "Morse". Com sua idade juvenil, de imediato ele era um rapaz. Do emprego no escritório do seu tio, ele já nem se lembrava mais. Vez por outra, pela manhã, o garoto se encontrava com Jubal, seu primo, que sempre perguntava:

- Então? Como vai o serviço? - perguntava Jubal.

- Vai bem! - respondia o garoto.

- É assim. Você vai aprender logo. - disse Jubal.

O garoto sorriu. Havia uma diferença: Jubal recebia suas correspondencias no andar de baixo, numa porta que estava já no fim do prédio dos Correios. Em contra-partida, o garoto trabalhava no andar de cima, por isso, tendo que subir a escada de acesso quando chegava para o trabalho. Com esses atropelos, mesmo assim, ele nem sentia a diferença. Faz logo amizades e tinha um outro estafeta de nome Ely Aguiar, que se mostro bom amigo e tendo saído por várias vezes com o garoto para fazer a entrega de telegramas. Nos Correios, um prédio existente na rua Hildebrando de Gois, na Ribeira, onde tinha a caixa-postal. o garoto aprendeu muito, em termos de telegrama ou de cartas simples, cartas maritimas, e até mesmo telegramas ou cartas pelo CAN - Correio Aéreo Nacional - que saía às quartas-feiras, em um avião Búfalo da FAB.

Um detalhe a mais era a palavra - Telegrama. No Brasil, tinha repartição e escritórios que usavam esse termo - Telegramas - . Nesse caso, um telegrama vindo com a indicação de SATÉLITE era para ser entregue direto no Banco do Brasil. Por lá havia também um endereço que se chamava ZELEANDRO. Era o do seu tio. Outras casas de comércio, Bancos e afins tinham também seus Telegramas. O Telegrama sem fios era a denominação europeia para as comunicações por ondas electromagnéticas em "Codigo Morse". Na América, essa expressão foi usada até 1910. Depois dessa data a designação oficial passou a ser simplesmente rádio. A Marinha de Guerra dos Estados Unidos determinou inclusive que fosse usada a palavra Rádio em vez de Wireless nas comunicações oficiais a partir de 1912.

O garoto esteve nessa profissão de estafeta durante somente três meses quando a União suspendeu a remessa do numerario para a Agencia de Natal cobrir o soldo que teria de pagar aos demais garotos. No entanto, alguns ficaram na Agencia e teve muitos que chegaram a funções de carteiros ou mesmo de outras atividades. No Correio, o garoto aprendeu que trabalhar era muito mais que fazer um mandado. Certa vez, indo à noite para a praia de Areia Preta, ele procurava um endereço de uma mulher chamada por Maria Piano de Pau. Ao chegar a residencia exposta, procurou entrega o telegrama mas ninguem conhecia essa pessoa.

- Piano de Pau?! Não mora aqui, não!!! - disse alguem entre inúmeros sorrisos de outras mocinhas. Até que alguém se lembrou e disse:

- Piano de Pau? É Maria! No interior, ela é conhecida por esse nome, gente!!!

Todos cairam na risada e chamaram Maria para receber e assinar o telegrama destinado a ela. Isso, era umas 9 horas da noite. O caso ficou registrado na memoria do garoto, com certeza. Outros casos pitorescos também lhe trouxeram imaginaveis recordações, como a de um homem que foi receber o telegrama, durante à noite, em uma casa, na rua Belo Horizonte, com uma enorme faca-peixeira na mão. O garoto quase morre de medo. Mesmo assim, pediu para que homem assinasse o recibo. O homem se recusou e o garoto colocou nas costas do recibo: Nao Sabe Ler".

quarta-feira, 25 de junho de 2008

RIBEIRA - XXVII

Av.Duque de Caxias, próxima a rua Frei Miguelinho.




Quem passa pela Ribeira, com certeza, deve ter passado pela rua Frei Miguelinho, uma rua que nasce na Esplanada Silva Jardim e segue até a av. Tavares de Lyra. A rua é curta como todas as outras artérias desse bairro. Curta e estreita, dando passagem a apenas dois veículos. As calçadas de um lado e de outro da rua, são estreitas. Estreitas, mesmo. Tem canto que não permite a passagem de nem duas pessoas. As casas são desiguais. Umas bem para dentro e outras para fora da rua. Nessa artéria, funcionou, lá pelos idos de 1920/30 uma tradicional feira que só vendia café. Era a feira, se é que se pode chamar assim, de Tatajuba ou Tatajubeira.. Tal feira ficava na confluência das ruas Frei Miguelinho e Ferreira Chaves.

É aí que se começa a falar em Frei Miguelinho. A rua tem esse nome porque em uma casa que existe no seu inicio, onde começa mesmo, nasceu o garoto Miguel de Almeida e Castro. Isso não tinha a menor importância se Miguel, quando rapaz, fosse se tornar Padre. Nascido no dia 17 de setembro de 1768, ele era filho do capitão Manoel Pinto de Castro, português, e D. Francisca Antonio Texeira. Miguel foi batizado a 3 de dezembro de 1768, na matriz da Apresentação, que fica na Cidade Alta. Onde Miguel nasceu, não havia rua na frente de sua casa. E nem havia o Cais do Porto e as casas que se ergueram, como a Alfandega e os Correios. Afinal, não havia nada, alí. E a casa em que Miguel nasceu era bem diferente do que é hoje, onde funciona uma repartição.

Natal, na Ribeira, era tomada por mangues, charcos, que vinha do rio Potengí. Na verdade, alí era ainda um riacho ou parte do rio Potengi. Para se chegar à Cidade Alta, vinha-se por um caminho estreito e se fosse tempo de maré cheia, quando o rio tomava conta de todo o lugar, circulava-se por outros caminhos, bem para dentro, até chegar a uma ponte estreita e curta existente onde hoje está a sua lembrança na Praça Augusto Severo. O bairro que nem era bairro, já começava a existir, assim mesmo, com as construções de casas à beira do Potengi.

Quando já era grande, com os seus 16 anos, Miguel foi morar no Recife. Em 1784, ele entrou para a Ordem Carmelita da Reforma, quando se tornou frei Miguel de São Bonifacio. Ele adotou esse nome em lembrança à sua avó materna que se chamava Bonifácia. E por tal razão, ficou conhecido como Frei Miguelinho. Acontece, porém, que indo para a Europa, em 1800, requereu do Papa Pio VII, a sua secularização. Ao retornar ao Brasil, já padre, a nova ordem confundiu muita gente, fazendo com que o sacerdote potiguar continuasse sendo chamado frei Miguelinho. Entretanto, o certo é chamá-lo de padre Miguelinho, por ter conseguido sua secularização. No ano de 1817 foi nomeado Mestre da Retórica do Seminário de Olinda. Em Recife, morou com sua irmã Clara de Castro.

Idealista, participou da Revolução Pernambucana de 1817, sendo preso em 21 de maio de 1817. Na noite anterior, juntamente com sua irmã Clara Castro, ficou queimando os papéis que incriminavam todos aqueles que tinham participado do movimento. Disse para a sua irmã: "Mana, nada de choro.Está órfã. Tenho enchido os meus dias, logo me vêm buscar para a morte. Entrego-me a vontade de Deus e nele te dou um pai que nem morre. Mas aproveitemos a noite e imita-me; ajuda-me a salvar a vida de milhares de desgraçados".

Preso, foi levado à Fortaleza das Cinco Pontas. Padre Miguelinho, juntamente com setenta e dois revolucionários, seguiu no brigue "Conosco" para Salvador. Desembarcou na capital da Bahia no dia 10 de junho. Durante o seu julgamento, perante uma comissão, o conde dos Arcos tentou ajudá-lo, perguntando se ele tinha inimigo, ao que o padre respondeu: "Não senhor. Nao são contrafeitas. As minhas firmas nesses papeis são todas autênticas.. Por sinal,em uma delas falta o "O" de Castro. Ficou pela metade por acabar porque faltou papel"

Frei Miguelinho foi condenado por crime de lesa-majestade e fuzilado no dia 12 de junho de 1817. Conforme Adauto da Camara, "os restos mortais do Padre Miguelinho foram inumados no antigo cemitério do Campo da Pólvora, reservados aos escravos, aos pobres e aos que padecessem da morte violenta".

Em 1912, quando foi criado um grupo escolar no Alecrim, por iniciativa de Cândido Medeiros e por indicação de Nestor Lima, o governador Alberto Maranhão deu à nova escola o nome do sacerdote norte-riograndense, Frei Miguelinho. Depois, bem mais tarde, quando o grupo se transformou em escola de primeiro e de segundo graus passou a se chamar Instituto Padre Miguelinho, corrigindo o erro inicial.

terça-feira, 24 de junho de 2008

RIBEIRA - XXVI

Festa de São João,com arraial e casamento matuto




O mês de junho é época do Solsticio de Verão na Europa. E, desse modo, como narram os historiadores, ensejou inúmeros rituais de invocação de fertilidade, necessarios para garantir o crescimento da vegetação, fartura na colheita e clamar por chuvas. Estes rituais, eram expressões que foram praticadas pelas mais diferentes culturas, em todos os tempos e em todas as partes do planeta.

O espetáculodas grandes mudanças que nos oferece a natureza sobre a face da terra, sempre impressionou o homem e o levou a meditar sobre suas causas, efeitos e transformações.

Em certo estágio do desenvolvimento, acreditou ele, estar em suas mãos os meios de evitar uma calamidade em potencial e que podia interferir, apressando ou retardando a marcha das estações pela arte da magia.

Com este pensamento fixo, passou a realizar rituais e a proferir palavras mágicas para o sol brilhar, os animais se multiplicarem e a vegetação ou colheita se desenvolver.

No decurso de mais algum tempo, porém, acabou por se convencer que o crescimento e a decadencia da vegetação e as alterações das estações, assim como a vida e a morte de qualquer criatura viva, dependiam da força e da vontade dos seres divinos.

Sendo assim, a velha teoria mágica das estações, foi complementada com uma teoria religiosa.

Mas, mesmo associando estas transformações às suas divindades, achou que através de certos ritos mágicos, poderia dar uma ajuda ao seu deus, que era o princípio da vida na luta contra o princípio contrário, a morte.

As cerimônias que realizava para alcançar esse objetivo, não passavam de representações dramáticas dos processos naturais que desejava oferecer.

Não obstante, os dois lados da vida, o vegetal e o animal, não estavam dissociados na mente daqueles que realizavam estes cerimoniais. Em verdade, eles acreditavam que existiam profundos laços que uniam o mundo vegetal ao animal e em funções disso, combinavam a representação dramática do renascimento das plantas a união dos sexos, objetivando estimular ao mesmo tempo e com um único ato, a multiplicação dos frutos, dos animais e dos homens. Para eles, o pricípio da vida e da fertilidade, fosse animal ou vegetal era uno e indivisível.

Alimento e filhos, era o que os homens procuravam obtercom a realização de ritos mágicos para regular as estações. Estes rituais de fertilidade, sendo muito importantes para todos os povos, perduraram através dos tempos e na "Era Cristã" não houve como apagá-los. E, a Igreja Católica, com bastente inteligência, ao invés de condená-los, adaptou-os as comemorações do dia de São Joao, que teria nascido em 24 de junho, dia do solstício.


Conta Frazer, em seu livro "O Ramo de Ouro", do inicio do século XX, que na Sardenha, nos jardins de Adônis, ainda são plantados na festa de Solstício de Verão, que lá tem o nome de festa de São João. Era costume, também, em 01 de abril um rapaz da aldeia se apresentar diante de uma moça e pedir-lhe para ser sua "namorada" e se oferecer para ser o seu "namorado". O convite era considerado como uma honra pela família da moça e aceito com satisfação. No final de maio, a jovem faz um vaso com casca de um sobreiro, enche-o de terra e nele semeia um punhado de trigo e cevada. Colocado ao sol e regado na devida frequencia, os grãos brotam rapidamente e, na véspera do solstício (23 de junho, véspera do São João), já estaria bem desenvolvido. O vaso é então chamado de "erme" ou "nenneri". No dia de São João, o rapaz e a moça, acompanhados por uma comitiva e precedidos por crianças, vão em procissão até a Igreja. Ali quebram o vaso e lançando-o contra a porta do templo. Sentam-se em seguida em círculo na relva e comem ovos e verduras ao som de música de flauta. Em seguida dão-se as mãos e cantam "Namorados de São João" várias vezes, enquanto as flautas tocam durante todo este ínterim. Quando se cansam de cantar, levantam-se e dançam alegremente em circulo até a madrugada.

Atualmente, os rituais de fertilidade estão representados no casamento caipira e, as antigas oferendas, deram lugar às simpatias, adivinhações e pedidos de graças aos santos. O santo mais requisitado é o Santo Antônio, conhecido como casamenteiro, que segundo reza a lenda, levou três irmãs solteiras ao altar.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

RIBEIRA - XXV

Festa comemorativa do São João do Nordeste


A festa de São João remonta a tempo bem anterior às comemorações católicas.A origem dos festejos guarda um vínculo com a celebração dos solsticios de verão, na França, em meados do seculo 12. Conforme relatos, era uma festa pagã em louvor ao Agni, deus hindu do fogo, fenômeno e divindade do fogo. A quadrilha é dança francesa do século XIX , que se popularizou no Brasil depois que os mestres da orquestra de Millet e Cavalier a trouxeram para o Rio de Janeiro. As quadrilhas francesas se abrasileiraram. Os comandos do animador do baile ganharam muito charme. "Soirée - (reunião social noturna, em francês) - virou "saruê", "en arrière" (para tras), virou "anarriê"; "en avant" (para frente), "anavã".

No Brasil, trazidas pelos portugueses, com seus costumes europeus, as festas ganharam ares de regozijo pelo período das colheitas. O solstício de verão deles torna-se o nosso solsticio de inverno. A isso, somam-se, aos poucos, o sentido religioso introduzido pelo cristianismo, os costumes indígenas e os dos escravos africanos. Assim, as festas de São João constituem-se, hoje, num produto eminentemente nacional. No Brasil, essa tradição foi trazida pelos jesuitas portugueses. Mas, antes, os índios já realizavam rituais relacionados à agricultura que aconteciam neste período de junho/julho, para que a colheita fosse boa. Dessa mistura das comemorações dos índios, com a dos jesuitas portugueses, as festas juninas foram ganhando forma e incorporando o famoso jeitinho brasileiro. Hoje, esta festa folclorica abrange todo o Brasil.

Sabe-se que as melhores festas de São João acontecem no nordeste. As festas de Natal, no Rio Grande do Norte, de Assu, também no Rio Grande, em Campina Grande, na Paraíba e em Caruarú, em Pernambuco, são as melhores do Brasil. A festa é grandiosa. Durante os 30 dias do mês de junho cerca de dois milhoes de pessoas visitam essas regiões. Tem Bandas de Pífanos, bacamarteiros, sanfoneiro, quadrilhas e bonecos de barro espalhados por toda a região nordestina.

domingo, 22 de junho de 2008

RIBEIRA - XXIV

PONTE DE IGAPÓ




A primeira locomotiva a chegar ao Rio Grande do Norte foi a locomotiva Catita nº 3, máquina a vapor, fabricada pelos ingleses em 1902 e adquirida pela Estrada de Ferro do Rio Grande do Norte, em 1906.

Quando surgiu a primeira linha de ferro no Estado, os passageiros eram obrigados a atravessar o rio Potengi de barco, até a margem esquerda, no lugar denominado "Coroas", onde os trilhos começavam ou terminavam em direção a Ceará-Mirim e depois, Baixa-Verde e daí em diante, para o interior do Estado, via zona norte.

Em 1914, no governo do desembargador Joaquim Ferreira Chaves foi iniciada a construção da primeira ponte sobre o rio Potengi, com o trabalho de engenharia realizados pelos ingleses. A ponte metálica de Igapó permitiu que os trens transportassem a produção salineira e açucareira das regiões produtoras para o porto de Natal. Feita a ponte, o porto da Coroa, que ficava à margem esquerda do rio Potengi, bem em frente ao Cais Tavares de Lyra, ficou em desuso, notando-se, com o tempo, a presença de apenas o barro que sustentou por vário anos o prédio da velha estação, onde os passageiros desembarcavam e seguiam para Natal em barcos que ancoravam na sua plataforma. Isso, trouxe enorme prejuízo para os donos dos batelões que já não tinham mais passageiros e mercadorias para transportar do Porto da Coroa para a Estação Ferroviária, na Ribeira.

A ponte de ferro foi inaugurada no dia 20 de abril de 1916, às 10 horas da manhã, pelo Governador Ferreira Chaves. Construída sobre suportes de cimento, ela era toda confeccionada em estrutura metálica, onde foram gastos 6.500 toneladas de ferro fundida na cidade de Darlington, na Inglaterra. A ponte tinha uma extensão de 550 metros, com um vão de 70 metros e nove vãos de 50 metros. A estrutura metálica erguida pelos ingleses resistiu até a construção da primeira ponte de concreto armado edificada sobre o rio Potengi. O desvio do acesso à ponte metálica para a ponte de concreto armado iniciou a desativação da ponte de ferro. Em 30 de julho de 1992 a antiga ponte de Igapó foi tombada a nível estadual.

Para quem alcançou a velha ponte sentia que seu mundo se reduziu. A ponte chegou a ser vendida pelo Governo, quando de sua desativação e o comprador começou a desmontar a estrutura, em partes, vindo de Igapó para as Quintas. No entanto, sentiu que a empreitada era de custo muito alto, com o ferro retirado para vender a um preço insignificante, e assim, findou por desistir do negócio. A parte da ponde de ferro que sobrou ficou lá, para a posteridade poder vislumbrar o que, um dia, serviu para o trânsito de trens, de veículos e de pessoas de uma margem a outra do Potengi. Hoje, o trem faz caminho por um lado da nova ponte de concreto, fazendo o percurso até a cidade de Ceará-Mirim, pois não ha mais trens que façam a cobertura por todo o Estado. De outra parte, os trens que partiam para Recife, pararam de fazer esse percurso. Criou-se uma linha somente até a Cidade de São José do Mipibú. Esses são as composições de trens suburbanos, destinados a conduzir apenas passageiros. Hoje, de verdadeiros trens, só resta a saudade. E nem cara, nem Coroa.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

RIBEIRA - XXIII


KASATO MARU


É pricamente impossivel falar em centenário da imigração japonesa sem relembrar o grandioso Kasato Maru, o navio que trouxe ao Brasil a primeira leva de imigrantes,

Dia 28 de abril de 1908. No Porto de Kobe, uma multidão balançava os braços e acenava lenços no adeus a um grupo de japoneses que, vivendo em um país afundado economicamente, escolheu um outro "lar" para tentar a sorte. Destino: o desconhecido Brasil. Do adeus aos amigos e familiares à chegada no porto de Santos, litoral de São Paulo, foram exatos 52 dias de viagem numa embarcação de 6 toneladas de nome Kasato Maru. As duas únicas paradas, nesse trajeto de 21 mil milhas, ocorreram em Cingapura e na África do Sul. O atracamento ocorreu no final do dia 17 de junho, no cais 14.

O desembarque dos primeiros imigrantes japoneses só aconteceu na manhã do dia 18 de junho. No total, chegaram 781 japoneses, oriundos das províncias de Fukushima, Tóquio, Kumamoto, Ehime, Hiroshima, Kochi, Niigata, Yamaguchi e principalmente Okinawa, Kagoshima e Fukushima.

Os imigrantes japoneses chegaram ao Brasil contratados para trabalhar nas lavouras de café no Estado de São Paulo. O acordo para o inicio da imigração havia sido firmado em 6 de novembro de 1907 entre a Companhia Imperial de Imigração Tokio-Japão e o Governo do Estado de São Paulo. Pelo contrato, os colonos japoneses deveriam ficar no País por um período de cinco anos. Antes, em 1895, os dois paises já haviam assinado o Tratado de Amizade, Comércio e navegação.

O incentivo à emigração foi uma das soluções encontradas pelo governo do arquipélago para diminuir a miséria e o alto índice de desemprego que se registrava no país na época, fruto da reestruturação da Era Meiji. O solo fértil brasileiro apareceu como uma boa opção. Com o fim da escravidão, as grandes fazendas de café necessitavam de novos trabalhadores, a começar pelos europeus. Bem antes do Brasil, japoneses haviam emigrados ao Havaí e à Ilha de Guam, na China. Mais tarde, outras levas foram para os Estados Unidos, Canadá, México e Peru.

Tomi Nakagawa foi a última entre os imigrantes do Kasato Maru a falecer. Ela deixou o Japão com 1 ano e 9 meses e viveu até os 99 anosem terras brasileiras. Tomi foi uma das mulheres que mais marcaram a comunidade nikkei no Brasil. Sua importância era tamanha que, em 1997, o Imperador Akihito fez questão em conhecê-la, durante sua visita ao Brasil. Em 2004, ela recebeu o título de Cidadã Honorária do Paraná. Tomi faleceu no dia 10 de outubro de 2006.

RIBEIRA - XXII


Em agosto o mundo relembra com muito pesar os 63 anos do maior crime de guerra desferido contra a humanidade. O holocausto nuclear contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Crime do qual seus culpados foram saudados como heróis em todo o mundo e por terem vencido a guerra contra os países do Eixo. Em agosto de 1945 os Estados Unidos entraram para a história mundial por ser a primeira e única a despejar uma bomba atômica sobre enormes populações civis. Com a II Guerra Mundial acabada, os Estados Unidos procuravam encontrar um meio para contar a história aos norte-americanos. A 6 de agosto de 1945 as 8,15 da manhã, uma bomba atômica carregada de Urânio explodiu 580 metros acima da cidade de Hiroshima um grande flash brilhante, criando uma gigante bola de fogo, a temperatura no centro da explosão chegou aos 4.000 Centígrados. Mandando raios de calor e radiação para todas as direções, soltando uma grande onda de choque, vaporizando em milisegundos milhares de pessoas e animais, fundindo prédios e carros, reduzindo uma cidade de 400 anos à pó.

Adultos e crianças foram incineradas instaneamente. Os seus organismos internos entraram em ebulição e seus ossos carbonizados. No centro da explosão, as temperaturas foram tão quentes que derreteram concreto e aço. Dentro de segundos, 75 mil pessoas foram mortas ou fatalmente feridas. As mortes causadas pela radiação ainda aconteceram em grandes números nos dias seguintes. Hibakusha é o termo usado no Japão para se referir as vítimas das bombas atômicas. A tradução aproximada é "Pessoa afectada por explosão". Mulheres Hibakusha nunca se casaram, muitos deles tinham medo de dar a vida para uma criança deformada. Os homens também sofreram discriminação.

Para recordar, aqui segue um artigo do dinâmico acontecimento de formal real, por John Hersey.

Uma nuvem de poeira começou a subir sobre a cidade, enegrecendo o céu como uma espécie de crepúsculo. Logo a seguir, tudo voltou a calma. Foi, então que um flash luminoso rasgou o céu, com sua cor amarela e brilhante como dez mil sóis.. Ninguém se lembra de ter ouvido o menor ruído em Hiroshima quando a bomba explodiu. Contudo, quem pode ouvir, disse que era uma forte explosão aterradora. Casas estavam em fogo. E gotas de água do tamanho de uma bola de gude começaram a chover.. Eram gotas de umidade condensada que caíam do gigantesco cogumelo de fumaça, de poeira e de fragmentos de fissão que subiam já vários quilômetros sobre Hiroshima..As gotas eram grossas demais para serem normais. Enquanto elas caíam o vento começou a soprar cada vez mais forte por causa do deslocamento do ar provocado pela cidade em brasa.

Dos 245 mil habitantes, cerca de 100 mil foram mortos ou receberam ferimentos mortais no instante da explosão. Cem mil outros foram feridos.Os hospitais não comportavam tamanha leva de doentes. Médicos, em grande número e enfermeiros em maior ainda, tinham morridos com a explosão da bomba. Os feridos que puderam andar, cerca de 10 mil, ficaram agachados ou deitados no chão, nos corredores, laboratórios, escadas, portas, nos fundos e do lado de fora dos hospitais, morrendo de dor que não sabiam explicar.Famílias inteiras com rostos desfigurados ajudavam uns aos outros, entre prantos e gemidos. A maior parte vomitava enquanto outros viam cair as suas peles de seus rostos e de suas mãos. Quando alguém tentava segurar um ferido, as suas mãos se enchiam de peles, como uma luva. Muitos estavam nus ou vestidos em farrapos. Amarela no inicio, as queimaduras ficaram vermelhas, inchadas e a pele se soltava. Depois eles começaram a supurar e a exalar um odor nauseabundo. Sobre alguns corpos nus, as queimaduras haviam desenhado a silhueta de suas roupas desaparecidas.

Os primeiros cientistas japoneses que chegaram algumas semanas depois da explosão notaram que o flash da bomba havia causado a descoloração total dos corpos das vítimas. E no chão, a bomba havia deixado marcas correspondentes às sombras dos objetos que seu clarão havia iluminado. Os especialistas encontraram uma sombra permanente projetada sobre o teto do edifício da Câmara de Comercio pela torre do mesmo edifício. Encontraram também silhuetas humanas sobre muros, como negativos de fotos.. No centro da explosão, sobre a ponte que fica perto do Museu de Ciências, , um homem e sua charrete haviam sido projetados com a forma de uma sombra precisa, mostrando que o homem estava a ponto de chicotear seu cavalo no momento em que a explosão os havia literalmente desintegrado.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

RIBEIRA - XXI


O dia amanhecia limpo, com poucas núvens no céu, anunciando mais um dia de trabalho para a população da cidade de Hiroxima, uma cidade japonesa localizada na província de Hiroxima. A cidade entre montanhas, em um vale, fica no rio Ota, cujos seis canais dividem a cidade em ilhas. Cresceu em torno de um castelo feudal do século XVI. Serviu de quartel-general durante a guerra sino-japonesa. Em 5 de agosto de 1945 foi a primeira cidade do mundo arrasada por uma bomba atómica: 75 mil pessoas foram mortas ou feridas.

Naquele dia, Natal vivia uma tranquila noite quando a BBC de Londres anunciava pelo rádio que uma bomba de terrível poder destrutivo fora posta sobre uma cidade japonesa.: Hiroxima. As pessoas que tinham rádio em casa ouviram, porém nada comentaram, pois de bomba já estavam cheios delas. Uma a mais, uma a menos não fazia diferença. O sistema de autofalantes da Agencia Pernambucana, situada na Ribeira e espalhada pelos bairros da cidade, divulgou a noticia. Todos ouviram aquele informe e os jornais da cidade copiavam pelo sistema Morse os informes dados direto de Londres de que os Estados Unidos lançaram uma Bomba H sobre Hiroxima, cidade japonesa. Os telegramas fechavam dando a data de 06 de agosto de 1945 e com a palavra do piloto do avião que dizia: "Missão Cumprida". Natal era um cidade bem longe do Japão, mas no teatro da II Guerra Mundial.

No Comando do Quartel Americano, em Natal, nenhuma palavra. Era um silêncio absoluto. Os praças tinha a permissão de se divertir no Salão do Grande Hotel como se nenhuma conversa fosse dada a eles. E Natal, o dia passara com seu turno de vida normal e chegara a noite dentro da mais absoluta calma, apesar de ser tomada por uma guerra, com aparelhos fazendo vôos para a África, como era costume nos últimos três anos. As noticia não chegaram a alarmar o povo, acostumado a viver em meio a tranquilidade. De bomba H nada se sabia. No entanto, no dia seguinte foi dada a certeza. Um avião B-29, de nome "Enola Gay" partira de um campo avançado no Pacífico, sob o comando do piloto Paul Tibbets Jr. levando um artefato pequeno, até, que fora batisado de "Little Boy" - garotinho - para deixar cair num canto demarcado, na cidade de Hiroxima, fazer fotos da bomba quando explodisse e de voltar de imediato para o seu campo de pouso. O piloto de nada sabia. Nem o poder da bomba que levara para deixar cair sobre a cidade japonesa, que explodiria a poucos metros antes de tocar o solo. Foi isso que ele fez. Foi isso que aconteceu.

O primeiro ataque atómico da história fez com que a cidade de Hiroshima ficasse mundialmente conhecida. O alvo inicial seria Kyoto, ex-capital e centro religioso do Japão, mas Henry Stimson, secretário de Guerra norte-americano, preferiu a cidade de Hiroshima, escolhida para o ataque porque ficava no centro de um vale, o que pode aumentar o impacto da explosão nuclear, já que as montanhas ao redor prenderiam na região as intensas ondas de calor, a radiação ultravioleta e os raios térmicos produzidos no ataque. Definidos os detalhes da missão, o bombardeio B-29, "Enola Gay" (batizado com o nome da mãe do piloto), comandado pelo piloto Paul Tibbets, decolou da pequena ilha Tinian para um vôo de 2.735 km. Logo depois levantaram vôo outros dois B-29 que tinham a missão de medir e fotografar a missão. O Enola Gay, levava em sua carga fatídica o artefato chamado pelos americanos de "Litte Boy" (garotinho), sua carcaça tinha 3.2 m. de comprimento e 74 cm de diâmetro, pesando 4.300 kg., e potencia equivalente a 12.5 kt de TNT.

As 8,15 horas da manhã do dia 6 de agosto de 1945, o Enola Gay lançou a primeira bomba atómica programada para detonar a 575 m acima da cidade japonesa onde viviam milhares de pessoas, e após um silencioso clarão, ergue-se um cogumelo de devastação de 9.000 m. de altura provocando ventos de 640 a 970 km/h e espalhando material radioativo numa espessa nuvem de poeira. A explosão provocou um calor de cerca de 5,5 milhões de graus centígrados, similar as temperaturas próximas ao limbo do Sol. Hiroshima tinha na época cerca de 330 habitantes, e era uma das maiores cidades do Japão. O bombardeio matou cerca de 130 mil pessoas e feriu outras 80 mil. A bomba é até hoje a arma que mais mortes provocou em pouco tempo. 221.893 mortos é o total das vítimas da bomba reconhecidas oficialmente.. A bomba afetou seriamente a saúde de milhares de sobreviventes. A grande maioria das vítimas era formada pela população civil, que nada tinha a ver com a guerra ou que a simples curiosidade as levassem ao local. Prédios sumiram com a explosão transformando a cidade em um deserto. Num raio de 2 km, a partir do centro da explosão, a destruição foi total. Milhares de pessoas foram desintegradas e, por isso, as mortes jamais foram confirmadas.

A reconstrução da cidade só pode ser encetada sem riscos a partir de 1950 e começou pela ponte Inaribashi. Hoje, a cidade é, de novo um grande centro industrial. No seu centro foi criado um Parque da Paz, com um museu da catástrofe e um monumento das vítimas da explosão. Um edificio em ruínas , o único cuja estrutura metálica não foi destruída pela bomba foi conservado como testemunho. No Brasil, hoje, a colónia japonesa faz lembrar os 100 anos de sua imigração, no ano de 1908, ao par de que tempos depois viu seu pais destroçado pala Bomba Atômica.. Tinham se passados 37 anos que o japonês estava no Brasil, quando toda a tragédia aconteceu. É de se lembrar, também, nesses cem anos o que viveu o povo japonês no ano de 1945 quando o pais se declarou por vencido ante as potencias do oeste.

terça-feira, 17 de junho de 2008

RIBEIRA - XX


Os japoneses eram um povo que procurava se estabelecer fora de seu país, como a sorte lhes sorrisse. Em 1960, muitos japoneses, já um tanto aclimatados com o Brasil, procuravam lugares mais distantes do que São Paulo e Paraná para viver. E foi nesse ponto que a colónia japonesa aportou em Natal. Naquele ano, o Governo do Rio Grande do Norte acolheu a colónia japonesa entre os natalenses que veio para plantar, colher e vender produtos horti-fruti-granjeiros como já sabia fazer esse negocio. Os japoneses vindos para Natal foram destinados a uma terra que até aquela época era improdutiva e não havia ninguém que tivesse interesse em cultivá-la. No municipio de Parnamirim que fazia parte da grande-Natal, os japoneses fincaram seus instrumentos para o plantio de tomates, xuxus, pimentões, entre muitas outras variedades de frutas, legumes e hortaliças. Quando foi colhida a primeira safra de produtos, os japoneses vieram para Natal e venderam a preços bem baratos todos os seus produtos. O natalense ficou abismado com tamanha façanha de um povo estranho, olhos fechados, estatura baixa e que a tudo dizia "hai". Se uma pessoa fizesse em troca um "hai", recebia um outro "hai" de resposta. Tantos "hai" fizesse o natalense, quantos "hai" recebia da parte do japonês, um homem simples, baixo e sorridente. Então, estava aqui uma parte daquela nação japonesa e seus modestos "hai". Com o passar do tempo viu-se surgir uma casa de pasto, um restaurante japonês no bairro do Tirol para atender a clientela nipónica e também natalense que se identificara de imediato com aquele povo da terra do sol nascente.

O nipo-brasileiro é um cidadão brasileiro com ascendentes japoneses. Também são considerados nipo-brasileiras as pessoas nascidas no Japão radicadas no Brasil. Os descendentes de japoneses chamam-se nikkei, sendo os filhos nissei, os netos sansei e os bisnetos yonsei. Os nipo-brasileiros que foram ao Japão trabalhar a partir do fim dos anos 80 são denominados dekassegui. Uma das caracteristicasda sociedade brasileira é a miscigenação mas, no caso dos nipo-brasileiros, ela levou um tempo maior para acontecer. O casamento de japoneses fora da colônia não era aceita pela maioria dos imigrantes por não querer manter laços no Brasil podendo assim retornar para o Japão. Porém, o lado étnico-cultural foi o que mais dificultou, inicialmente, a miscigenação. Os japoneses possuem uma cultura fechada e, mesmo hoje em dia, o casamento com um não-japonês (gaikokujin) é mal-visto por grande parte da população.

No caso dos imigrantes japoneses no Brasil, essa situação de isolamento étnico acabou por se deteriorar a partir da década de 1970. Os imigrantes de primeira geração raramente se casavam com um não-japonês, porém, a partir das segunda e terceira gerações, o fenómeno da miscigenação passou a fazer parte da realidade da colônia japonesa no Brasil. Os imigrantes , assim como a maioria dos japoneses, eram budistas e xintoistas. Nas colônias japonesas houve uma forte presença de padres brasileiros para catequizar os imigrantes. O casamento com pessoas católicas também contribuiu para o crescimento dessa religião na comunidade. Desse modo, 60% dos descendentes de japoneses no Brasil são católicos.

Vivem no Japão mais de 300.000 brasileiros, a maioria dos quais são dekasseguis (brasileiros de orígem japonesa). A comunidade brasileira no Japão é a terceira maior fora do Brasil e, por sua vez, é a terceira maior comunidade imigrante no Japão, atrás apenas dos coreanos e chineses. Inversão do fluxo migratório de brasileiros descendentes ou cônjuges de japoneses ao Japão a procura de melhores oportunidade de renda, iniciados na segunda metade da década de 80 do século XX. A maioria dos brasileiros no Japão são escolarizados, mas são empregados como operários em fábrica de automóvel e eletrônicos. Muitos são submetidos a horas exaustivas de trabalho, ganhando salários pequenos para o padrão de vida japonês. A maior parte dos imigrantes no Japão vão aliciados por agências de recrutamento, legais ou ilegais.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

RIBEIRA - XIX


A imigração japonesa no Brasil começou no início do seculo XX, com um acordo entre o governo japonês e o brasileiro. O Brasil abriga a maior população japonesa fora do Japão. São cerca de 1,5 milhão de pessoas. O uso do termo nikkei é, atualmente, usado para denominar os japoneses e seus descendentes. O Japão vivia desde o final do século XIX, uma crise demográfica. O fim do feudalismo deu espaço para a mecanização da agricultura. A pobreza passou a assolar o campo e as cidades ficaram saturadas. As oportunidades de emprego tornaram-se cada vez mais raras, formando uma massa de trabalhadores rurais miseráveis. No Brasil, por sua vez, estava faltando mão-de-obra na zona rural. Em 1902, o governo da Itália proibiua imigração subsidiada de italianos para São Paulo. As fazendas de café, principal produto exportador do Brasil na época, passaram a sentir a falta de trabalhadores com a diminuição drástica da chegada de italianos. O governo brasileiro, então, precisou encontrar uma nova fonte de mão-de-obra. Desta vez, decidiu-se por serem atraídos imigrantes do Japão.


O Kasato Maru é considerado pela historiografia oficial o primeiro navio a aportar no Brasil com imigrantes japoneses, em 18 de junho de 1908. Chegou ao porto de Santos trazendo 165 familias, que vinham trabalhar nos cafezais do oeste de Sao Paulo. O ano de 2008 está marcado com o do primeiro centenário da vinda dos janoses para a nova terra, o Brasil. A imensa maioria dos imigrantes japoneses tinha a pretensao de enriquecer no Brasil e retornar para o Japão em, no máximo, tres anos. Todavia, o enriquecimento rápido em terras brasileiras era apenas um sonho Submetidos a trabalhos de horas extras, mesmo assim, os imigrantes tinham salarios baixissimos e pensar em voltar, com o seu salário não dava.

A geração nascida no Brasil foi aquela que mais dificilmente se adaptou. A barreira do idioma, os hábitos alimentares, o vestuário, o modo de vida e as diferenças climáticas acarretaramum choque de cultura extrema. A primeira geração nascida no Brasil viveu de forma semelhante aos pais imigrantes. A segunda geração viu, definitivamente sepultada a esperança de retornar ao Japão. A eclosão da II Guerra Mundial abalava a terra natal e era mais seguro permanecer no Brasil. Muitos imigrantes começaram a chegar nesse periodo a convite dos seus parentes. Na década de 1930, o Brasil já abrigava a maior população japonesa fora do Japão. Quando o Brasil declarou guerra ao Japao, a comunidade japonesa foi diretamente atingida. A língua japonesa foi proibida de ser falada no País.

A partir da terceira geração no Brasil, os descendentes de japoneses passaram a se abrir definitivamente com a sociedade brasileira. Em 1960 ocorre um grande êxodo rural dentro da comunidade nipo-brasileira. Os japoneses saem do campo e rumam para as cidades. Os bisnetos de japoneses, em sua maioria adolescentes e jovens, são os mais integrados ao Brasil. Os vínculos com o Japão ancestral são mínimos, onde a maoria sabe falar pouco ou nada de japonês. Atualmente, a maioria dos nipo-brasileiros falam principalmente o portugues. A primeira geração fala com frequencia dialetos japoneses, muitos deles somente o japonês.

domingo, 15 de junho de 2008

RIBEIRA - XVIII


Parnamirim fica bem próximo ao município de Natal, tanto é que durante muito tempo ali era chamado de grande Natal. Internacionalmente, Parnamirim foi reconhecida como "Trampolim da Vitória", devido a sua participação na II Guerra Mundial, onde os Estados Unidos, pelo acordo assinado com o Brasil, instalou naquele vilarejo uma Base para o treinamento de soldados que dali partiam para lutar na Europa e na África. A posição estratégica do município deu lugar a essa denominação. A terra é rica, com um lençol freático e detentora de águas minerais. A origem do nome Parnamirim vem do tupi-guarani "Paraná-mirim" ou pequeno rio veloz.

Durante anos, o lugar serviu como terra para doar aos capitães-mores. No ano de 1881 a região foi cortada pelos trilhos da linha férrea entre Natal e Nova Cruz. Depois de ter vários donos de terra, em 1927, Parnamirim passou a pertencer ao português Manoel Machado, ocupando uma extensão entre o Engenho Pitimbu, até os Guarapes, terminando ao sul com as terras do Engenho Cajupiranga. Nessa época, Manoel Machado adquiriu tudo o que havia nas terras, como fazendas, sítios e engenhos além das áreas desabitadas. Em meio a tudo isso, Parnamirim nasceu. Em 1927 foram abertas diversas rotas aéreas no Brasil e nesse meio, escolhidas pontos que permitissem instalar uma rede de aeroportos. De tal modo, uma empresa italiana - a CGA - se instalou no lugar, numa área doada por Manoel Machado. Foi nesse tempo que se construiu uma estrada de rodagem , ligando Natal ao campo de aviação em Pitimbu., contribuindo para se instalar o correio aéreo. Essa estrada era carroçal, pois nesse tempo ainda não havia instalação de materiais bem mais resistentes, como o pixe. Em 1933, a Air France comprou de Manoel Machado novas partes de terra para ampliar o aeroporto de Parnamirim. Nesse mesmo tempo, a empresa francesa comprou ou absorveu as demais companhias privadas de aviação e transferiu todos os seus hangares e demais instalações para o outro lado da pista onde hoje está instalada a Base Aérea de Natal. Com o desenrolar da II Guerra o governo do presidente Getúlio Vargas se viu forçado a assinar um acordo de defesa mútua , ceder áreas para instalações de bases norte-americanas no Nordeste, romper relações diplomáticas com a Alemanha, Itália e Japão, em janeiro de 1942. Finalmente, a 22 de agosto desse ano declarou guerra aos países do Eixo.. A construção das Bases Naval e Aérea, em Natal, seria fruto desse acordo.

O Brasil, nesse mesmo ano, criou a Base Aérea, de Natal, surgindo de fato a cidade de Parnamirim. Nesse acordo ficou estabelecido que o Brasil ficava do lado oeste da pista de Parnamirim, dividindo com Air France e os Estados Unidos com o lado leste, onde já estava construído o maior campo de aviação e bases de operações militares que os americanos dominariam fora dos Estados Unidos. Assim nasceu o campo de Parnamirim, mostrado nos mapas norte-americanos como Trampolim da Vitória uma vez que apontava direto para a África e Europa. Um plano audaz do Governo Americano. Somente em outubro de 1946 a Base Leste foi entregue a Força Aérea Brasileira, depois de terminada a II Guerra Mundial.

RIBEIRA - XVII


Antes da deflagração da II Guerra Mundial, Natal já era sondada como a cidade mais próxima do Continente da África e dos Paises da Europa. É tanto que no Governo Juvenal Lamartine, no ano de 1930, foi aprovado um acordo entre Natal e uma empresa alemã para a construção de uma base próxima ao rio Potengi, conhecida por Praia da Limpa (Montágem). Então, no mesmo ano a empresa alemã iniciou o plano para instalar a Base onde os aviadores pernoitavam no local. No ano de 1930, o mesmo ano, chegou a Natal o hidroavião Guanabara e, a partir desse ano começo a implantação da Base de Hidroaviões no Rio Potengi. A partir de fevereiro a empresa Filgueira & Cia tinha em mãos o acerto final permitindo o voou regular entre a Europa e o Brasil, passando por Natal, dos aparelhos da sua representada firma alemã, a Condor-Lufthansa.

Os vôos traziam passageiros e cargas da Espanha, Gâmbia, Ilhas Canárias, e Frankfurt, na Alemanha. Ne Natal, os aparelhos rumavam para o Riode Janeiro e Buenos Ayres, na Argentina. O tráfego proseguiu até o ano de 1939, com um transporte confortável, silencioso e o mais caro do mundo. Cada aparelho vinha com 28 passageiros além da tripulação. Natal se destacou como a capital brasileira de maior tráfego aéreo daquele tempo. Os passageiros dos aviões da Alemanha aproveitavam a sua estadia em Natal para aproveitar do banho de mar nas praias limpas e quentes do nosso litoral. Era o começo de que a cidade era por demais um ponto turístico, com seguiu após esse tempo, a partir do ano de 1980. Na Base da Montagem ficavam hospedados os tripulantes de aparelhos franceses, italianose dos próprios alemães sempre alojados na sua Base do Campo da Limpa. Até esse tempo, Natal não dispunha ainda de um hotel de alta eficiencia capaz de dar guarida aos seus visitantes. Alguns desses passageiros costumavam ir até a rua 15 de Novembro, já despontando como uma atração para quem tivesse a intenção de pernoitar com mulheres de vida livre.

Somente com a II Guerra Mundial, Natal passou por mudanças quando da construção do aeroporto de Parnamirim, quando chegaram os soldados norte-americanos. Nesse tempo, Natal já contava com o seu primeiro hotel de grande classe - o Grande Hotel - e assim podia receber até mesmo Rei, diplomata e homens da mais elevada importância.Natal era configurada como a cidade mais próxima da África e, por isso mesmo, o trânsito pela cidade era enorme, principalmente dos soldados americanos, mudando o hábito de homem nativo. Natal foi a primeira cidade do Brasil a conhecer o chiclete. Depois da Guerra, Natal continuou a exportar produtos para o Primeiro Mundo, inclusive a xelita, tungstênio, algodão, cera de carnauba, sal e até recentemente o petróleo, onde se produz em terra a maior quantidade do produto. Em décadas recentes Natal se tornou a melhor e mais rica estação do turismo.

Com certeza, a sua posição privilegiada com a África e a Europa lhe deram esse meio de recurso como um centro de atração entre o velho e o novo continente. Com o passar do tempo a cidade perdeu o seu encanto da velha Ribeira, deixando alí apenas a recordação. Mesmo assim, alguma coisa sobrou para nao se esquecer totalmente o barro: O Teatro Alberto Mãranhão, outras casas de espetáculos, uma Casa Bancária, uma estação de Radio,um jornal e outrs coisas que perduram com o tempo para se lembrar de que a Ribeira foi e é o primeiro bairro de Natal. A Cidade Alta era um bairro de residências onde tudo que havia de majestoso era o morro do Tirol que protegia aquele bairro.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

RIBEIRA - XVI


A Ribeira foi e é o centro cultural de Natal, Rn. Nesse bairro nasceu a cidade, em 1599, apesar de ter sido fincado o marco de fundação na Cidade Alta, hoje praça André de Albuquerque. Naquele ermo local, onde só havia tocas de índios, a delegação de Portugal fincou o marco de fundação daquilo que seria a cidade. Naquele largo se pôs um pelourinho, demarcou-se a cidade e se providenciou a construção de uma tapera de palha que, com o passar do tempo, seria a antiga Catedral de Natal. Porém foi para além do rio, na entrada da barra, que houve de fato a construção, de pau a pique, de um fortim que se batizou de Fortaleza dos Reis Magos, pois sua construção aconteceu no dia 6 de janeiro de 1600, dia de Santos Reis. No forte ficavam abrigados os soldados do Império com todo a sua dispensa, munições e armas de fogo. Ali, nascia o Forte e para além, a Ribeira, com o passar do tempo. No começo houve muita luta com os índios que habitavam uma aldeia - a Aldeia Velha -, cujos nativos chamavam de Igapó.

Ao lado do forte, pelo lado do rio Potengi, não havia proteção qualquer. Era apenas uma espécie de praia. Quando a maré estava cheia, pela praia do Forte ficava represado um riacho que levava as águas das lagoas que se juntavam em círculos ao longo do que se chama hoje Praia do Forte. Quando a maré estava vazante, essa água descambava para o rio Potengí e, dali, para o oceano. Com a construção do Forte, abriu-se um buraco no chão da fortificação, e por esse buraco ou cavidade, sacudia-se os corpos de soldados que viessem a morrer naquele lúgubre pedaço de chão. Com a invasão dos holandeses, anos depois, se viu a importância da cavidade e os soldados mortos eram jogados alí mesmo para sair direto no oceano, em mar aberto, passando por baixo de um calçadão de pedra feito pela natureza.

O tempo passou e os soldados do Império rumavam para o cerco da Cidade, em busca de alguma coisa para comer, pois o dinheiro do pagamento aos praças demorava muito a chegar. No alto, eles trocavam por bugingangas aquilo que lhes serviam. E, vez por outra, tinham em uma índia a sua compensação para suprir as suas necessidades machistas. Isso, na Cidade, onde existia a capela feita de palha. E pelas andanças de vai-e-vem, os soldados foram criando com o tempo o costume de ir por um local que eles chamavam de ribeira, pois todo o setor era alagado pelas águas do rio Pontengi. No seu impulso o rio morria por perto do que hoje se chama av. Rio Branco. Uma ponte havia - e ainda hoje existe - no local para transpor as pessoas de um lado a outro da ribeira. Era uma ponte feita com troncos de coqueiros, igual a uma outra que se fez, também de troncos, na passagem das Rocas, na rua Hildebrando de Gois, hoje assim chamada a via Antes, era tudo mangue.

Contudo, o tempo seguiu. E a ribeira se fez nascer como um bairro: o bairro da Ribeira, seguindo o seu chamado de longas datas. Na Ribeira ficava, com o tempo, aquele centro cultural histórico da capital. Inúmeras ruelas atravancavam o bairro. A rua Dr. Barata tinha seu fim antes do que é hoje, caminhando-se pela rua Chile. Com o tempo se rasgou aquele trecho e a rua veio a ficar da Av. Tavares de Lyra (nome dado hoje). Falava-se em centro cultural porque alí havia a verdadeira cultura de uma cidade nascente. Já no século passado - século XX - a Ribeira mostrava que existia com a sua Rua do Comércio, hoje chamada de rua Chile, av, Tavares de Lira, rua Frei Miguelinho, Av. Duque de Caxias e, por fim, av Rio Branco e rua Almino Afonso.

O centro cultural da cidade, no século XX, ficava por conta do Teatro Carlos Gomes, o salão de bailes do Grande Hotel e, na década de 20, os carnavais que faziam a festa na Av. Tavares de Lira, onde as pessoas desfilavam em carros da época diante de olhares dos que ficavam nas calçadas. Além desse divertimento anual, havia o comércio, tanto na rua Chile como nas demais artérias do bairro, entre os quais rua Frei Miguelinho, Dr. Barata, Tavares de Lira e Duque de Caxias. Um bairro que nasceu ao longo do tempo trazendo todo o passado de glórias e amarguras para que ainda hoje poetas e trovadores decante a sua magia nostálgica.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

RIBEIRA - XV


A visita de surpresa a Natal do Presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt e do Presidente do Brasil, Getulio Vargas, para assinar o protocolo "Conferência de Natal", garantindo a presença do Brasil no Conflito Mundial da II Guerra, teve a participação de autoridades do Exercito e Aeronautica, além do Governador do Estado, Rafael Fernandes que recebeu um convite para ir na Base, no dia 28 de janeiro de 1943. Isso foi mantido em sigilo e nem mesmo o Governador sabia do que se tratava ou quem estaria presente naquela ocasião. O encontro dos dois presidentes se deu a bordo do destroier Jouett, na data de 28 de janeiro, durante a noite. Os chefes de Estado não falaram muito e o Presidente Roosevelt apenas relatou que o Brasil era uma potência e que seria alvo de ataques de submarinos alemães, vez que a Alemanha tencionava dominar o mundo. A posição geografica do Brasil era sumamente importante, vez que Natal era a cidade mais próxima do continente africano, de modo especial, de Dakar, no Senegal.

Os acertos dessa visita do presidente Roosevelt a Natal foram realizados no mais alto sigilo e quando aconteceu, sem que ninguem soubesse, nem mesmo as autoridades locais, Vargas chegou um dia antes, ficando a bordo do destroier Jouett, no meio do rio Potengi para que ninguém soubesse. Nem os seus assessores mais diretos. Fotos foram tiradas em terra pelo Comando do Estado Maior do Exercito e se tornaram verdadeiras relíquias, posteriormente, para a Impresa e colecionadores da história. O presidente Roosevelt, depois da reunião com Getulio Vargas, seguiu, logo cedo do dia seguinte, partindo para Trinidad. O segredo permaneceu por algum tempo até que o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha alegando o ataque de embarcações brasileiras por submarinos alemães.

Natal era uma cidade pequena e seu mais frequentado salão de baile era no Grande Hotel, inaugurado em 1938 e arrendado pela quantia de 10 cruzeiros, importância significativa na época, o que hoje equivale a 10 reais. O major Theodorico Bezerra foi o seu arrendatário e alí ficou até o seu fechamento pelo Governo do Estado. O "Major" nasceu em Santa Cruz do Inharé e teve uma infancia pauperrima. Depois de servir ao Exercito iniciou sua vida ambulante, vendendo e comprando de tudo. Depois de 1923, ele passou a ser sócio de um amigo, comprando um caminhão para o transporte de cargas. Foi no couro do bode onde o "major" descobriu o seu meio-de-vida. Daí, então passou a ser comerciante no ramo de hoteis. Entre os mais importantes teve ele o Avenida Hotel, o Internacional e, por fim, o Grande Hotel. Como empresário ele passou a viver melhor, com criador de gado, dono de farmacias e até mesmo de uma agência de Carros.

Theodorico Bezerra teve, no Grande Hotel, o seu maior império. Alí, abrigava as maiores autoridades que visitavam a cidade. No salão de festas do hotel, promovia o que de melhor agradasse aos visitantes, sempre gente da maior estirpe. Os norte-americanos que visitaram Natal, no período da Guerra, tinha no Grande Hotel os seus momentos de lazer. Imperadores, Diplomatas, Embaixadores e demais autoridades ficavam hospedados no Grande Hotel, o seu melhor hotel da cidade. Quando os Estados Unidos começaram a fazer o aeroporto de Parnamirim, o pessoal que ali ficava se destinava nos fins de semana as festas realizadas no Hotel do Major Theodorico. Alí se encontrava a fina flor da sociedade natalense. As moças, procurando um marido rico, um norte americano. Os rapazes, esses, somente olhavam as moças que se deleitavam com os seus "namorados" americanos.

No salão de baile tinha de tudo. Garções estilizados, prontos a servir os convivas, alfaiates, barbeiros, manicuras e um mundo de gente, cada qual com o seu afazer, pronto para agradar os visitantes. O Hotel contava com uma praça de automóveis que ficavam dia e noite a espera de alguém que se destinasse a Parnamirim, onde morava ou talvez fosse embarcar num avião de horário incerto. Um piano estava alí, aberto a todos que aproveitassem uma boa música, especialmente as norte-americanas. A visita dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos trouxeram a Natal a ocasião do seu desenvolvimento. Quando terminou a Guerra, os acontecimentos continuaram, pois a cidade então tomava o seu rumo próprio. Nada era mais o que um dia fora. Natal era uma menina-moça ao despontar de sua juventude.