quinta-feira, 2 de julho de 2009

RIBEIRA - 323

RÁDIO VALVULADO
Naquela tarde eu e Deca fomos em um radio-técnico que trabalhava na torre da Radio Poty, comandando o sinal que recebia dos estúdios da emissora, em Petrópolis, Natal, Rn. Os transmissores ficavam em um terreno baldio, todo cheio de mato, no bairro do Tirol, onde é, hoje, a Escola Doméstica. Eu levava o rádio porque Deca não podia levar, vez que o seu braço direito era defeituoso. O equipamento era igual ou semelhante ao que está na foto acima. Menos porque esse rádio tem a forma de que é feito de madeira. O de Deca era diferente, pois era feito de baquelite. Os instrunentais eram todos pregados no gabinete. Dava ver o que o técnico levava para consertar um equipamento daquele. Pois bem! Deca me chamou para ir até a "oficina" do rapaz - seu nome é Ailson Bonifácio, hoje técnico da Radio Cabugi ou mesmo como se chama: Radio Globo de Natal - para que ele pudesse fazer o reparo. Não era nada demais. Apenas o cordão ficou solto e o ponteiro na corria nem para um lado nem para o outro. Para mim, era um defeito e tanto. Para Deca, não sei ao certo. Porém, se não fosse um conserto desses que se muda válvulas e outras coisas mais, era capaz de Deca consertar o defeito. Contudo, era preciso que ele tivesse as duas mãos. Mas, isso era impossivel. Deca só tinha uma. Pois bem! Isso não me incomodava. Afinal, o rádio estava sendo levado para um "tecnico", e eu pensei que um homem que tinha estudo para consertar um rádio, era um "grande homem". Pois sim! O rapaz estava sentado em uma cadeira que havia por lá, pernas estiradas, roupa branca - camisa e calça, além de meias e sapatos - cara enfurrascada, olhos vigilantes e quando nós chegamos, ele nem sequer deu importância. Era assim! Então, eu coloquei o equipamento em uma bancada e Deca esplicou o que era preciso fazer. O técnico, olhou o rádio por dentro e por fora e mandou que deixasse alí, pois ele faria o conserto. Se Deca pensava em assistir o capítulo do dia de "Tarzan - O Rei das Selvas" perdeu o tempo O rádio só ficava pronto no dia seguinte ou um pouco mais além. Eu não tinha rádio em casa. Portanto, aquilo não me dizia nada. Um dia ou dois, para mim tanto fazia. Aliás, na rua em que eu morava, no quarteirão, para ser mais completo, somente havia um rádio em uma casa perto da que eu morava. No restante do quarteirão só se ouvia silêncio. Nada de rádio. Tinha casa que nem luz elétrica havia instalado. Era gás, mesmo. Gás era querosene que o povo comprava na bodega de "seu" Geraldo ou nao outra, de Chico Porfiro, um homem razinza que ninguem queria comprar a ele. Certa vez, um ladrão arrombou a porta imensa da bodega de "seu" Chico para roubar seu dinheiro. No dia seguinte, quando ele foi abrir a bodega, só viu o estrago. Esbafejou o dia todo!. Eu, heim? Pois sim! Terminada a missão - de entregar o rádio para o técnico consertar - nós voltamos para casa, com Deca meio "ariado" pois naquele dia não mais ouvia as aventuras de Tarzan. Mesmo assim, ele lembrou que podia assistir em casa de sua mãe, onde havia um rádio novo marca "PYE" que era capaz de sintonizar o mundo inteiro. Desse rádio, Deca fazia os maiores comentários ao dizer que o equipamento tinha válvulas "duplas" apesar de serem pequenas, bem menores que de um rádio comum. Nesse tempo, 1951, era um colosso se ter o equipamento de tal engenho. E eu fiquei a pensar que, um dia teria um Radio "PYE", se Deus quiser. Quando eu comecei a trabalhar no escritório do meu tio, passando na calçada de uma loja, eu fui despertado por minha curiosidade: lá estava um rádio "PYE", do mesmo jeito do que havia na casa da mãe de Deca. Eu fiquei extasiado e fui logo perguntando o valor do equipamento. Não sei se foi verdade ou mentira, mas o homem me disse, então: "Seis mil cruzeiros". Eu perdir a esperança em adquirir tal monstro sagrado, pois fazia, como aprendiz, apenas cento e cinquenta cruzeiros. Olhei o rádio por mais uma vez, e partir em busca do meu emprego onde o homem nem sequer sabia que tinha um sonho: o de adquirir um Radio "PYE".

Nenhum comentário: