sexta-feira, 10 de julho de 2009

RIBEIRA - 333

BEM VINDO
Ao ser lançado na França, em março de 2009, o filme "Bem-Vindo", de Philippe Lioret, causou polêmica. O motivo foi denunciar os problemas legais criados por um professor de natação francês, Simon, pelo fato de ter abrigado e ajudado um imigrante ilegal, o jovem curdo Bilal. A produção estreia apenas em São Paulo. Na estreia dessa polêmica, o Partido Socialista francês redigiu um projeto de lei batizado de "Welcome", título original do filme, em que propôs a supressão do chamado "delito de solidariedade". Trata-se dos artigos de Código de Entrada e Estadia de Estrangeiros, que penalizam com prisão de cinco anos e multa de 30 mil euros quem ajudar, transportar ou abrigar qualquer imigrante ilegal na França.
Simon, professor de natação, faz tudo isso por Bilal, jovem curdo que procura há meses chegar à Londres, para reencontrar a namorada, Mina. Acaba de chegar a Calais, França, num campo de refugiados e não tem nem dinheiro nem permissão para seguir viagem. Divorciado, Simon sofre de um desespero amoroso semelhante, pois não consegue esquecer a ex-mulher, Marion.
O improvável encontro entre esses dois homens oferece a oportunidade para que o diretor Philippe Lioret construa uma crônica sólida de como a intolerancia contra os imigrantes se manifesta nos dias de hoje no continente considerado como o berço da cultura e da civilização; a Europa - cujo progresso econômico atrai sem cessar estrangeiros de todos os pontos do planeta.
Há um comentário político em cada cena do filme, mas ele não se traduz em nenhuma forma de discurso. O roteiro cria contexto para seus personágens com riqueza de detalhes não raro incômodos. Assiste-se à tentativa de Bilal e outros imigrantes ilegais de atravessar a fronteira francesa, escondidos num caminhão. Para passarem pela fiscalização, precisam enfiar sacos plásticos na cabeça e prender a respiração por alguns minutos - caso contrário, os sensores dos fiscais identificam o gás carbônico liberado. Bilal não aguenta e, por isso, ele e os companheiros são presos. Não sem antes ganharem números gravados com tinta indelével em suas mãos, detalhe que lembra os campos de concentração nazistas.
Liberados temporariamente, depois disso, para circular na cidade de Calais, os imigrantes de pele morena são destratados a cada passo. São mesmo impedidos de entrar em supermercados, ainda que mostrem seu dinheiro. Uma situação que perturba pessoas como Marion, a ex-mulher de Simon, uma voluntária especializada em assistência social a esses estrangeiros deslocados, sem futuro à vista.
Aparecendo na academia onde Simon leciona em busca de aulas de natação, Bilal tem um plano secreto: atravessar a nado o canal da Mancha e chegar a Londres a tempo de impedir o casamento arranjado para a sua namorada pelo pai dela. De nada adianta o professor advertí-lo sobre os perigos da jornada, que dura dez horas ou mais, em água gelada e sob risco da travessia de grandes navios. O paralelismo da angústia dos dois homens que, apesar das diferenças, encontram território comum para uma troca de experiencias, é o ponto alto do filme, que recebeu três prêmios no Festival de Berlim 2009 - melhor filme europeu da mostra Panorama, além dos troféus de Juri Ecumênico e da Lable Europa Cinemas.
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