quarta-feira, 29 de julho de 2009

RIBEIRA - 349

TUDO É RIBEIRA
Eu estou puxando o tema de que tudo teve início no bairro da Ribeira. Quando Natal foi "descoberta", os homens de Portugal vieram para ficar a pedra do pelourinho no centro de uma terra que, depois, ficou sendo chamada de André de Albuquerque, na Cidade (Alta), em Natal (Rn). Isso foi em 1599. Finzinho do ano. Porém, os fundadores de Natal descobriram também que já em tempos ídos, para além de 1500, Natal era visitado por um francês de nome Jacques Rifault, mais conhecido por Refoles. Ele veio aqui a mando do Governo da França, buscar madeira de escorria um leite vermelho. E foi desse pau, que se colocou o nome do país - Brasil - pois a madeira tinha em todo o continente e sempre se cortava brotava um visgo feito brasa. Mas essa é outra história. Aqui, estamos falando do bairro da Ribeira.
Quando ou após ter sido descoberto Natal, a Ribeira não existia como nome. Os soldados portugueses que estavam no Forte (dos Reis), ficavam mesmo por lá. Alguns se aventuravam em descobrir novas "terras" por Natal e foi assim que um deles "descobriu" a tal chamada "Lagoa Seca". Além dos portugueses, tinham também os escravos fugidios. Esse fizeram "descobertas" para os lados de Lagoa Seca enquanto um homem de posse, mas sem grande posse, foi degredado para Natal, e aqui fez um sítio que o povo chamou de "Quintas", porque o homem tinha que pagar a quinta parte do lucro que auferia ao Governo Português. Bem! Mas isso é outra história, também. A nossa questão é a Ribeira.
Os soldados que "vinham" do Forte para o alto - daí o nome Cidade Alta - tinham que atravessar um pântano no meio do caminho. É que o rio (Potengi) espraiava-se por toda a redondeza e quando era tempo de Janeiro, a situação era bem pior. Mas, o tempo foi passando e o povo foi construindo suas casas. Na Cidade (Alta), ficavam os moradores - ricos e pobres - e na Ribeira, hávia o comércio de vendas de artigos de luxo e de lixo. Alí, se morava em casas boas ou ruins. Era assim a vida do bairro que ainda não era bairro. Para o início do seculo XX, e ainda final do século XIX, tinha na Ribeira, um prédio onde morava Joaquim Siqueira. Esse prédio ficava na esquina da rua - hoje, Frei Miguelinho com a Esplanada Silva Jardim. Era uma casa de esquina, confrontando com a casa onde nasceu o depois Frei Miguelinho. A rua das Virgens - hoje, assim batizada - era chamada de Rua Senador Bonifácio. Nessa rua, morou o alfaiate João Bevenuto, onde tempos depois foi o Hotel Central e também, construiu-se um palacete pertencente ao italiano Guilherme Lettiere. Em sua época, era a residência mais elegante da Capital. A casa ficava vizinha ao que foi chamado de Hotel Central. Alí, no palácio, se "escondeu" durante a Revolução Comunista de 1935, o Governador do Estado Rafael Fernandes. Bem próximo tinha a residencia do Coronel Francisco Cascudo, pai de Luis da Camara Cascudo. O seu filho nasceu alí na Ribeira, ao contrário do que muitos historiadores narram. Era uma residência de alto luxo. Nessa mesma rua - das Virgens - estavam as residencias de dr. Vicente Farache, fundador do time do ABC F.C..
A rua Duque de Caxias, nos anos 20, era conhecida por rua Sachet. No seu começo, onde hoje tem a Agencia do Banco do Brasil, alí morava o empresário Anaximando Oliveira. Essa foi derrubada e o terreno de encheu de mato até que o Banco do Brasil construiu a sua sede. Antes, o BB funcionava no prédio da esquina entre a rua Duque de Caxias (Sachet) com a rua "15 de Novembro". Hoje, é o prédio da Receita Federal. Antes que o BB funcionasse naquele local, alí havia tres casas baixas, do lado do sol. O BB demoliu as casas para construir sua sede. Depois foi para a outra esquina, onde até hoje está.
Ainda na rua Duque de Caxias, onde é hoje a sede da Delegacia do Trabalho, havia uma residencia de Dona Letícia Cerqueira. A senhora comprou umas casas de taipa para fazer a sua, com alicerce profundo e que, mesmo sendo a Delgacia do Trabalho, ainda resiste. Na esquina da av Duque de Caxias com a Nísia Floresta, era uma residencia de dona Glorinha Bttencourt, onde a mulher transformou em uma pousada de ótima qualidade. Atualmente, o local serve de estacionamento de carros. Ainda tem trés prédios velhos na sequencia em direção a rua Ferreira Chaves, antes da Delegacia do Trabalho. Por sinal, na DRT, também funcionou um Banco e vários escritórios na parte de cima.
Na esquina da rua Nisia Floresta com a Duque de Caxias, era uma casa de morada do senhor Antônio Fernandes de Oliveira. Na sequencia, pela av Duque de Caxias, se encontrava três casas pequenas e que depois Severino Alves Bila construiu no local um prédio que leva o seu nome - Ed.Bila -A parte de baixo do prédio foi alugado a Habib Chalita, e em um dos andares de cima funcionou um Loja Maçônica. Na esquina da av Tavares de Lyra com a Rua Duque de Caxias, funcionou por um largo tempo uma loja de bicicletas e seus acessorios, de propriedade do sr. Plinio Saraiva, primeiro passageiro a fazer o percurso entre Natal e Recife nos ídos de 1930 em um avião que fazia escala em Natal. Plinio Saraiva morava no Tirol, em uma bela casa situada na rua Mossoró com a Av Afonso Pena. Alí,na sua residência ele mantinha uma serraria para serrar tocos de paus e vender para a casas que usavam fogão à lenha. Sua esposa era Dagmar Saraiva e os filhos eram Vera, Dupont e Darque Saraiva. Onde Plínio Saraiva instalou a sua loja, foi depois o Prédio do Banco do Rio Brande do Norte e, hoje, é o PROCON.
o Dr Grácio Barbalho morou em um prédio onde depois foi a Western Telegraphic. Era um verdadeiro palácio aquele que a família de Gracio Barbalho ocupou, na rua Duque de Caxias. Hoje, o prédio foi transformado e está ao abandono, pois a firma - DUMBO - que o ocupou, saiu de lá. No prédio onde foi construido o Grande Hotel, em 1935, era ali a mansão do Cel. Solon, importante salineiro de Areia Branca. Quando o Governo Rafael Fernande quis construir o Hotel, ofereceu-lhe a quantia pedida e o Cel Solon desocupou o local. Conta-se que ali foi palco de tiroteio entre rixas do Cel Solon e seus algozes. Vizinho a casa do coronel, pela av Tavares de Lyra, ficava uma estação do telégrafo. Voltando o trajeto, pela rua Duque de Caxias, vizinho a um prédio de esquina onde funcionou a Companhia Força e Luz, está um palacete onde morava Fortunato Aranha, dono da Livraria Cosmopolita, situada na rua Dr. Barata. Alí, ele viveu até que o prédio foi comprado pelo Instituto do Açucar e do Alcool. Hoje, nada existe ali. Somente o abandono.
Seguindo da rua, iremos encontrar tres casas de moradia, pequenas, por sinal, que Cyro Cavalcante comprou e instalou um moderno prédio de venda de peças de automóveis. Na parte de tras, tem uma oficina de retífica de motores de veículos de várias espécies. Cyro Cavalcante também adquirio o largo terreno em Petrópolis, ao lado do Colégio Maria Auxiliadora (no tempo que ele adquiriu esse terreno era do Comando do Exercito) para a construção de várias casas, verdadeiros palácios, podendo assim chamar-se como sendo o primeiro conjunto feito em Natal.
Ainda na Rua Duque de Caxias, havia o palácio do Dr Januário Cicco, médico genecologista e obstetra e que construiu a Maternidade que leva o seu nome, situada na av. Nilo Peçanha, em Petrópolis. Em frente ao palacete de Januário Cicco, ficava a oficina de Antonio Farache, e pelo lado direito ficava a casa de morada de dono Zulmira Lampréa, esposa de um viajante italiano que fazia negócios com artigos de porcelana. Na parte do lado direto na rua Duque de Caxias, na esquina, onde era e é a Recebedoria de Rendas, antes funcionava o Hotel dos Leões. Do outro lado da rua, antes de se chegar a esquina, havia o Hotel Avenida - de Teodorico Bezerra -. Antes de ser Hotel, alí era a residencia do sr Elias Lamas, verdadeiro casarão. Elias Lamas era Consul do Chile, em Natal, e mantinha uma loja de venda de artigos eletro-eletrônicos, como discos e rádios, a rua Dr Barata. Na rua Tavares de Lyra, antes da construção do Cais do Porto de embarcações pequenas, era um ancoradouro de botes que vinham de Macaiba e da Redinha com gente para fazer compras no comércio da Ribeira. As suas casas, que foram transformadas em luxuosas residencias, eram apenas casas pequenas e que foram sendo vendidas a terceiros para se constituir em um verdadeiro patamar do negócio. Hoje, a Ribeira tem muito pouco do que já teve, um dia. Se a vida, em Natal, começou na Cidade (Alta), foi na Ribeira que ela se consolidou.

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