quarta-feira, 1 de julho de 2009

RIBEIRA - 322

BRINCADEIRA DE RODA
À noite, logo cedo, nós estávamos reunidos da casa de Deca, uma residência de calçada alta, meio metro do nivel do chão.. Eram por volta das 7 horas ou um pouco mais. Os garotos ficavam de um lado e as garotas ficavam mais afastadas bricando de roda, um divertimento inocente que só as meninas gostavam. De quando em vez, elas aceitavam um menino, com certeza, de menor idade. Os grandes, esses que ficassem para lá com os seus amigos fazendo outras coisas que não interessavam às meninas. Nós, os garotos, ficávamos observando os carros que vinham por uma rua transversal, longe ainda. Nós apostávamos em identificar a marca do veículo apenas pelo soar do seu motor. Ford, Austin, Bel-Air, Cadillac, Chevrolet, Sedam, Maveric, Mercury, Buick e tantos outros. Os caminhões, tinham os Carros Tanque ou caminhões de carga, caminhonetes e além de outros, pequenos e grandes. A cada acertada, os garotos faziam o maior alarido mostrando que conheciam o veículo somente pelo zoar do seu motor. Tais veículos, vinham ha uma boa distancia, negócio de uns 500 metros e só tinham validade quando passassem em frente à rua que nós estavamos. Ninguém podia sair do local para ver a marca do carro. Isso era supresa. Quando o veículo surgia, então era aquele alvoroço. O mais delirante era aquele que, pela primeira vez, dizia a marca do veículo.
As meninas, maiores e menores, bricavam ao seu modo como se nada acontesse de parte dos garotos. Elas cantavam melodias próprias de sua brincadeira com: "Senhora, dona Cândida, descubra o seu rosto. O seu rosto é de prata, quero ver a sua prata". Ou cantavam outras melodias que se encaixavam muito bem no repertório da brincadeira: "Na mão direita tenho uma roseira que bota rosa em mês de maio". Essas e outras. Para os garotos, tais cantigas não fazia a menor diferença. Estavam a brincar as "velhas" amigas da redondeza, como Marilú, Marta, Racilva, Mabel, Noélia, Socorro, Elizabeth, Elza e algumas outras mais. Não raro tinha um menino menor que não se adaptava as adivinhações dos garotos grandes, pois, para estes meninos, carro era carro. Às vezes nem sabiam do nome que eles tinham. Apenas era carro. Dos maiores, podia se contar Ney, Deca, Carlos, Intriga, Niel, Flauberto, Fleudes, Goioba e outros que sempre chegavam "atrazados" para a conta dos que já estavam na "luta" de advinhar as marcas dos carros. Quase toda noite era aquela reunião do alto da calçada. As meninas, essas somente brincavam na rua onde não passava carro. Quando não tinha mais brincadeira de roda, ela inventavam ou outro tipo de divertimento, como "Aliança", onde as meninas passavam a mão fechada nas mãos das outras meninas, deixando cair em uma delas a aliança. Quem advinhasse em qual mão estava, era a contemplada na distração, passando a vez de colocar o anel na mão destendida de sua companheira. Como se podia ver, essa era distração de quase sempre fazia a garotada que às noites tinham o seu ponto de lazer e de encanto. Era assim que as meninas tagarelavam naquela ocasião sob os olhares reprimentes dos seus pais, admosestando para qualquer falta que algumas das suas filhas estavam a praticar. Não raro, vinha uma delas chorando porque a aliança não foi posta em suas mãos. Sempre era a menor de todas que se agasalhava por entre as pernas de sua mãe. A mulher, com tranquilidade, lhe fazia carinhos de modo a o chorro passar. Não raro, a criança estava com sono e dormia alí entre afagos e beijos. As demais garotas continuavam a brincar de "Cai-e-Fica", um divertimento que as mocinhas quase sempre faziam. Era puxar uma menina qualquer de um ponto alto da calçada e quem fosse arrastada teria que ficar como caíse. Tais brincadeiras, hoje não se faz.

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