domingo, 26 de julho de 2009

RIBEIRA - 347

VERDUREIRO

"Ó que saudade que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infãncia querida que os anos não trazem mais".
Nos versos dessa poesia, eu lembro, agora, dos tempos de minha infância, quando na rua onde eu morava, passava todos os dias, o vendedor de verduras. Lembro-me de que nem só verduras ele vendia, pois em seus baláios tinham frutas, legumes, e tantas outras espécies, como abacate, macaxeira, bananas leite e anã, batata doce, abacaxí além do comum tempero verde, alface, coentro, hortelã, cebola verde - uns canudos compridos que ainda hoje são vendidos - e tudo que se podia comprar nos cestos pendurados por um galão. O vendedor passava todos os dias, de manhã, logo cedo, com suas mangas de várias qualidades, como sendo manga rosa - ah! manga rosa! - manga espada, que muita gente temia consumir, manga bacurí, chamada de "temerosa", pois tinha um caroço no alto da fruta parecendo um tumor e quando aberto, deixajava escorrer uma saumora parecendo - Ave Maria!!!- pus. Porém, o homem não ligava por isso. Na porta de minha casa, ele descia os balaios - e eram seis ou oito, se a memoria não me falha - para poder minha mãe escolher o que desejava comprar.
--- Quanto é isso? - perguntava a mulher.
--- Um mil reis - dizia o homem, com uma cara abusada, olhando para o outro lado ao mesmo tempo que "gritava".
--- "Verdureeeeeiro! Olha a verduuuura! Tem manga, abacaxi e banana! Verdureeeeiro! - gritava o homem, se abanando com seu chapeu de palha de carnaúba.
--- O senhor não quer vender! Por um preço desse! - rogava a minha mãe.
--- É o tempo, minha senhora. O tempo. Tá tudo caro no mercado! - respondia o verdureiro.
E tinha que esplicar o quanto custara um molho de verdura que ele comprara naquele dia. Mamão, sapoti, jaboticaba. Tudo pelo preço da cara.
--- É o fim do mundo, senhora! Não se pode mais viver! - dizia o verdureiro.
--- Mamão, eu tô botando no lixo. Esse, não quero! - dizia a mulher.
--- Leve o abacaxi. Dois por 20 centavos. Tome! Pode levar! - respondia o velho homem mais aquietado.
E chegavam outros fregueses, moradores da vizinhança, olhando de longe, as frutas - bananas, mangas, abacaxis -.
--- Quanto é esse? - perguntava alguém.
--- Três por um mil reis - respondia o verdureiro.
--- E as bananas? - perguntava um outro.
--- Um mil reis, a palma. - dizia homem.
--- Vigi. Que coisa cara! Lá em casa tem de graça! - respondia uma mocinha.
E o verdureiro fechava a conta do que a minha mãe comprara enquantos outros "fregueses" procuravam um molho de verdura, uns tomates, pimentões é até mesmo um pé de couve.
O homem, astuto, enfiava a mão no bolso da calça, ligeiro, para tirar o troco e se ouvia o tilintar das moedas no final da sacola do bolso da calça.
E, assim, o homem, de cor morena, roupas resgadas, cheirando a suor, todo encardido de poeira da rua, sandálias de rabicho quase não cabendo nos pés, calças encurtadas com o vira dado em suas bocas, era assim a figura do verdureiro.
De lá saía, gritando: "Verdureeeeiro! Olha a verdura! Verdureeeeiro!.".
Para mim, era uma manhã de festa, pois a minha mãe havia comprado verduras de todo o tipo, além de um sapoti, fruta gostosa, doce, e saborosa. Ela levava tudo isso nas mãos enquanto que eu e meu irmão faziamos a festa com o que havia sobrado para nós podermos desfrutar, ouvindo a advertencia de nossa mãe.
--- Não vá se engasgar com as cementes! - dizia ela, la de dentro da casa.
Ainda reclamava dos preços de tudo o que ela comprara.
--- Caristia! Não compro mais a esse homem! - dizia ela.
Mas só tinha esse homem para ela comprar! O que fazer!
No outro dia,a história se repetia com a mesma lenga-lenga da mulher com o verdureiro. Ele sorria de bom grado e minha mãe fazia cara feia, resmungando que aquilo era um roubo. E assim, era o progresso. Hoje, já não tem mais os verdureiros, com oito cestos nos dois ombros, pesados como que, chega fazia o homem arcar, quase beijando o chão com seus balaios entupidos de verdura, frutas, lagumes e coisa que até Deus duvida.

Um comentário:

Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto. disse...

Alderico,
O "Verdureiro" fazia parte de Natal de Ontem e de nossa infância.
Aproveito o comentário para dizer que indiquei seu blog para o Selo de Ouro, veja no "Natal de Ontem".
Abraços.