domingo, 25 de outubro de 2009

RIBEIRA - 350

Johanna entre a vocação e o amor por Gerold
- A PAPISA JOANA -

Uma mulher tem que viver disfarçada de homem para perseguir sua sede de saber. Parece puro Hollywood, mas não é: Johanna foi uma alemã do século 9º que chegou a Roma. Porém, historiadores ainda discutem sua existência.

Em 1996, o romance histórico A Papisa Joana, de Donna Woolfolk Cross, foi lançado, e logo se tornou best-seller mundial. Após várias tentativas frustradas de produtores norte-americanos, os direitos de filmagem foram adquiridos pelos alemães Martin Moskowicz e Oliver Berben, da Neue Constantin Film, que entregaram a direção de A Papisa a Sonke Wortmann (O Milagre de Berna). É verdade que o filme lançado neste final de outubro nas telas alemãs lembra bastante as grandes produções de Hollywood, e também foi concebido para o mercado internacional. Ao lado da alemã Johanna Wokalek (O Complexo Baader-Meinhof), que representa o papel-título, aparece um elenco internacional, como David Wenham (O Senhor dos Anéis), John Goodman e Anatole Taubman (Lutero). Johanna nasceu no ano de 814 num povoado da Saxônia. Seu pai, padre desalmado e déspota familiar, sonha que um dia os filhos do sexo masculino entrarão para o mosteiro, e ignora a menina altamente talentosa. Mas ela quer ler a Bíblia, e para tal pede ao irmão Matthias que lhe ensine a ler e escrever. Quando este adoece e morre, parece não haver mais perspectivas para ela. Somente a visita do erudito Aesculapius à aldeia traz um pouco de luz à sua vida. Admirado com os conhecimentos de latim e com a perspicácia da garota, ele passa a lhe dar aulas. Ao ser enviado para a Grécia, o estudioso recomenda à escola da catedral que recebe a jovem. Porém, em seu lugar, o pai envia o filho a Dorstadt, para onde Johanna também vai, fugindo do povoado. Na cidade, ela se dá plena conta de até que ponto a sociedade medieval encara as mulheres como inferiores e submissas ao homem.

"Como pode a mulher estar abaixo do homem na criação, se pensarmos como ela foi feita da costela de Adão? Adão, por sua vez, foi modelado com barro úmido." Com essas palavras, Johanna impressiona até mesmo o sibarítico bispo e acaba por ser aceita na escola. O conde Gerold a toma sob sua proteção, leva-a para casa, e entre os dois se desenvolve uma amizade que ao longo dos anos até mesmo se transforma em amor. Quando a esposa de Gerold fica sabendo dessa ligação, secretamente arranja um casamento para a rival, enquanto o marido se encontra em viagem. Justamente durante a cerimônia matrimonial, os normandos atacam a cidade e a devastam. Johanna é uma das poucas sobreviventes, e agora tem certeza de que, como mulher, não conseguirá realizar seus desejos.
Ela corta os cabelos e, vestida de monge, vai para Fulda, onde ingressa num mosteiro. Lá vive vários anos como "homem de medicina" respeitado, até surgir a ameaça de que sua identidade seja descoberta. A religiosa foge, peregrina até Roma, onde se encaja pelos pobres e cura muita gente. Ela é chamada para cuidar do papa Sérgio, então gravemente doente. Após tratá-lo com sucesso, avança ao posto de "conselheiro" do pontífice, e mais tarde até mesmo de "sucessor". Ao mesmo tempo, Gerold chega a Roma, e o amor entre os dois volta a se inflamar.
A Papisa é um filme com muitos momentos fortes, seus cenários são visualmente fascinantes. Quer a vida no povoado, no mosteiro ou mais tarde, em Roma: as imagens tão opulentas quanto sombrias da Idade Média são convincentes em todas as tomadas. Do ponto de vista da atuação, em contrapartida, o trabalho de Wortmann é menos do que brilhante. Nenhum dos membros do elenco realmente se destaca. Johanna Wokalek havia demostrado entusiasmo com a tarefa de representar a protagonista, de mostrar a luta de uma mulher ambiciosa entre a fé, amor e até mesmo falsa identidade. No entanto, embora tendo alguns bons momentos, a aparencia excessivamente femenina da atriz impede que ela seja convincente no papel de falso homem nos quadros da Igreja. Além disso, a música sobrecarrega a ação com uma emocionalidade artificial, o que é desnecessario, já que o filme fala por si. Enquanto isso historiadores e estudiosos da Igreja Católica negam que a história da papisa Joana tenha transcorrido desta forma. Ou que sequer tenha existido uma papisa.
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