quinta-feira, 29 de outubro de 2009

RIBEIRA - 353

- INTENTONA -
Nos idos de 1947, meu pai e eu seguiamos todas as tardes, do bairro do Tirol para o Quartel da Polícia Militar, perto do rio Potengi. Era alí que ele dava aulas aos soldados, cabos, sargentos e mesmo sub-tenentes. O prédio (foto) tinha sido o Hospital de Natal e, depois, o Liceu Industrial até que a Polícia Militar ocupou o lugar, por conta de que o Liceu tinha já o seu novo prédio, na Avenida Rio Branco e o Hospital, de há muito estava no prédio de Petrópolis como a denominação de Hospital Miguel Couto. Certa vez, um soldado ou sargento, não sei bem, me disse que ali - no prédio - já fora um local de muita "desgraça". Eu ouvi isso, e calei, até porque nem estava falando. E o soldado continuou a sua preleção: "Os comunistas quiseram tomar o poder e foi aqui que houve o enfrantamento. O prédio ficou todo marcado de balas disparadas pelos comunistas. Um "soldado" foi quem deu a proteção aos praças. Ele era municiador. E num derradeiro instante, ele foi morto pelos comunistas. Seu nome era Luis Gonzaga, morador no bairro das Rocas, alí onde tem a feira. Sabe onde fica?" perguntou-me o militar.
Eu era pequeno, nesse tempo, mas a narrativa não saiu de minha memória. O certo é que, com o passar do tempo eu li bastante sobre essa história: "Intentona Comunista". Foi iniciada na noite do dia 23 de novembro de 1935, há 74 anos. Nesse tempo, estava acontecendo uma solenidade no "Teatro Carlos Gomes" - hoje, Teatro Alberto Maranhão - da colação de grau dos alunos do Colégio Marista. O Governador Rafael Fernandes e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, estavam presentes e tiveram que se abrigar na residência de Xavier Miranda, nas proximidades do teatro e, depois, foram para o Consulado da Itália, sob os cuidados do cônsul Guilherme Letieri. O Prefeito Gentil Ferreira de Souza, também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob a proteção do cônsul Carlos Lamas.
No Quartel, os combates estenderam-se por várias horas, até acabar a munição, quando as forças legais se renderam. As comunicações telefônicas foram cortadas, resistindo apenas a estação telegráfica de Macaiba - municipio próximo a Natal - através da qual os legalistas pediram socorro à capital federal, no Rio de Janeiro. Durante os combates, o quartel da Polícia Militar resistiu, lutando contra um inimigo muitas vezes superior em número. No Quartel estavam apenas 42 soldados praças, cabos, sargentos, tenentes, capitães e mesmo os mais graduados. A resistencia terminou quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram, pulando o muro e tomando rumo do rio Potengi. Era um sufoco e tanto, cada um querendo escapar das balas dos comunistas de qualquer jeito.
Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um comitê popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, como ministro de Abastecimento, e Quintino Barros, 3º Sargento, músico do 21º BC, como ministro da Defesa.. O comitê se instalou na Vila Cicinati, até então residência oficial do governador, na Praça Pedro Velho, em Petrópolis. Durante a vigencia do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal atravessou momentos de grandes dificuldades, principalmente para aquisição de gêneros alimentícios, uma vez que os rebeldes saquearam muitos armazens e lojas de abastecimentos que atendiam à cidade. Entre os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M.Martins & Cia, Viana & Cia, M.Alves Afonso, etc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. Por onde os rebeldes passavam, implantavam o pânico.
No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado "Liberdade". que publicou a seguintes palavras: "Enfim, pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros, Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos mártires, centralizados e corporificados na figura legendária de Luis Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança".
Intentona Comunista foi o nome dado à tentativa de golpe contra o governo Getúlio Vargas, realizada em novembro de 1935 pela Frente das Esquerdas da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Planejada por oficiais e praças do Exército brasileiro, a ação militar, de natureza política, visava, sobretudo, a derrubada do presidente da nação, exigindo que em seu lugar fosse instalado om governo popular voltado para o fim das oligarquias, do imperialismo e do autoritarismo. O mentor do levante foi Luis Carlos Prestes, capitão do Exército e líder tenentista convertido ao comunismo. A maioria das versões sobre esse episódio considera que Prestes supunha ser o programa nacionalista da ANL bem atraente, e por isso mesmo capaz de atrair partidários não só entre operários e trabalhadores do campo, mais também em meio aos pertencentes à chamada burguesia "progresista" contrária ao imperialismo e facismo. O levante eclodiu primeiramente em Natal (Rn), no dia 23 de novembro; depois em Recife (25 do mesmo mês), e finalmente no Rio de Janeiro (dia 27). O episódio mais dramático do levante comunista foi a tentativa feita pelos rebelados para conquistar o Regimento de Aviação no Campo dos Afonsos, à época ainda integrada ao Exército, pretendendo com isso apossar-se das aeronaves lá estacionadas e com elas bombardear a cidade do Rio de Janeiro. No combate, morreram 28 militares. Para lembrá-los foi erguido na Praia Vermelha, um monumento em homenagem aos herois.
Em Natal, o movimento começou ao anoitecer de uma sábado, com dois sargentos, dois cabos e dois soldados do 21º Batalhão dos Caçadores. Aproveitaram-se do licenciamento do final de semana e invadiram a sala do oficial de dia, prenderam o oficial e dominaram o aquartelamento. A seguir, entraram na Unidade, bandos de civis. Apoderaram-se do armamento e das munições do Exército e distribuiram-se em grupos para diversos pontos da cidade. Esses bandos de "agitadores" engrossavam-se no caminho com inúmeros adesistas "aventureiros", a maioria dos quais nem sabiam exatamente do que se tratava, diz o depoimento do blog TERNUMA. Investiram, em seguida, contra o Quartel da Polícia, onde era comandante o Coronel José Otaviano Pinto Soares. Os comunistas conseguiram manter uma posição por 19 horas até os soldados se renderem por falta de munição. Segundo a Ternuma, casas comerciais e residencias particulares foram saqueadas e depredadas.. Navios no porto foram ocupados. O Comitê Popular Revolucionário foi integrado por o funcionário estadual Lauro Cortez Lago, Ministro do Interior; sargento músico Quintino Clemente de Barros, Ministro da Defesa; sapateiro José Praxedes de Andrade, Ministro do Abastecimento; funcionário postal José Macedo, Ministro das Finanças. estudante João Batista Galvão, Ministro da Viação; cabo Estevão, Comandente de 21º Batalhão de Caçadores e sargento Eliziel Diniz Henriques, Comandante Geral da Guarnição Federal. Bancos e repartições públicas foram arrombados. Diante do clamor da população, por atos de vandalismo, estupros e pilhagem, houve fuga da capital. As colunas rebeldes ocuparam as localidades de Ceará-Mirim, Baixa Verde, São José do Mipibú, Santa Cruz e Canguaretama. A primeira reação partiu de Dinarte Mariz, chefe político no interior que conseguiu surpreender e derrotar um grupo comunista. Hoje, após a Estação Rodoviaria de Santa Cruz, tem um marco do morticinio havido ali. Com a derrocada, após três dias no poder do Governo em Natal, os invasores bateram em retirada, dissolvendo-se o grupo, levando o que podiam, sem a menor resistencia. Era o fim do Governo Comunista. Após três dias de terror, Natal voltou à calma.
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