sábado, 31 de outubro de 2009

RIBEIRA - 355

- ASTERIX -
Eu era rapaz, nesse tempo. Foi bem depois do lançamento da história de Asterix quando um amigo me orientou a comprar as tais revistas. Se não me falha a memória, foi no ano de 1967. Esse foi um "buum" para as minhas coleções de história em quadrinhos. Antes, nos anos de 1952, eu já havia colecionado Xuxá, Capitão Kid, Super-X, Ninhoka, Superhomem, Batman, Tarzan e tantos outros heróis de minha infância. Eu tinha uma verdadeira sede para adquirir um novo exemplar de uma revista desse tipo. Certa vez, eu adquiri um almanaque das revistas em quadrinhos, de um tamanho grande, assim, como um jornal, capa cartonada, papel de jornal, daquele bem ruim. Um lançamento da Editora Brasil-América (EBAL). Em meio a tudo isso, tinham outras revistas que também eu as comprava, como Recruta Zero e tantos outros. Então, apareceram as revistas Tin-Tin, Salamino e Mortadelo, e Asterix além de outras bem ao gosto do público infanto-juvenil e de homens feitos.
Hoje, as aventuras dos anti-heróis gauleses têm fascinado gerações e ocupado até mesmo cientistas políticos. "Asterix e os godos" é uma importante contribuição para o estudo das relações franco-alemãs no início de 1960.
Em 1959, o milagre econômico dominava a Europa. Os heróis protagonizavam histórias de amor, salvavam moças e se apaixonavam. Ninguém se interessava por aventuras de romanos e gauleses. Mesmo assim, em 2009 Asterix celebra 50 anos.
Na realidade, Asterix, Obelix e companhia não eram para existir. O plano original era criar uma série de histórias em quadrinhos sobre o clássico Le roman de Renard para o lançamento da revista francesa Pilote. Os cartunistas encarregados de adaptar as aventuras da ladina raposa medieval eram René Goscinny e Albert Uderzo. Porém, após escrever e desenhar a primeira página, descobriram que outro autor de HQ já se ocupava do mesmo material. E, pressionados pelo tempo, criaram os anti-heróis Asterix e Obelix em uma noite.
Assim nascia um sucesso internacional e uma mina de ouro para seus criadores: 50 anos depois, os quadrinhos já venderam 300 milhões de exemplares, foram lançados 12 filmes baseados neles. As aventuras dos gauleses já foram traduzidas em 100 idiomas, na Alemanha também nos dialetos bávaro, saxônio e suábio.
As personagens de Goscinny e Uderzo são também a alegria de historiadores e filólogos. Docentes de grego antigo e latim usam os diálogos nos balões para explicar conjugações e declinações. Já se publicou literatura científica de acompanhamento sobre Asterix, e até mesmo cientistas políticos tem se ocupado de suas aventuras. Uma chave desse sucesso é o fato de a publicação apresentar uma imagem oposta ao mundo dos heróis dos filmes e quadrinhos estadunidenses, algo tipicamente francês, como explica Uderzo. E assim, os gauleses tomaram o lugar dos índios. "Eu queria um anti-herói, um baixinho", lembrou Goscinny certa vez, numa entrevista. "A idéia era Asterix ser um nanico, tão perceptivel quanto um sinal de pontuação. Para mim era importante que fosse uma figura engraçada por si". Além disso, os protagonistas têm humor e senso de observação, são rebeldes simpáticos e justos, cujas histórias já se tornaram parte do patrimônio educativo. Asterix é adorado tanto pelos escolares e crianças quanto por pais e professores: ele une as gerações.
O tema das relações franco-alemãs foi abordado no terceiro número da série clássica, Asterix e os godos, em 1963. Esse está longe dos simpáticos e levemente provocadores clichês humorísticos das outras aventuras. Os alemães são bárbaros, são líderes e carrascos com obsessão militar. E nesse número, Asterix não ajuda a ninguém. Isso reflete as esperiências pessoais dos autores. O politólogo Alfred Grosser, um dos mais destacados teóricos da reconciliação franco-alemã, chega a classificar esse número como uma importante obra política, por retratar o estado das relações binacionais no início da década de 1960.
A primeira fase do lançamento de Asterix na Alemanha tampouco foi fácil. Em 1965, Rolf Kauka, editor das histórias com os personágens Fix e Foxi, comprou os direitos de publicação. Porém, ao invés de deixar as figuras em sua ambientação original, ele as germanizou. Asterix virou Siggi, Obelix tornou-se Barbarras. Numa tentativa de refletir a situação política então atual, os gauleses foram transformados em germanos ocidentais, os romanos viraram norte-americanos mascadores de chicletes. A graça se perdeu, o lançamento estava fadada ao fracasso. Porém, Goscinny e Uderzo salvaram sua criação, retirando os direitos concedidos a Kauka. Nove anos após a primeira edição francesa, era lançada uma tradução adequada na Alemanha: Asterix der Gallier. Os alemães, que até então não eram grandes apreciadores da HQ, tornaram-se fãs ardorosos.
Em 1977, soou a hora mais triste na história de Asterix e Obelix. René Goscinny foi ao médico para exames de coração e circulação sanguínea. Durante o teste de esforço, ele morreu diante dos olhos dos médicos. Uderzo teve que continuar a obra sozinho. Desde então, os críticos apontam uma queda de qualidade nas histórias. Além disso, há as brigas entre o autor e sua filha, que originalmente deveria levar o trabalho adiante. Querelas com as editoras também afetam o rendimento de Albert Uderzo. As últimas duas edições acumulam poeira nas prateleiras das livrarias. Assim mesmo, 50 anos depois a popularidade de Asterix e Obelix é indiscutivel. O que o brutamontes Obelix não consegue, o nanico Asterix alcança pelos meios da esperteza. O segredo do sucesso é ser diferente.
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Um comentário:

Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto. disse...

Astérix realmente é que há de melhor em quadrinhos e o desempenho de Gérard Depardieu como Obelix é fenomenal.