quinta-feira, 9 de outubro de 2008

RIBEIRA - 148

PONTA NEGRA
Quem vê, hoje, essa praia tão deserta, com uns dez rapazes e crianças procurando iscas, nem imagina que é a Ponta Negra de hoje. Umas duas ou três casas e uma choupana de palha de coqueiro, essa era uma praia deserta, longe de tudo e de todos. Por lá não havia casas, a não ser as moradas dos pescadores que ficavam no alto, por trás do morro, escondidas dos olhares indiscretos de quem as pudesse ver. Uma silhueta branca já na beira-mar, indicava que ali havia pedras. Pedras miudas e cheias de umas ostras que cortavam a pele dos pés ou mesmo dos joelhos de quem tivesse a audácia de atravessar por lá. Ponta Negra guarda segredos de nossa história, de 1645, quando os holandeses desembarcaram na terra e rumaram para dentro, indo terminar em Cunhaú, no municipio de Canguaretama, e trucidaram 69 pessoas, inclusive o sacerdote do lugar, padre André de Soveral, num dia de domingo, quando o sacerdote rezava missa. Mais para frente, no tempo da II Guerra Mundial, os norte-americanos, fizeram alí, em Ponta Negra, uma base para proteger a costa de Natal (Rn) da invasão, se acontecesse, dos nazistas, que rondavam o mar. O ponto escolhido pelos militares era onde é, hoje, o entrocamento com a Via Costeira. Ponta Negra vivia da pesca, do carvão vegetal e das frutas que as mulheres coletavam nas matas próximas, como o cajú, a mangaba e a pitanga, frutas bem comuns naquela região. Para vir a Natal, as mulheres caminhavam por uma estrada feita pelas próprias pessoas, sem calçamento algum. Era apenas uma vereda. As mulheres, moças e meninas vinham por aquele caminho, trazendo em suas cabeças e nos braços, as cestas cheias de frutas para vender no Mercado Público. De volta, pegavam o mesmo caminho que lhes servia. Os homens trazendo peixes, também faziam o mesmo trajeto pelo igual caminho. Os que vendiam carvão, ja faziam por outro percurso, com seus jericos. Caminhavam por onde hoje é a av. Erivan França. Nesse trajeto, algumas mulheres também caminhavam a pé com os seus maridos e filhos. Porém, na praia, onde pode se avistar um pouco do que hoje chama a atenção de todos: "o morro do careca". Olhando-se bem, pode-se notar na foto um pedaço do morro, já no seu final. Os barcos de pesca, mais jangadas, já não estavam ancoradas, puxadas em rolos de coqueiros até à margem da praia. Com certeza, os pescadores estavam em alto mar na sua faina dioturna, pescando para viver. Interessante: os peixes precisam morrer para dar a vida a quem consome.Ponta Negra também se celebrizou pela feitura de bicos e rendas feitas pelas mulheres que ficavam em casa à espera dos seus maridos. Em o rolo enorme de pano, essas rendeiras faziam seus desenhos, pregando em alfinetes e puxando em bilros para um lado e para o outro, numa sinfonia da qual só se ouvia o tric-trac dos bilros batendo uns nos outros. A renda é um tecido transparente de malha aberta, fina e delicada, que forma desenhos variados com entreleçamentos de fios de linho, seda, algodão ou até mesmo de ouro. São, por vezes aplicados como guarnição de vestidos, alfaias e paramentos. Em sua maioria, as rendas compõem-se de dois elementos: o desenho ou motivo; e o fundo,que mantém o desenho unido. A arte de tecer renda ainda é passada entre gerações, de mãe para filha.
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foto cedida por: nataldeontem.blogspot.com

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