quarta-feira, 1 de outubro de 2008

RIBEIRA - 137

O CASTELO

Essa história foi contada por minha mãe. Havia, em Natal, lá pelos anos de 1920 ou coisa assim, um rapaz que namorava e já era noivo, de uma moça que residia na Av. Deodoro, na confluência onde hoje é uma agência bancária. A casa da moça, cujo nome nunca soube, ficava na metade da rua pelo lado do sol, ou seja, pelo lado esquerdo de que desce a rua saído da Praça Pio X. Parece que estou vendo a casa. Toda alpendrada, muito encantadora, com a sua frente de um cómodo para fora e a entrada ficando um pouco para dentro. Essa era a casa da moça, cujo nome não sei mesmo. Sei que ela era noiva de um rapaz (seu nome também minha mãe nunca me disse) de boa aparência. Isso quer dizer: "Um jovem rico". Rico, naquele tempo, era quem tinha mais dinheiro que outros rapazes. Essa era um rapaz rico, de boa aparência. Pois bem!. Sempre que o jovem deixava a casa da noiva, ouvia essa recomendação:

---- "Elegância! Elegância! "

Isso porque o jovem tinha, ao que parece, um defeito físico e andava um tanto arqueado. Por isso, a jovem pedia que ele tivesse um pouco de elegância. Ele devia ser "elegante". Esse sermão, ele ouvia todo santo dia em que fazia a visita de noivado. Pois bem! Porém o jovem tinha outros planos em sua mente.: a construção de sua casa, na Rua João Pessoa, que nesse tempo tinha outro nome - Coronel Pedro Soares. O jovem rapaz deu início à construção do seu castelo em uma área praticamente desabitada, com poucas casas ao seu redor. De castelo, não tinha esse nome. Era apenas uma casa alpendrada, de um só andar: o de baixo. Mesmo assim, era uma construção soberba, com janelas por todo lado além de uma porta principal. O castelo tinha uma escadaria que deixava suspenso do rés chão, dando a impressão que alí era um sobrado. Era uma escadaria alongada, parecendo as construções de residências que se fazia, em sua época, na França e em outros países da Europa. Subindo a escada, a pessoa chegava a outro vão que se projetava para o oeste e para o leste, todo cheio de pilares pequenos. Quem saísse do solar, terminava em um portão de ferro, por onde se entrava, do mesmo jeito. Eu nunca entrei naquele solar, apesar de olhar, de fora, e vê que tinha alí alguns moradores. Bem! Isso não importa. O caso foi que o rapaz concluiu a sua obra. A casa ou casarão estava terminado para se poder entrar e morar - residir -. Foi então que um fato aconteceu: a morte do jovem noivo. Ao que parece, de uma parada cardíaca.

Depois do enterro, no Cemitério do Alecrim, a jovem noiva voltou para a sua casa e se trancou no quarto para não mais sair. A ilusão de um nobre casamento terminara naquele dia. E ela não mais se interessou pela vida, tornando-se reclusa para o resto de sua vida. O seu dizer de "Elegância" silenciara para sempre. Como para sempre ficou o Castelo ocupado apenas por uns caseiros durante muitos e muitos anos. Quantas vezes eu passei por sua calçada, olhando aquela mansão e a me perguntar por quanto tempo ainda ficaria ali, abandonada. E foi até que um estabelecimento bancário ou mesmo um consorcio, lhe comprou a posse e no lugar se ergueu um novo edifício. O Castelo, desse modo, terminou a sua elegante e primorosa história. Dos ferros polidos e bem feitos, parecendo uma escala musical de nada sobrou. E assim de nada sobrou do muro que rodeava o casarão. Muito menos as portas, portais, janelas. Tudo o que se via parecia um conto de fadas que o tempo não apagou. Dos roseirais que, um dia, se acercava do velho porém nobre casarão, o tempo levou para sempre. Das mangueiras que alhumbrava as doces tardes de todos os dias, bem como as manhãs, talvez, tiveram seu fim por um corte de machado ou uma lâmina afiada de uma incómoda serradeira.Hoje, ninguém se pergunta sobre a elegância da casa que um dia alí existiu.


Nenhum comentário: