sábado, 18 de outubro de 2008

RIBEIRA - 157



LAMPIÃO E SEU BANDO

MARIA BONITA

O CANGAÇO foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao inicio do século XX. O cangaço tem suas origens em questoes sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa; viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo. O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os "políticos", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com caracteristicas de banditismo. Os cangaçeiros conheciam as caatingas e o território nordestino muito bem, e por isso, era tão dificil serem capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo tipo de situação. Conheciam plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rota de fuga e lugares de dificil acesso. O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Castelo, "Jesuíno Brilhante", do Rio Grande do Norte, região de Caicó, que agiu por volta de 1870. E o último foi o de "Corisco" (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940, no interior da Bahia, onde saiu ferida a sua mulher conhecida por Dadá. O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o "Lampião", denominado o "Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os Estados do Nordeste brasileiro. Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, ele não entrou por conta da devoção à padroeira do lugar, Santa Luzia, principalmente porque ele já perdera um olho por conta de um espinho de cardeiro. Ele não veio, mas a pedido de um fazendeiro do Ceará, mandou o seu grupo que terminou todo dizimado. Foi a pior contenda já sofrida pelo bando de Lampião. Por parte das autoridades Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão ele encarnou valores como bravura, o heroismo e o senso de honra. Virgulino Ferreira nasceu em Serra Talhada sertão de Pernambuco, a 7 de julho de 1897 e foi morto em uma emboscada preparada pela polícia, de quem era inimigo, e tratava os soldados como "macacos", na cidade de Aracajú (?), Sergipe, a 28 de julho de 1938. O seu nascimento, porém, só foi registradono dia 7 de agosto de 1900. Uma das versões a respeito de sua alcunha é que ele modificou um fuzil, possibilitando-o a atirar mais rápido, sendo que sua luz lhe dava a aparência de um lampião.
Virgulino foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália. Lampião teve uma infancia comum a todos os meninos de uma baixa classe média sertaneja: aprendeu a ler e a escrever, mas logo foi ajudar o pai, pastoreando seu gado Trabalhou também com seu pai como almocreve - pessoa que transportava mercadorias a longa distância no lombo de burros. Quando adolescente, acompanhado por seus irmãos Levino e Antônio, envolveu-se em crimes por questões familiares. Na época de adolescentes, ele e seus irmãos, Levino e Antônio já tinham fama de valentões, andavam armados e gostavam de arrumar confusão nas feiras livres para impressionar as moças. Tambem tinham o costume de pedir dinheiro por onde passavam. No sertão de sua época, dizia-se, homem macho e de valor, tinha de ser brigão. Seu pai era um homem tranquilo e pacífico. Após várias tentativas que procuravam finalizar a rixa (por questões de disputa de terrase demarcação de divisas entre as propriedades rurais) existente contra a família do seu vizinho José Saturnino, acabou sendo morto pelo delegado de polícia Amarilio Batista pelo tenente José Lucena, quando o destacamento procurava por Virgulino, Levino e Antônio, seus filhos.
No ano de 1920, com o objetivo de vingar a morte do pai, Lampião alistou-se na tropa do cangaceiro Sebastião Pereira, também conhecido por Sinhô Pereira. Em 1922, Sinhô Pereira decidiu deixar o cangaço e passou o comando para Virgulino (Lampião). Sede de vingança, cobiça e concentração do poder que por Sinhô Pereira lhe fora outorgado, levaram Lampião a se tornar um dos bandidos mais procurados e temidos de todos os tempos, no Brasil. Nesse mesmo ano realiza o primeiro assalto, à casa da Baronesa de Água Branca (AL), na qual seus homens saquearam vultosa quantia em dinheiro e jóias.
Em 1926, refugiou-se no Ceará e no dia 04 de Março recebeu uma intimação do Padre Cicero Romão Batista em Juazeiro do Norte (Ce). Compareceu a sua presença, recebeu um sermão por seus crimes e ainda a proporta de combater a Coluna Prestes que, naquela época , se encontrava no Nordeste. Em troca, Lampião receberia anistia e a patente de capitão dos Batalhões Patrióticos, como se chamavam as tropas recrutadas para combater os revolucionários. O Capitão Virgulino e seu bando partiram à caça de Prestes, mas ao chegar em Pernambuco, foi perseguido pela polícia e descobriu que nem a anistia nem a patente tinham valor oficial. Voltou, então, ao banditismo
Em fins de 1930 ou começo de 1931, escondido na fazenda de um coiteiro - nome dado a quem acolhia os cangaçeiros - conheceu Maria Déia Nenen, a mulher de um sapateiro, que se apaixonou por ele e com ele fugiu, ingressando no bando. A mulher de Lampião ficou conhecida como Maria Bonita e, a partir daí, várias outras mulheres se integraram ao bando. Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto da Folha, no Estado de Sergipe. Lampião foi seu próprio parteiro. Como se tratava de um periodo de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manoel Severo, na Fazenda Jaçoba.
No ano de 1936, o comerciante Benjamim Abrãao, com uma carta de recomendação do Padre Cícero consegue chegar ao bando e documenta em filme Lampião e a vida no cangaço. Esta "aristocracia cangaceira", como define Lampião, tem suas regras, sua cultura e a sua moda. As roupas, inspiradas em herois e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, são desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião. Os chapeus, as botas, as cartucheiras. os ornamentos de ouro e prata, mostram sua habilidade como artesão.
Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraido pelo Dr. Brangança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas de internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto:
"Doutor, o senhou não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião"
No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Por volta das 5;15 do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o ofício e se prepararem para tomar café, foi quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais. Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa. O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trintae quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Bastante euforicos com a vitória, os policiais saquearam e mutilaram os mortos. Roubaram todo o dinheiro, o ouro e as jóias. A força volante, de maneira bastante desumana, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (que tiveram as cabeças arrancadas com vida). Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro. Depois de muitos anos, em conflito com parente das vítimas, inclusive o economista Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, as cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas a 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois.


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