quarta-feira, 4 de novembro de 2009

RIBEIRA - 360

- RITOS -
Sobre as orígens da Maçonaria tem-se gasto rios de tinta e escritos as mais fantasiosas histórias, Desde os mistérios de Elêusis ao rei Salomão e à Ordem do Templo, tudo tem servido a maçons, desejosos de exaltar a antiguidade da Ordem, e a profanos não menos desejosos de denegrir essa mesma Ordem, para escreverem patranhas e balelas, confrangedoras pela ingenuidade e ignorancia que revelam. Ligação direta com o passado, só a encontramos no que respeita ao corporativismo obreiro. Como diz o historiador da Maçonaria Paul Naudon, numa frase concisa e perfeita, "a franco-maçonaria apresenta-se como a continuação e a transformação da organização dos mesteres da Idade Média e do Renascimento, na qual o elemento especulativo tomou o lugar do elemento operativo". As corporações dos mesteres conheciam, é claro, para além do seu caráter puramente profissional, preocupações de outra natureza: religiosa, iniciática, caritativa, cultural até. Tinham seus patronos próprios, suas festas rituais - muitas vezes remontando à Antiguidade, mas com "disfarce" cristão -, seus mistérios, sua intensa solidariedade. A corporação dos pedreiros, ligados à nobre arte da arquitetura, incluía-se entre as mais importantes, respeitadas e ricas em simbologia e em segredos. Nala se fundiam princípios, práticas e tradições de construção que remontavam aos Egípcios, aos Hebreus, aos Caldeus, aos Fenícios, aos Gregos, aos Romanos e aos Bizantinos, em suma, a todo o corpus da civilização europeia. Nesta medida, e só nela, se pode ligar a Maçonaria a uma remota Antiguidade. É certo que não deixa de impressionar, na cristalização maçônica de hoje, a existencia de todo um conjunto de elementos que lembram a organização das órdens da cavalaria e, sobretudo, o ideário dos Templários. Grande parte do vocabulário maçônico está ligado, por sua vez, ao judaísmo biblíco. Parece, todavia, que esta associação se deve mais à influência que os Templários exerceram na construção civil e religiosa e nas próprias corporações dos pedreiros do que a uma ligação direta entre Ordem do Templo e Ordem Maçõnica. Não convém esquecer que boa parte dos rituais, ditos escocês e francês, com sua complexa emblemática, foi "inventada" no século XVIII nas cortes e salões aristocráticos da Alemanha, França e Inglaterra. As corporações dos pedreiros, como muitas outras, podiam aceitar no seu seio determinadas pessoas que, em rigor, lhes estariam à margem. Era o caso de estrageiros, de clérigos, de agregados à profissão, de personalidades desejosas de se integrarem ou de utilidade à corporação. Já desde o século XV, por exemplo, que as corporações maçônicas escocesas tinam impetrado do rei o privilégio de terem à sua frente, como "grande mestre", um nobre de boa linhagem, hereditário. No século XVII, muitas lojas de pedreiros britânicas foram reorganizadas segundo o modelo das academias italianas. Estes maçons aceites tornaram-se, com o andar dos tempos, tão numerosos que imprimiam à corporação de que faziam parte um facies completamente diverso do anterior. Nas corporações onde tal começou a acontecer, o elemento operativo foi cedendo lugar ao elemento especulativo. Uma transformação deste tipo levou centenas de anos a completar-se. Só na Grã-Bretanha se conservaram o simbolismo e o ritual de tempos remotos, enriquecidos pela continuidade secular da sua prática.
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