terça-feira, 10 de novembro de 2009

RIBEIRA - 367

- AUTO-ÔNIBUS -
Certa vez, eu estava no escritório do meu tio Zeca, quando ouvi de Zé Areias, que também estava lá, uma conversa que não me deu importância. Isso era nos ídos de 1952. Manhã de calor. Fazia um sol aloprado que invadia todo o escritório, na Rua Dr. Barata, ao lado da Caixa Rural. Foi então que Zé Areias veio com essa conversa: "Pruuuts. É. O bonde vai se acabar". Tal conversa em nada me importava. Ele disse que o bonde ía se acabar. Falou com sua voz calma, dando aquele som de início e nesse ponto, parece ter ficado triste. Eu estava lendo o meu Super-X, ávido pela aventura que desenvolvia ali, naqueles quadrados. E Zé Areais tinha lido um jornal antigo que o meu tio colocava na banca, para quem quisesse ler, pois o dele, era o jornal do dia. Meu tio nada falou. Estava de cabeça abaixada, fazendo as suas tradicionais contas. Se bem me lembro, Zé Areias falava por conta de um auto-ônibus que fazia a linha Natal-Interior. Mas isso já era há muito tempo. Nem tinha nem graça!. Certa vez, eu tinha visto um tal de auto-ônibus fazendo um percurso pela cidade. Eu acabara de ir ao consultório do meu outro tio, Segundo, cujo nome era João Leandro. Era um carro pequeno, para umas oito ou dez pessoas. Seu modelo identificava ser bem antigo, pelos idos de 1930, mais ou menos. O veículo era todo feito de madeira, nas suas laterais, cabendo a frente, o motor, ser coberto com folha de flandre e um local de se subir para embarque também feito de igual material. De tais carros, tinham muitos, como caminhões de três boleias e até mesmo um ônibos que fazia a linha Rocas-Alecrim, em Natal. O mais interessante nos caminhões de três boleias, era um que o motorista buzinava um montão de vezes, tocando a melodia "Asa Branca". Quando o caminhão passava por perto de minha casa, eu corria para ver o célebre baião que o motorita manuseiava. Era linda "pra burro" aquela música. O caminhão passava para entregar leite, principalmente, logo cedo da manhã quando chegava a Natal, vindo das brenhas do interior. Portanto, o comentário de Zé Areias, a mim, não fez falta. O certo é que cinco anos depois, os bondes foram retirados de linha após 50 anos trafegando, fazendo a cobertura de quase toda a cidade: Ribeira - antes, era até as Rocas -, Cidade, Petrópolis, Tirol, Alecrim e Lagoa Seca. Ainda me lembro do tombo que levei quando fui à Lagoa Seca e quis fazer o que os outros faziam: saltar do bonde em movimento. Ao pular do bonde, caí de frente com a cara enterrada no chão no percurso do bonde onde é, hoje, o Banco do Brasil, naquele bairro. O bonde se acabou de vez na cidade. E eu ainda me lembro dos seus percursos que ele fazia na capital. O auto-ônibus eu já me lembro quando peguei um, cujo nome era Marinete e levei uma pancada na cabeça ao descer do carro. A Marinete era baixa e quem viajava tinha que ter o cuidado de não se levantar de vez. Caso contrário, era tombo e queda. Dessa vez em diante em fiquei "acordado" com as "danadas" das Marinetes. Creio que, nunca mais andei em um daqueles carros. Natal já era servido por um ônibus, nesse tempo. Somente um. Rocas-Quintas. Mas, para mim, era bem melhor seguir de bonde. Bem melhor, mesmo. Hoje, eu prefiro viajar de taxis, que se chamava, no meu tempo que aprendi a trabalhar, de carro-de-praça.
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