quinta-feira, 19 de novembro de 2009

RIBEIRA - 377

- ESTRADA DE FERRO -
Quando Miguel Leandro - o velho - morreu, assumiu o tabelionato do 1º Cartório de Natal. o seu filho Crispin. Porém, foi por pouco tempo. Três meses depois Crispin veio a falecer, no dia 22 de setembro de 1935, com apenas 37 anos de idade. E em seu lugar ficou Miguel Leandro Filho, o ultimo filho do velho Miguel. De cordo com a data, Miguel Filho nasceu no dia 3 de maio de 1916 pondo termo aos nascimentos de filhos e filhas de Miguel Leandro e Estefânia Leandro. Com isso, foram nascidos 21 filhos sendo que apenas 16 escaparam com vida. Com a morte de Crispin em setembro de 1935, ficou o Cartório sob o tabelionato de Miguel Filho. Pelo que se sabe, o filho Miguel esteve nesse cartório até 1939 quando conseguiu um outro da cidade de Florânia, antiga Flores. Nesse Cartório, ele passou até 1949 quando então veio para Sao José do Mipibu e ali ficou por alguns anos, vindo então para Natal, onde assumiu o 6 º Cartório por volta de 1955. Nesse tempo, o 6º Cartório era no Alecrim, na rua Presidente Bandeira. Só então Miguel foi para Macaiba, no ano de 1960, e dali em diante se aposentou, tendo falecido em 18 de janeiro de 1974, aos 58 anos de idade. O Cartório de Macaiba ficou como herança para a filha de Miguel, Neuma Leandro. Ao todo, Miguel, que era casado com Maria de Lourdes, foi pai de apenas 4 filhos: Neuma, Miguel - que nós chamavamos por Miguelzinho -, Maria do Carmo, conhecida por Maliliu, e José de Anchieta. Desses quatro morreram os dois homens - Miguel e Anchieta -.
Eu lembro bem que, quando José, meu irmão, era ainda pequeno, com apenas dois anos, nós fomos passar uns dias na casa de tio Miguel, em São José do Mipibú. Alí era uma cidade pequena com a sua principal rua sem qualquer calçamento. Um dia, eu fui até a Estação Ferroviária ver a passagem do trem que saía de Natal, todos os dias, às 5,30 da manhã. O trem chegou na estação logo cedo da manhã, tendo permanecido por um curto período de tempo onde os passageiros embarcavam para seguir viagem por um longo percurso. Alguns desses passageiros rumavam para o Redife (Pe). Eu percorri os vagões do trem apenas para ver quem era de Natal, mesmo sem conhecer ninguém. Curiosidade. Quando o maquinista apitou para sair, eu já tinha saido do interior dos carros. O trem fumegou e partiu e eu fiquei a vislumbrar aquele monstro de ferro seguindo para um lugar bem distante de onde eu estava: Recife. Miguelzinho estava comigo nessa ocasião. Ele era um primo e tanto, muito querido por mim, por seu modo de brincar e conversar. Nos dias que eu passei em sua casa, ele me convidou para ir até um município vizinho, de nome estranho; Paparí. Alí havia uma bica de água que o povo tomava banho. Essa bica de banho era famosa por varios municipios vizinhos. Nós fomos a pé e voltamos também. Eu lembro que segui por um aterro onde era só capim e mato silvestre. A distância era bem curta, dando para nós chegarmos em poucos minutos. Em Papari, tomamos banho a valer. De volta, contamos aos nossos pais e logo depois, com um dia ou dois, foram todos da familia passear em Papari, hoje chamada de Nisia Floresta: Lourdes - a mãe da meninada -, Neuma, Maliliu e Miguel. Da nossa parte: Meu pai - João -, a minha mãe - Nera -, meu irmão infante e eu. Todos nós fomos tomar o mais famoso banho de bica de Paparí. Da viagem faltou tio Miguel, pois como tabelião não podia se ausentar do serviço. Nessa eterna e querida viagem, todos nós fomos a pé, pois nem existia os tradicionais carros de praça, naquele tempo. O chão era acidentado entre São José do Mipibú e Papari. Calçamento, mesmo de pedra facejada, era coisa que nem se ouvia falar. Quando chegava a noite era a tradição de se ir à Igreja assistir o terço. A iluminação urbana era apenas do centro da cidade. Por sinal, fraca. Um motor de luz era ligado para fazer a tal iluminação. Quando dava 10 horas da noite, era tudo breu. A Prefeitura de São José suportava até aquele horário. O povo que estava na rua já sabia que era hora de dormir. Da energia de Paulo Afonso? Nem se falava!. Aliás, a Usina de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, veio produzir luz elétrica em janeiro de 1955 para atender principalmente o Estado da Bahia. Em Natal, a luz chegou, de fato, em 1970, apesar de em 1962 já ter força motriz em grande parte da cidade. A construção da hidroeletrica deu-se principalmente no Governo de Getulio Vargas. Foi uma verdadeira revolução a infra-estrutura do Nordeste. De nossa parte, foi um deslumbramento se passar poucos dias em casa de tio Miguel. Depois desse tempo o negócio voltou à rotina, com nós, filhos de Nera, passeando apenas nas casas de nossas tias que aqui viviam e, um dia, morreram.
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