domingo, 22 de novembro de 2009

RIBEIRA - 382

- GRANDE PONTO -

No ano de 1906 nascia na família Leandro mais uma herdeira. Seu nome: Leonor. Contudo, como era costume da casa, todos os que estavam vivos lhe chamaram, de imediato, de Nôza ou Nousa. É a forma de se por o acento circunflexo sobre o "o", pois o codinome era "Nôza" mesmo. Uma criança como as demais. Só não era gorda. Também, magra não era. Um corpo médio. Em 1906 a cidade ainda era pequena. Porém, se alongava para as margens do que era chamado Alecrim. E depois, tinha a chamada Quintas. Esse nome veio por conta de um portugues que estava devendo uma enormidade ao governo de Portugal e pediu um fôro em Natal. Um quinhão de terra que ele pagaria com os quintos do que apurasse com os seus negócios. Daí surgiu o nome de Quintas ou quinta parte do negocio que o homem faria. E até hoje está o local com seu nome de Quintas. Bem! Mas isso é outra história!

Tia Nôza, eu me lembro de tê-la conhecido quando eu já estava com meus 4 ou 5 anos. Nós moravamos na rua Trairy, esquina com a av Hermes da Fonseca. Nesse tempo, se bem me lembro, o Brasil ainda estava em guerra com os alemães. Depois de nossa casa, por trás, tinha outra, de seu Manoel Revoredo, homem que vendia carvão. E vizinho a seu Manoel tinha um terreno baldio onde se depositava os restos dos aviões destroçados. Não sei por que depositavam alí aqueles lixos de aviões. Eu vivia brincando na lixarada de aviões. Coisa mais linda que eu ví. No terreno em frente da minha casa tinha um onde morava o velho Falcão, sua mulher Macrina, e seus filhos e filhas. Foi aí que eu me lembro de tia Nôza fazendo bordados em sua máquina de costura. A nossa casa não era grande. Também não era pequena. Hoje, tem uma casa no local, diferente apenas na sua forma. Mas, o tamanho é o mesmo. Pelo que soube, tia Nôza viajou para Porto Alegre (Rs), na companhia de meu tio Jairo que esteve em Natal em 1939. E viveu por lá por alguns anos. Quando retornou, já devia ser o ano de 1945. Então, foi nesse tempo que me lembro de tê-la conhecido. Minha avó, Estefânia, morreu em 1942. Disso, eu não me recordo. Eu era pequeno nesse tempo. E, quando eu vim me lembrar das coisas, eu já estava com 5 anos. Foi nesse tempo, da rua Trairy, que recordo de tia Nôza. Ao que parece, ela já estava namorando com José Augusto da Silva, um viúvo que mantinha uma ligação com outra mulher. Sei bem que minha tia se casou no ano de 1950, depois de muita querela por conta dessa segunda mulher que José Augusto mantinha seu romance. Na verdade, era amigado com a mulher cujo nome não sei e nem nunca soube. Ele, era um homem magro - não tanto esquelético. Porém, magro. Eu me recordo de quando meu pai vendeu a casa da rua Trairy e comprou uma outra na rua Afonso Pena, dois quarteirões distante da que ele vendeu. Nesse tempo, tia Nôza foi morar na casa da minha madrinha, Maria do Carmo Alvares Freire. A minha madrinha era prima legítima de meu pai, João Alvares. Por isso, a ligação do sobrenome. A minha madrinha era casada com Manoel Alves Freire, que era o meu padrinho. Tia Nôza nunca teve casa, a não ser a da minha avó, Estefania. Com a morte da minha avó, ela ficou sem nada. Foi muito estranho a divisão dos bens do meu avô, Miguel Leandro. Na verdade, ninguém ficou com nada na partilha. Olha que meu avô tinha uma imensa propriedade na Rua da Estrela (hoje, José de Alencar). Todo aquele trecho compreendido entre a rua da Estrela, Professor Zuza, Felipe Camarão e, fechando o cerco com a rua Apody, eu, pessoalmente, não sei com quem ficou.

Tia Nôza ficou morando na casa da minha madrinha, Maria do Carmo, até a data do seu casamento, no ano de 1950. Seu marido se separou da mulher com quem vivia e casou, de verdade, com Leonor Leandro. Eu lembro que, um dia, nós - eu e ela - fomos limpar una casa no Tirol, perto da Praça Augusto Leite, na rua que faz a ligação entre a av. Hermes da Fonseca e a Av. Prudente de Morais - mais próximo da av Prudente de Morais -. Era uma casa nem rica, nem pobre. Nós fomos lavar o chão. Eu botava água e ela passava a vassoura, limpando o chão. Era a casa que receberia os recem-casados, José Augusto e Leonor. Nesse dia - eu me lembro muito bem - tomei um banho no tanque, que foi uma beleza. Mais tomei banho do que botei água para lavar a casa. Isso, era de tarde. Quando era o entardecer, minha tia fechou a casa e nós seguimos viagem.

Ainda no fim de 1950, tia Nôza teve um aborto. A parteira era Maria Silva, irmã de José Augusto, muito famosa pelo modo de pegar menino novo. Minha tia foi ter filho na casa de Maria Silva, na rua Princesa Isabel. Hoje, a casa não mais existe. Minha mãe foi até a casa de Maria Silva, e eu e o meu irmão, José Magno, de 3 anos. Nós - eu e meu irmão - ficamos no quintal da casa, que era cheio de mangueiras e se estendia até a rua Felipe Camarão. Minha mãe sentiu muito o aborto de minha tia. Ela já estava, nesse tempo, com 44 anos de idade. Por isso, com certeza, abortou o menino. E o tempo passou, o casal de velhos -José Augusto tinha 50 anos - foi morar na Lagoa Seca e, depois, no Alecrim, na rua dos Caicós. Minha tia sempre visitava a minha mãe até que um dia ouviu "um homem matando um perú em cima de casa". Aí, começou esse disturbiu mental que nunca mais curou. Seu José morreu antes que ela completasse 76 anos Um fato que nem mesmo tia Nôza sentiu, ao saber, internada em uma clínica para doentes mentais. Tudo o que ela disse foi: "José! Coitado! Morreu!". Tia Nôza viveu até o dia 5 de setembro de 1982.

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