sábado, 28 de novembro de 2009

RIBEIRA - 389

- OS FILHOS -
Certa vez, em um dia de um ano, com certeza, no ano de 1916, pois o menino de colo é Miguel, o filho mais novo, Miguel Leandro e dona Estafânia, juntaram a filharada e saíram à rua para tirar uma foto, provavelmente na Ribeira, pois era o único bairro de Natal onde se tirava fotografia. Então, os filhos graúdos e pequenos se juntaram para fazer tal foto, lembrança de um tempo remoto que não volta mais. Pode-se ver na foto, Miguel Leandro, próximo a um garoto, seu filho e de dona Estefânia, sentada, bem gorducha, com um filho no colo. Tais fotos são uma verdadeira relíquia histórica, pois até a lembrança de uma pessoa passa a falhar, quando não há mais ninguém dessas belas fotografias ainda vivo, salvo Alice que, hoje, tem 94 anos de idade. Eu lembro que, minha mãe, Nera, dizia que, por alguma vez, eles foram tirar fotos - no bairro da Ribeira, talvez - porém não entrava em detalhes. Talvez, por minha ignorância, eu também não perguntava um pormenor. O que eu me lembro - não muito bem - é de que minha mãe contava sobre as viagens de ela e os seus irmãos, mais os seus pais - Miguel e Estefânia - faziam para passar algum tempo nos arredores de Macaiba, onde Miguel (Leandro) nasceu. A viagem era feita em lombo de mulas e minha mãe dizia que tal fato lhe causava um medo tremendo. Os seus pais íam na frente de todos: Miguel, em uma mula e Estefânia, em outra. Atrás dos dois, se juntava a filharada, com uns tropeiros a cuidar das mulas para que não houvesse acidente. Ela - a minha mãe - contava que, em certas ocasiões, viajavam no lombo das mulas os filhos - homens - mais crescidos, como Cícero - o mais velho de todos - Crispin ou mesmo Euzébio que a turma - dos irmãos - chamava de Zebinho. Os miúdos, principalmente as meninas e mesmo as quase moças, e os rebentos menores, seguiam viagem nos caçuás postados um em cada lado dos animais. Tais caçuás, eram recobertos com flanelas, todas bem alcochoadas. As mulas eram vagarosas, e mesmo que quisessem correr, tinha o chefe da turma que fazia com mais vagar e, assim, os animais obedeciam. A que horas saia a caravana? Não perguntei a minha mãe. E nem sei a que horas chegava nos arredores de Macaíba. Sei, apenas, que o destino final ficava próximo ao tal Engenho "Ferreiro Torto", local de muita contenda nos ídos de 1645 entre os invasores holandeses e os desarmados portugueses que lutaram até o derradeiro cartucho, se é que tinham cartucho. Sei bem que, dos que lutavam - os portugueses -, muitos dos quais escaparam pelas veredas do sertão chamado bruto, e bateram em retirada. Coisa de louco!!. Os invassores, depois de matar toda a gente, ocuparam o Engenho. Porém, Miguel não alcançou mais esse tempo. Ele nasceu alí, no ano de 1867, filho de Leandro da Cruz do Nascimento e Luíza Victorino de Jesus. Somente tecia viagem para matar a saudade - ele e a mulher, Estefânia -, pois, certamente de ambos não havia mais parente em vida. Talvez, talvez. Eu me lembro de outra coisa, havida no Mercado da Cidade, onde uma mulher procurou encontrar tia Nôza - Leonor - para lhe dizer que ela (a mulher) era a sua avó, mãe da mãe de Leonor. Tia Nôza correu em debandada e não quis mais ouvir conversa. Nesse tempo, Nôza era mocinha dos seus 13 anos. Depois de passar alguns dias na fazenda nos arredores do Engenho "Ferreiro Torto", a miunçada valtava à cidade, outra vez no lombo de burro mulo e aqui continuava as suas tarefas. Minha mãe dizia que o meu avô era cizudo e pouco conversava com os seus filhos, coisa que não deixava transparecer em sua feição de homem simples porém de grande saber e instrução. Segundo a minha mãe, os filhos não tinham permissão de passar na sala de visita se meu avô estivesse a conversar com uma visita. E, outra coisa, era pedir autorização para ir até mesmo a uma Missa. Os filhos faziam esse pedido à sua mãe. Contava a minha mãe que, entre Miguel Leandro e o Governador do Estado, Rafael Fernandes na época, havia uma certa querela a ponto de Rafael Fernandes mandar soltar fogos no dia da morte de Miguel, coisa que em toda a pequena cidade se ouvia. Esse incidente magoou profundamente os filhos de Miguel Leandro. Coisa da vida de um Tabelião do 1º Cartório de Oficios e Notas.
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