domingo, 29 de novembro de 2009

RIBEIRA - 390

- QUARTEL -
Para quem tem uma família extensa, coisas estranhas acontecem do decorrer da vida. Uma delas envolve o nome de Antônio de Castro que terminou sendo Coronel da Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Eu conheci Antônio de Castro quando eu era menino. E nem ligava para coisa alguma, apesar de ver em sua casa uma filha dele chamada Pola que não era filha de tia Alice. Para mim, tanto faz como tanto fez. E 'tamos conversados!. Acontece que, hoje, fazendo a árvore genealógica de meus avós deparei com um cisma: quem era a mulher de Antônio de Castro, antes de tia Alice? Daí fui à procura, batendo por todos os cantos. Eu já sabia que ele tinha uma filha, Pola, e um filho, Antonio, que nós procurávamos chamá-lo de Tonheca. Porém, ainda havia pelo menos mais duas filhas desse tal primeiro casamento. Então, vamos nós escavacar. Puxa daqui, puxa dalí até que encontramos o nome de uma filha de Antônio de Castro que ainda vive. Seu nome: Alba. Eureka!!! E descobri ainda que Alba mora com minha tia Alice. EUREKA!!!. Daí foi entrar em contato com Alba para saber o nome exato de sua verdadeira mãe. Ela não falou. Mas uma prima minha perguntou-lhe como se chamava a sua mãe. E ela, respondeu: Florência. Florência de Castro, prima legítima de Antônio de Castro, pois, no seu tempo, era comum casar primo com primo. E foi assim que houve a união. E dessa união nasceram Alba, Pola, Maria e Antônio que nós chamavamos de Tonheca. A mãe desses "meninos" morreu logo cedo deixando viúvo Antônio de Castro. O velho Coronel para se tornar Soldado teve que alterar a idade em dois anos, pois Antônio, do jeito que estava nâo cumpria a idade de soldado. Passados os poréns, Antonio de Castro entrou na Polícia, ganhando pouco, recebendo com atraso, sendo obrigado a desempenhar funções às mais dificeis, quer na Capital, quer no interior. Em março de 1935, ele conheceu Alice, 19 anos de idade. Casaram-se e ficaram morando na casa do meu avô, Miguel Leandro. Três meses depois do casamento de Alice, o meu avô morria. E Antônio largou para o interior cumprir a função de delegado da cidade de Caicó. Vez por outra vinha a Natal. Nesses tempos difícies, Alice engravidou do seu primeiro filho. Airton. Daí em diante vieram os outros, como Valda (Valdinha), Ney (nascido em Caicó), Euclides, Berilo e, por fim, Ana Cristina. Mesmo sendo já tenente da Polícia, Antonio de Castro teve uma vida ingrata. Jamais conseguiu ter uma casa própria. Foi assim que ele morou na rua Mossoró, na rua Professor Zuza - em casa pertencente a meu tio Zeca (José Leandro) - e em outros pontos da cidade e do Tirol, na rua Hemetério Fernandes, sempre pagando aluguel. Para se valer da sorte, tinha a ajuda de Alba e Maria que sempre deram ao casal tudo que ele precisava, inclusive comida. Depois de chegar ao Corenalato, Antônio de Castro foi para a Reserva, ganhando muito pouco e daí, pôs uma "fabriqueta" de sabão em barra, em uma rua que ficava por trás de uma casa de recurso, entre as ruas Silva Jardim e General Glicério, no bairro das Rocas. Jamais deixou faltar alimento em sua casa, mesmo tendo que se virar e conseguir por fiado. Ney formou-se em Direito, profissão que abandonou entrando, então para o serviço em uma Casa Bancária, Airton conseguiu colocação na UFRN, Euclides se formou como veterinário, Berilo como médico, Valda trabalhava na Assembléia Legislativa, e Ana Cristina ficou até hoje trabalhando na Universidade Federal. Valdinha morreu em um acidente de tráfego. Os demais filhos, todos morreram, menos Alba. Em atropelamento quando vinha da Missa, morreu Pola. Tonhaca foi criado por uma tia por nome de Nadir. Hoje, tia Alice, já viúva, reside em um apartamento aquirido com os ordenados de seus filhos adultos e criados. Já velha, 94 anos, ela vive a vida toda deitada ou assistindo tv. Da vida atribulada de uma mulher de Coronel guarda apenas a lembrança. Jamais deixou de pagar em dias a prestação do mês de sua casa, na rua Professor Zuza. E nem de outras, também. Nunca pediu dinheiro emprestado a seus irmãos mais ricos. Não foram raros os momentos que seus filhos saíam de casa para a escola com um pé calçado e outro de chinelo. Dias dificeis, aqueles. Da herança de meu avô, lheu coube uma quantia de tres contos de reis que deu para fazer apenas uma chapa (dentadura) de uma das partes da boca. Ainda hoje guarda a célebre dentadura. Dos filhos, guarda apenas a lembrança, com exceção de Ana Cristina e de sua quase filha Alba. Os demais a visitam quase sempre para pedir a bênção. Quase sempre. Essa, parece até uma história de Trancoso. Mas, não é. Tão somente uma pura verdade de uma viúva, irmã de 15 irmãos.
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