terça-feira, 17 de novembro de 2009

RIBEIRA - 375

- CATEDRAL -

O primeiro cemitério da cidade do Natal foi construido no bairro do Alecrim. Mas, não o que estamos acostumados de ver ou falar. Foi outro. Quem construiu foi Vicente Fernandes e ficava em um terreno devoluto que, hoje, é a avenida Presidente José Bento, antes chamada também de Avenida Três. O terreno ficava entre o que é hoje a Rua Cel. Estevam e a rua dos Caicós. Aquela gleba de terra serviu por alguns tempos como o descanso eterno dos mortos. Isto foi antes de 1856, época em que a Prefeitura do Natal tomou a empreitada de construir um novo cemitério. Aí então foi feito o que temos visto hoje: o tal chamado cemitério do Alecrim, pois o seu nome deriva da planta do mato conhecida como alecrim que abundava na região. O da avenida Presidente José Bento, por fim, acabou e o seu dono procurou um canto no novo cemitério para construir um magnífíco mausoleu. Apesar de não ter sido o primeiro a ser usado, o imponente monumento de dimensões avantajadas continuou sendo o primeiro a ser construido no Cemitério do Alecrim. Um primeiro sepultamento a ser feito naquele local foi em 1872 para sepultar Manoel Gabriel de Carvalho. Quanto a inaguração do campo santo ocorreu em abril de 1856. Este começo de disertação foi apenas para unificar a familia Leandro e Fernandes.

No ano de 1892 nasceu em Natal, Maria Anunciada, filha de Miguel e Estefânia Leandro. Eu conheci a tia Anunciada quando estava morando na Praia do Meio, em uma casa comum e comprida, quase no seu fim enterrando-se da areia de uma rua que passava por trás. Ainda hoje, esse deslizamento acontece. Para se notar é bastante seguir pela balaustrada que começa no fim da Av Getulio Vargas, em Petrópolis. Quando eu a conheci, alí não existia nenhum palacete como agora existe: o hotel. Logo depois desse hotel tem uma casa que assumiu o lugar da casa de tia Anunciada. A orla da praia tinha poucas habitações. Quando a minha mãe descia para o banho de mar, costumava parar na casa de tia Anunciada. Minha mãe, meu pai e eu. Ainda não tinha nascido o meu irmão, José. Tia Anunciada era baixa e robusta parecendo com a minha avó, Estefânia, e casada com José Fernandes, filho de um filho cujo nome era Vicente Fernandes, o homem que construiu o campo santo na rua sem nome em um terreno de sua propriedade. Por sinal, alí não era rua. Era apenas um local de platio de roça e que servia também para sepultar os mortos que moravam em um terreno que um dia se chamaria Alecrim. José Fernandes era funcionário da Alfândega. Depois de sua morte - muito tempo depois, pelos ídos de 1965, minha tia ainda lutava no INPS para receber uma diferença salarial que ela herdara. Isso, após de cerca de 20 anos que José Fernandes tinha morrido. Do seu casamento, tia Anunciada gerou os filhos: Geraldo, Neusa, Rute, Zuleide e Jubal. Se teve outros, eu desconheço. Após a morte de José Fernandes, tia Anunciada se mudou para uma casa na Rua da Estrela - hoje chamada rua José de Alencar. Alí, viveu um bom período, com seus filhos quase todos criados e casados, pois o ultimo a contrair núpicias foi Jubal Leandro, com uma moça do interior do Estado, Maria Pureza. Após estar convivendo no bairro da Cidade Alta, tia Anunciada se mudou para o novo bairro de Santos Reis, onde alugou uma casa e alí viveu vários anos. Depois disso, Jubal comprou uma habitação no bairro do Alecrim, na avenida Presidente José Bento, um chalé de esquina e batentes muito altos que ainda hoje guarda o mesmo pormenor. Eu conviví muito próximo com Jubal. Ele me orientou, em 1954, a procurar um emprego na Empresa de Correios que estava admitindo novos funcionários, mesmo ele sabendo que eu trabalhava no escritório do meu tio Zeca. Disse isso na frente de tio Zeca que agradeceu, e muito, eu ter conseguido uma orientação para assumir um novo trabalho. A diferença selarial, naquele tempo, era estrondosa. Eu pularia de 150,00 cruzeiros, que fazia no escritório, para 600,00 cruzeiros. Eu agradeci a Jubal e a tio Zeca pelo apoio dado e segui rumo aos Correios. De imediato, fui aprovado. Agora, tinha um problema: verba. Três meses e eu não recebi um tostão. Assim, eu e os outros que entraram comigo, fomos dispensados. Foi só então que eu recebi 1.800,00 cruzeiros do meu tempo de trabalho. Um bom dinheiro. Logo que eu fui posto na rua, voltei ao escritório de tio Zeca, ganhando 150,00 cruzeiros. Nãe sei, não. Mas o tempo dos Correios me serviu muito de lição. A mim e aos meus colegas de batente. Aprendizado. Aprendi bastante como estafeta, entregando telegramas. Conheci toda a Ribeira, Cidade, Tirol, Petrópolis e Rocas. O Alecrim fazia parte outra turma. Por isso. eu não conheci o Alecrim, as Quintas, Lagoa Seca, Baixa da Coruja, Carrasco, Tração e mesmo Igapó. Para mim - e para os que estiveram comigo também - aquela foi uma lição de vida. Tempos depois, a Empresa dos Correios voltou a chamar os que já estavam ambientados. Eu não fui, temendo ficar novamente três meses e depois, sair. Eu até pensava que no escritorio, ganhando menos, era mais seguro. Com o tempo que passou, eu vi que estava errado. Mesmo assim, continuei a trabalhar com meu tio. Certa vez, vi Jubal chegar no escritorio a procura de uma vaga. Ele era Carteiro e continuou por mais um longo tempo. Mesmo assim, o seu dinheiro era muito pouco. E nós voltamos a trabalhar juntos, agora em um armazem de madeiras. Foi assim até 1968, quando tio Zeca resolveu se aposentar. Nós nos separamos de vez. Ele voltou a ganhar apenas o ordenado dos Correios e eu entrei para o Rádio, ganhando bem melhor. Com o passar do tempo, um dia tive a noticia que a minha tia havia falecido. Era verdade. A tia Anunciada morrera aos 86 anos, em novembro de 1978. Jubal, em sua casa, ainda perdeu a sua mulher, Pureza, um filho, Ademar e por fim, ele, aos 77 anos de idade. Morreram também os filhos de tia Anunciada: Geraldo, Zuleide, e Rute, ficando apenas, Neusa, hoje com quase 90 anos. Essa é a vida - começo, meio e fim - da família Leandro. Minha tia Anunciada se casou na Catedral de Nossa Senhora da Apresentação (foto) e os seus filhos, também. Essa é apenas lembrança de um tempo remoto.

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