quarta-feira, 25 de novembro de 2009

RIBEIRA - 387

- RUA DR. BARATA -
José Leandro nasceu no dia 25 de agosto de 1908. Ele foi um dos últimos filhos do casal Leandro, pois, daí, vieram poucos a nascer. Esta rua (foto) foi a que eu conheci meu tio que todos o chamavam de Zeca. O nome completo de tio Zeca era José Santino Leandro. Com o tempo, pelos ídos de 1965, provávelmente, ele tirou o sobrenome "Santino", ficando apenas José Leandro. Homem inteligente, capaz de qualquer coisa desde que aquilo lhe rendesse lucro. Ele casou no ano de 1947 com Miriam Raposo, moça prendada e que residia próximo as casas que seu avô deixara. Miriam residia na rua Apodi, bem próximo ao sobrado onde Zeleandro estava morando. O sobrado, feito por meu tio, tinha o nome de "Vila Catarina". Esse nome veio de uma filha que ele teve com uma senhora desquitada, pelos ídos de 1940. A mulher se chamava Mirtes, filha de um comandante naval que morou em Natal. A filha que os dois tiveram chamava-se Catarina. Daí, veio o nome da Vila que era um sobrado. Nesse local, antes de se casar com Miriam Raposo, ele viveu inúmeras aventuras como a que, atormentado de manhã, logo cedo, por uma velha que vendia flores, e passava da frente de seu sobrado, oferecendo flores, aos gritos, Zeca acordou ainda zonzo da cana que tomara durante a noite nos bares da Ribeira e chamou a mulher para comprar um ramalhete de rosas. A mulher atendeu e, de imediato entrou no sobrado oferecendo as mil maravilhas de suas rosas.
--- Esta aqui é um presente para a sua noiva! - dizia a velhinha
E nesse ponto, já mais atomentado ainda com os reclames da velha, Zeca abriu o seu sobretudo e indagou:
--- É pra essa, a senhora tem? - perguntou Zeca mostrando a sua nudez.
Pra que! A mulher saiu aos berros do sobrado a fora, deixando cair por tudo que era lado, as rosas, flores, cravos e coisas mais, aclamando:
--- Doido! Esse homem é doido!!!! É doooooooido! - dizia a velha, em debandada.
Passado o tempo, em 1947 ele casou com Miriam Fernandes Raposo de Melo que ficou sendo chamada apenas Miriam Raposo Leandro. Logo após o casamento, Miriam teve uma filha que morreu logo ao nascer. Com mais tempo, veio o segundo parto. Miriam já estava morando em uma nova casa construida por seu marido, José Leandro. Esta casa ainda hoje existe. Pode-se chamar de casarão, com 21 quartos fora outros departamentos. Tio Zeca dizia que a casa foi feita para abrigar todos os da família. Porém ninguem procurou habitar aquele lar. O palacete fica na av. Hermes da Fonseca. Em 1950, Miriam teve a sua segunda filha, Teresa Cristina, hoje professora com pós-graduação, ensinando em todas horas do dia e da noite, de segunda a sábado. Após ter Tereza Critina veio a vez de Zaíra, médica, e logo após, Maria de Lourdes e, por fim, veio Miguel. Com esse parto, tio Zeca parou. Eu comecei a trabalhar com o meu tio em 1952, janeiro desse ano. Aprendi a trabalhar com ele, desde levar cartas para o Correio à chamar um carroceiro para ajustar um contrato de levar telhas, madeiras, estroncas, ripas, cal e mesmo cimento para as construções que o meu tio fazia por todos os bairros de Natal. Eu lembro das casas que ele construiu em terrenos da Av Pres. Bandeira, bem em frente à casa onde morava tia Nenem (Iracy Leandro Borges). Dalí em diante, tinham casas na rua São João, também em Lagoa Seca. Nesse local, deu-se um fato interessante: um homem alugara uma casa (de tio Zeca), mas tinha o costume de não pagar. Certa vez, tio Zeca chamou um homem de seus 60 anos que fazia mando para ele - Pedro, era o seu nome - e mandou fazer um macacão na medida do seu Pedro, e pôs o nome nas costas em letras garrafais, em vermelho, contrastando com o azul da roupa:
--- COBRADOR! -
Isso deu uma celeuma dos seiscentos diabos. Quando seu Pedro chegou na porta da casa do "gatuno" e bateu palmas com toda a voracidade, o povo todo da rua correu para ver quem batia com tão alarmada sanha.:
--- O cobrador! - diziam os que estavam alarmados.
E o homem gatuno disse ao COBRADOR que daí há pouco passava no escritório de Ze Leandro para saldar o seu débito. Foi a última vez que o gatuno foi importunado. Em outras ocasiões, foi eu quem fez o mandado. Somente não precisava vestir o "Macacão". Mas, em compensação, chegava na casa de um cidadão rico dessa cidade, que morava na Av Deodoro, e bati palmas com toda vontade. O homem, às 5 horas levantou, e perguntou o que era. Eu disse: Cobrador!!. E ele respondeu que eu podia ir ao seu escritorio, logo mais, pois pagava a conta que devia. Dessas e outras, eu costumava fazer. Certa vez, eu fui em umas casas que meu tio alugara a uns pobres inquilinos, na rua Belo Horizonte, nas Rocas para receber o aluguel. Aquele era o dia que vencia o tal dasgraçado aluguel das casas. Bem cedo da manhã, eu estava batendo na porta da primeira casa para receber o aluguel de um seu tal Zé de Areias, personágem que eu jamais vira em minha vida. O homem acordou e abriu meia porta para saber eu queria:
--- Aluguel! - disse eu,
--- Ora mais stá. Eu já paguei. Diga a Ze Leandro que o valor está com meu fiador!! - disse o homem.
Daí, bati para o escritório. Em lá chegando, disse a tio Zeca que o homem já pagara. O dinheiro estava com seu fiador. E o meu tio respondeu baixinho:
--- Mas o fiador sou eu!! - falou Zé Leandro.
José Leandro tinha a tal chamada sorte. Ele guardava uns poucos envelopes onde se lia - GATUNOS . Eram esses os que pretendiam passar a perna em tio Zeca. Porém, foi não foi, aparecia um quando o meu tio cobrava de mansinho:
--- Parece que você tem uma continha aqui! - dizia meu tio
--- Tenho? Capaz de ter! - dizia o homem.
E o meu tio corria a mão nos envelopes dos GATUNOS e lá achava a velha conta do "esquecido" carvalheiro.
--- Ah Não disse! Taqui. Eu nao me esqueço! - dizia meu tio alegremente.
E aquele "gatuno" passava a ser um ex-gatuno. José Leandro viveu até o dia 24 de fevereiro de 1979. Foi vítima de cançer nos ossos. Quando estava já doente, a sua mulher em quem lhe dava banho, aos gritos intermináveis do marido. Ele fez uma verdadeira riqueza comprando as terras devolutas de Capim Macio, em 1938, por uma quantia de 30 mil cruzeiros. O terreno foi vendido com dez cabeças de gado e ainda uma parte onde está localizado, hoje, o Nordestão,na rua que dá para Ponta Negra. Só nos arames farpados que isolava todo o amplo campo de Capim Macio, José Leandro retirou o valor pago do imóvel.
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