terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 14

- ELIZABETE -
Naquela noite, pouco depois das 7 horas, Eurípedes estava a olhar os cartazes de filmes no Cine Rivoli, dos lançamentos que o cinema faria e dos que diziam - BREVE -pois tais filmes talvez nunca viessem a passar. Dos lançamentos do dia, um estava em um gigante cartaz, apoiado na parede externa do cinema e uns poucos cartazes em um vitral exposto na outra parede externa, na frente do cine, mostrando as peripécias de amor estampadas nos cartazes. Nas noites de sábados aquele panorama era o melhor que havia para se ver na cidade, por cinéfilos apaixonados pela a Sétima Arte. E alí estava Eurípedes a olhar cismado o que lhes mostravam as cenas mudas de um filme. Na noite límpida de verão, um sopro suave do vento açoitava as árvores próximas de um bar muito bem frequentado pelos notívagos senhores do luar. Vento cálido e sereno que acudia aos que passavam pela calçada da casa de espetáculos. Nesse instante, se aproximou da cena dos cartazes uma linda mulher, talvez moça pelo aspécto que denotava, também a perscrutar os cartazes do cinema bem ao lado do rapaz, distanciando-se um pouco. Igual a um cavalheiro, o jovem rapaz se afastou um pouco para dar lugar a esbelta jovem, toda de negro, trajes sensuais, anel de brilantes bem salientes, colares de pérola, madeixas curtas, olhos negros, sombrancelhas arqueadas, nariz afilado, boca suave e doces e brincos pendentes nas orelhas encobertas pelos cabelos. A jovem parecia uma deusa do eterno Olimpo por seu porte de desejos maledicentes e estranhos.Um suave aroma de perfume afogou os sentidos do jovem ao sufocar por entre a suavidade de ser da mulher presente. De sua tez alva de extasiante ardor, emprestava à senhora ou senhorita um certo grau de vivacidade a casual avidez e cobiça. Ao falar, a mulher deixou escapar um delírio de som em que o rapaz se imaginou em plena cordilheira do eterno.
--- Esse é um filme de amor! - disse-lhe a jovem mulher.
--- Certamente. Vê-se os artistas com são os melhores do gênero. - respondeu o rapaz.
--- Deve ser bom. - gesticulou a jovem mulher.
--- Com certeza. Ele mereceu os melhores elogios da imprensa especializada. - argumentou o rapaz ao se fazer compreendido.
--- O senhor vai assistí-lo? - perguntou a jovem.
--- Com certeza. - respondeu o rapaz.
--- Pena que eu não possa. - resentiu-se a jovem mulher.
--- Mas o filme fica em cartaz por vários dias. - salientou Eurípedes.
--- É. Mas eu tenho que viajar amanhã logo cedo. - relutou a jovem.
--- Pois assista hoje. - disse o rapaz.
--- Não posso, também. Tenho uns deveres a fazer. - respondeu a moça, tristonha.
--- É uma pena. Tudo que posso dizer. - lamentou Eurípedes.
De relance, Eurípedes observou se a dama tinha alguma aliança nos dedos o que lhe levou a crer que a mulher não era noiva ou casada, pois de aliança nada havia a mostrar. E lhe perguntou a seguir, com desenvoltura.
--- A senhora é de fora? - perguntou o jovem.
--- Senhorita. - disse a jovem ao esboçar um sorriso.
--- Ah, bom. Desculpe-me, senhorita. - relutou Eurípedes.
--- Não foi nada. - disse a jovem, ligeiramente a sorrir.
--- Elizabete. - disse ela a seguir.
--- Eurípedes. - disse-lhe o rapaz.
--- Estranho! - respondeu a jovem ao olhar mais próximo o rapaz.
--- O nome? Creio que sim. - respondeu o jovem.
A moça sorriu levemente. Nesse tempo, eram eles como velhos companheiros a conversar sobre assuntos banais.
--- Vai assistir? - perguntou a jovem.
Ele, de imediato, pensou que a jovem não estaria indo ao cinema. E logo respondeu, com cuidado.
--- Talvez amanhã. Um outro dia. Para a senhoria ver, eu também tenho algo a cumprir. - relatou Eurípedes.
--- Ah bom. Estamos empatados. - sorriu Elizabete.
Um outro casal se aproximou do cartaz do cinema e passou a olhar e as fotos tinham a mostrar. A jovem que acompanhava o rapaz que alí chegara, era bela e olhou por alto a figura de Elizabete e o porte do seu homem e fez de conta de que não lhe fazia inveja. Agarrou-se ao braço do seu enamorado e confabulou com ele coisas atinentes ao filme.
--- E a senhorita tem companhia? - perguntou Eurípedes.
--- Eu? Não! Estou só. - e sorriu francamente.
--- Perguntaria se não queres ir a um local decente tomar um cálice de Chateau Duvalier? - perguntou suavemente o jovem.
--- Humm. O jovem parece conhecer o bom paladar da vida! - disse Elizabete, a sorrir.
--- Então? - voltou a perguntar o rapaz.
--- Se tu queres, não faço questão. A noite é longa e a lua vem saíndo! - ressaltou a jovem a sorrir de forma sorrateira.
Os dois, de braços dados, seguiram, atravessando a rua em direção à outra avenida, a procura de um recanto feliz onde os dois pudessem se aconchegar e contar coisas trivias à luz do luar sob o toque de suaves orquetras onde tudo não passava de um mero desejo de amor. As aves noturnas faziam seus ninhos nas alcovas dos ramalhates de lindos roseirais ao soar dos sinos augustos da ilusão passageira. Os sonhos de quimeras se abriram nos olhares tontos de amoções da doce jovem de canduras mil, alheios aos acordes da sedução cheios de esplendor.

Nenhum comentário: