quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 38

- DALVA -
- CONTO -
A cidade estava repleta de gente, em um vai-e-vem tumultuoso, onde carros, taxis, ônibus buzinavam e roncavam por entre o meio a multidão desvairada em plena 10 horas da manhã. Os edifícios tão elevados contrastavam com algumas casas de morada que ali ainda resistiam em existir a qualquer preço. O homem de meia idade, todo sujo, esmolambado, pedia uma ajuda qualquer a quem passasse. Do outro lado, um homem com placas nas costas e na frente oferecia empréstimos a quem quisesse sem precisar falar. E eram muitos desses tais pobres viventes a anunciar em suas placas os nomes dos escritórios de empréstimo que abundavam em toda a metrópole. No meio de tanta algazarra, havia um edifício muito alto, um espigão de 80 andares a enfrentar com sua sisudez os demais edifícios, alguns maiores que ele. No penúltimo andar do ROCHEDO, que era o nome do gigante prédio, estava a galgaz figura de um jovem homem de negócios. Cabelos brancos, porém de apenas 46 anos, olhos semicerrados, mãos valentes, rosto suave, de média altura, viril como ele era. O seu nome era Humberto. Para o seu conforto, a sala em que despachava, era de espaço médio, pois além do escritório, havia outra sala onde quatro funcionários trabalhavam o dia todo, com uma hora de descanso para o almoço. Logo após a ante-sala, havia um estacionamento de dois elevadores por onde os funcionários entravam e saiam. Outro elevador existia na sala nobre do empresário, aonde ele chegava e saia, sempre depois do expediente. Altivo, trajando terno escuro, camisa branca, gravata mesclada, sapatos pretos, esse era o estilo do empresário. Quando havia reunião de gabinete, havia outro salão que ocupava o andar inteiro, onde quatro portas, duas de um lado e duas do outro, asseguravam o entrar e sair dos participantes. Nas paredes laterais, havia dois janelões sempre fechados, pois o ar condicionado permitia a iluminação a todo o aposento. Esse era o ROCHEDO, onde todos os funcionários trabalhavam.
Certa vez, Humberto saiu logo cedo da tarde, pois tinha outro compromisso a fazer marcado para as 3 horas da tarde. Ele desceu pelo elevador próprio, avisando logo de saída a uma secretária que voltaria logo após a reunião. E a funcionária apenas ouviu e calou. Quando Humberto desceu do elevador e se aproximou do seu carro, onde estava o motorista, ele viu passar pela calçada uma jovem bem trajada, vestido composto, colar no pescoço, relógio pequenino no punho, cabelos loiros que assim de passagem lhe chamou logo a atenção. E ele caminhou até a calçada para ver de quem se tratava. A moça entrou no edifico ROCHEDO e se perdeu por entre outras pessoas, talvez tendo ido ao salão de refeitório do monumento histórico ou mesmo a outro departamento. Humberto ainda viu a jovem ao entrar depressa. Porém não quis mais se preocupar com nada naquela hora. O homem se casou uma só vez, perdendo a mulher em um acidente de veículo. As suas duas filhas eram já formadas: uma era bioquímica e a segunda era ginecologista trabalhando no mesmo prédio que o seu pai, desempenhando as suas funções. Aldora era a mais jovem e Aldenora, a mais velha. A mais velha tinha um noivo. A outra, Aldora, ainda não namorava.
Quando o homem saiu em seu veículo Peugeot viu novamente saindo do edifício a jovem moça saindo pela calçada, andando devagar, olhando os seus amados objetos na polchete e aproveitando para ajeitar o cabelo até. Ela estava com uma manta no ombro, medindo cerca de 30 centímetros e com um comprimento de um metro. O homem ordenou que o motorista parasse e por sua vez, novamente saltou, chegando até a jovem e perguntou-lhe:
--- Nós já nos conhecemos? – perguntou Humberto.
A moça, assustada, olhou o cavalheiro dos pés a cabeça para depois responder.
--- Na verdade, não posso afirmar. Sei apenas que o conheço, por certo. – falou a jovem se aquietando do seu temor.
--- Ah bom. Com certeza de alguma festa que houve? – perguntou Humberto.
--- Talvez isso. Humberto é o seu nome? – perguntou a moça.
--- Ah. Sim. É o meu nome, senhorita. .... – e ele parou no meio da questão.
--- Dalva. É o meu nome. – e assim, sorriu.
--- Ah. Dalva. Pode ser que nós nos conheçamos. Dalva. Belo nome para dignifica dama. – recitou Humberto uma forma antiga de conquista.
--- Sempre os que me conhecem acham engraçado meu nome. Aliás, é uma estrela! – disse isso e sorriu a mulher.
--- Na verdade, sim. Estrela Dalva. Pois a vejo do meu sítio quando estou lá. – sorriu Humberto.
--- Pois é. Dalva foi inspiradora do meu pai que ele achava tão linda. Eu mesma já me acostumei. - declamou a jovem.
--- Bem. Foi um prazer. Eis o meu celular. Quando quiser, é só ligar. – disse Humberto.
E assim, os dois se despediram. Cada um para o seu destino. Na cabeça de Humberto, o nome de Dalva não saía. Desde que perdera a sua mulher, não houve mais alguma outra que pudesse acolhê-lo. Tudo era serviço após seu pai se aposentar e viver da colheita de produtos que cultivava junto a sua mãe que passaram a viver no sito ou granja como se quisesse avocar.
Com o passar dos dias, o celular tocou. Ele viu e não reconheceu a chamada. De qualquer forma, atendeu. Era Dalva que estava na outra ponta. Conversaram coisas simples por algum tempo e, logo depois, ela se despediu prometendo voltar à ligação ainda naquela tarde. Os afazeres do dia fizeram com tudo fosse adiado, pois Humberto estava ansioso em esperar aquela senhorita. Até mesmo a filha mais chegada a ele, Aldora, ficou surpresa com tanta alegria que o seu pai estampava em certo momento da hora. Ao sair da sala do seu pai, Aldora disse:
--- Cuidado. Hoje, esta muito feliz! – e sorriu Aldora ao sair e trancar a porta do escritório do pai.
Em contrapartida, o pai apenas sorriu, com os olhos baixos como quem enxergava por cima dos óculos, mesmo sem ter óculos. No íntimo, ele dizia:
--- Menina esperta! – e sorriu.
Às 4 da tarde, o celular bateu. Ele pegou o aparelho, conferiu o número e com vexame logo respondeu:
--- Oi. Onde estás? – perguntou Humberto.
A voz respondeu algo que ele logo se apressou em tirar o terno, gravata, de camisa aberta no colarinho e chamando a secretaria e lhe dizendo:
--- Vem uma senhorita aí. Deixa entrar. Hoje não estou para mais ninguém. – falou Humberto um tanto sério.
--- Sim, senhor. – respondeu a secretária.
Como poucos instantes, Dalva surgiu à entrada de seu escritório. Foi uma alegria completa. Humberto jamais esqueceria aquele dia. Foram duas palavras, apenas, para corromper aquele amor ao distante longo tempo. Os dois saíram pelo elevador interno, exclusivo de Humberto. Ao chegar ao térreo, ele dispensou o motorista e pegou um taxi. Dali, ambos rumaram para algum local de elevados prazeres. A jovem, com seu vestido negro, era algo que estonteava Humberto. Quando a noite chegou, estavam Dalva e Humberto envoltos em cobertas como nunca d’antes acontecera.


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