segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 35

- PRIMAVERA -
- CONTO -
Quando Jací passou pela sala de visitas olhou para o relógio imenso que estava pregado à parede, de um tamanho médio de 2,50 metros. Em cima de tudo, estava o relógio. Logo a baixo, em uma espécie de estante, estava um carrilhão medindo cerca de 1,00 metro que se balançava lentamente, para um lado e para o outro. Não fazia qualquer barulho. Apenas um carrilhao estava ao compaso das horas. O relógio era um Kuko, luxuoso de um carrilhão da marca alemã tendo uma melodia bela ao marcar das horas. À altura do carrilhão tinha duas esferas de bronze tão niqueladas que mais pareciam ouro. O Kuko fôra do seu bisavô que passou para o seu avô e, por fim, para o pai de Jaci. A corda era dada a cada semana e até parecia que era um relógio que nunca parou e nem quebrou jamais. Seu móvel era em madeira resistente, uma espécie de jacarandá bem lustrada, com pés também de igual madeira, fazendo firme o relógio no chão atapetado de veludo. No meio do movel havia uma tranca que se abria para poder dar corda. Ao seu lado esquerdo, um pêndulo que indicava que era para dar corda. O Kuko em si era todo cromado em ouro. Na parte de cima do móvel havia também um resalto como protetor de algo que lhe pudesse derrubar. Havia igualmente dobradiças, todas cromadas, ao longo do móvel. Aquela era uma joia rara dos tempos antigos. Na hora que Jací passou à sua frente, o Kuko começou a tocar a velha melodia para, depois, soar às 8 horas da manhã. Para ela já era tarde demais para se chegar à Universidade onde a moça estudava. As suas irmãs Jânia e Jacira já saíram ao longo do tempo, estando frequentando os cursos da Universidade. E Jaci somente depois das duas irmãs é que podia sair, por causa do banho e do café da manhã, tendo que se arrumar logo após sem deixar de dizer:
--- Droga! - com a cara abusada por conta do horário.
Em frente à sua casa, ampla por todos os lados, um jardim na frente com um plantio de rosas que enfeitavam o seu ambiente, estava o carro estacionado esperando pela moça. Ao embarcar no carro ela, novamente, disse:
--- Droga! - com a cara trancada como que o mundo estivesse a desabar.
O motorista deu partida e rumou para a Universidade sem pensar nos problemas que estavam a afetar a moça. Na porta da casa, estava a governanta olhando Jaci partindo, para ver se tudo estava certo, ainda. Em seguida, a governanta entrou enquanto o jardineiro chegava para aguar o roseiral da casa.
Quando Jací era pequena, de cerca de 8 anos de idade, ela se surpreendeu com um caso que muito lhe fez muito estremecer. Ela estava sentada no colo do seu pai quando sentiu um leve volume a roçar o seu corpo. Preocupada com aquilo, ela tentou pegar naquele volume duro como pedra. Ao fazer tal ação, o seu pai, que estava sentado também, a ouvir o noticiário do rádio, resmungou um desaforo para Jaci. Durante esse tempo, a menina ficou preocupada com aquele volume duro e, certa vez, quando seu pai entrou no banheiro, Jaci ficou a olhar por uma fresta da porta o homem totalmente nú, pois era o horario do seu banho matinal. Ela, com vagar, pode ver o pai e o volume que estava duro naquela vez. Era o penis do homem que então estava mole. De certa, a menina achou graça e saiu para um lado da casa, sorrindo à vontade.
Nessa hora, apareceu a mucama que logo lhe perguntou sem maiores preocupações.:
--- Que tais fazendo ai? - perguntou a mucama.
--- Nada não. - respondeu Jací, sorrindo.
--- Ora já se viu? Sorrir para uma formiga? - indagou a mucama.
E a garota sorrindo correu para o seu quarto de dormir onde as duas irmãs estavam a conversar. Ela escutou a conversa das duas e depois foi se deitar, morrendo de achar graça. As irmãs de nada entenderam e uma, disse.
--- Doooida! - falou uma das suas irmães.
Com o passar do tempo, vieram os seus 12 anos. Então, certa vez, Jaci se olhando no espelho da penteadeira, notou algo que lhe pôs em terrível susto. Dois calombos estavam surgindo em seu corpo. Eram os mamilhos crescendo. Ela, então, se enfurnou na cama. Alí pegou uma toalha e vez a vez de um corpete, arrochando bastante para não ver os seus mamilos crescer. A ação durou até sua mucama chegar e, vendo todo aquele alvoroço da mocinha, foi logo perguntando:
--- O que é isso? Deixa eu ver! - falou a mucama.
--- Não. Tão "espirando".! - respondeu a mocinha.
--- Que tá espirrando? Deixa eu ver! - brabou a mucama.
--- Não! Tão enrolados! - choramingou a mocinha.
E a mucama levou as mãos ao cobertor e despiu a mocinha, caindo na gargalhada para assombro de Jaci que já não entendia de coisa alguma. E a mucama, disse.
--- Os peitos dela estão se formando!! Deixa de besteira! Isso é normal. São teus peitos! - disse a mucama embravecida e fazendo um thunco.
A menina não saiu mais da cama pelo resto do dia, toda encolhida, se escondendo da mãe e das irmãs que morriam de achar graça.
Com o passar do tempo, vieram os 14 anos. Certa vez, ao acordar, a mocinha notou que o seu cobertor estava sujo:
--- Sangue? - disse Jaci, baichinho e assustada.
Olhou por mais uma vez o lençol manchado de sangue, menarca, por sinal que ela tivera durante a madrugada. Com um medo terrivel, a moçinha pegou o lençol, fez um embrulho e jogou no saco de ropas sujas do seu quarto, bem ao fundo para ninguém notar. E voltou para a cama onde se encolheu toda, como um caracol, com as pernas puxadas até aos peitos. E ficou assim por vários minutos até a chegada da mucama ao seu quarto e de suas outras duas irmãs. A mucama perguntou a Jací:
--- Não vai se levantar? - e deu um truco com a boca.
--- Daqui a pouco. - respondeu Jaci.
--- Olha a hora! Tem escola! E por que estás toda amuquecada aí? - perguntou a mucama.
--- Descançando. - respondeu Jaci.
--- Descançando? E passou a noite correndo? Levanta! - reclamou a mucama com um thuco da voz. Quando descobriu a moçinha, notou presença de sangue em seu chambre. Então clamou aos céus, bradando:
--- Virgem Maria!!! Ela é moça!!! Até que enfim "chegou" as "regras". - gritou a mucama.
De imediato, as outras irmães e a sua mãe chegaram ao quarto onde a moçinha estava toda encolhida como um imbuá que se fecha todo quando alguém o apanha. Só punha cabeça do lado de fora, uma parte até. Com os seus cabelos longos e louros, pele alva e macia , mais parecia uma assombração com aquela posição encurvada.
--- Ela é moça! Ela é moça! Ela é moça! Rompeu a bandeira! Rompeu a bandeira! Ela é moça! Chegou a primavera! - gritavam as mocinhas, dançando em roda no meio do quarto, entre as camas e puxando a mãe para a roda, obrigando a dançar com elas. E a mucuma também, até que enfim a mucama fez questão em dizer.
--- Vai tomar chá de cidreira e café...mais tarde. Se enrola e fica quieta. Só se levanta para tomar banho. - vociferou a mucama, fazendo o seu tradicional thunco com a sua voz.
--- Não saiu mais nunca. - chramingou a jovem.
--- Ah Vai! Num tô dizendo mesmo! Ora! - vociferou a mucama.
--- Ela é moça! Rompeu a bandeira!. Chegou a primavera! - continuam a gritar as duas irmãs de Jaci, intermitentemente.
Foi uma confusão e tanto naquele dia com Jaci toda acanhada na ponta da cama, encolhida, enrolada, contorcida com medo do sangue vemelho cor de ocre que sacudira no saco de roupas.
E o tempo se passou, Jací já formada em seu corpo, pouco se lembrava do que aconteceu com ela naqueles dias de glória para todos os de casa. Ainda deu adeus com a mão para a governanta, sem saber se ela notara o seu aceno. O carrou tomou a pista e se dirigiu com certa pressa para a Universidade, onde Jaci frequentava o curso de Matemática.

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