quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 37

- JOANA -
- CONTO -

Seu nome era Joana e ela sabia que os seus ancestrais foram Reis e Rainhas ao Comando do Sacro Império que governou Portugal por longos séculos. Quando Joana chegou ao Brasil, nos idos de 1940, foi recebida por grande festa por parte dos seus amigos que aqui já viviam há algum tempo. No ano em que chegou ao Brasil, já estava havendo guerra entre o país e as outras nações contra o líder nazista Adolf Hitler e seus aliados como o Japão e a Itália. Por conta de tal fato, as homenagens prestadas a Joana foram de certo modo bastante simples, pois o seu país não estava em guerra contra as nações envolvidas. De modo que, o Brasil se juntou aos Estados Unidos, a Inglaterra, França e outras nações. Nessa altura da história, Joana já estava fora dos requisitos que podiam usufruir uma personalidade, pois acabara também o poder do Santo Império sobre as outras nações desde quase 200 anos. Com isso, ser Alteza para Joana valia muito pouco até porque, no Brasil, a questão de Sua Alteza Real já acabara desde 1890, mais ou menos, quando se deu a proclamação da Republica ocorrida no ano de 1889 quando o Monarca Imperador Dom Pedro II foi deposto. Por tal motivo, ser Sua Alteza ou não valia bem pouco na história do Brasil.
Desta forma, Joana se valeu das amizades dos seus concidadãos e aqui plantou a sua casa, mesmo sabendo que em nada valia ter sangue real. Assim sendo, Joana passou a residir na capital do país, lugar onde podia conversar com seus irmãos de pátria e freqüentar os salões de baile da cidade do Rio de Janeiro, já então uma metrópole rica e abundante em seu patrimônio para a honra do seu “Ditador”, o doutor Getulio Dorneles Vargas chamado também “o pai dos pobres”. A idade de Joana era de apenas 25 anos. Moça de porte elegante, cor alva, olhos brilhantes, tez aveludada, sobrancelhas arqueadas, mãos de veludo, boca de carmim. Era tudo que nutria a bela moça vinda direto de Lisboa. A sua fidalguia vinha de tempos remotos quando os soberanos tencionavam dar a alguém um título de “filho-de-algo” que constituía a monarquia portuguesa. Quase todos os Reis de Portugal criaram as categorias formais de fidalgo, inscritos nos livros Reais. E por esses séculos, então, eram consagradas tais nobrezas aos ricos que habitavam aquela pátria.
No tempo em que Joana chegou ao Brasil já não havia tanto porte que a configurasse em uma senhora ou senhorita como sendo mulher da alta nobreza portuguesa. Mesmo assim, todos os concidadãos a respeitavam como tal. O certo é que Joana fez de sua vida uma festa onde todos os portugueses podiam considerá-la digna para o seu bel prazer. Solteira, de muitos pretendentes, Joana não se decidia qual o caminho a ser tomado para a sua solidez do matrimonio. Certa vez, em uma festa, ela observou um rapaz de quase sua idade e lhe fez festas com sua simpatia. O seu nome era Fernando, português de Évora, moço de um bom falar, simpático até e que estava no Brasil a trato de negócios. Os dois entabularam conversa e, de um passo, eles estavam a namorar. Após um mês, Fernando voltou para Portugal com a promessa de que retornaria ao Brasil tão logo as suas funções o permitissem. E assim, o fez. Antes do verão brasileiro, Joana e Fernando selaram compromisso na Igreja da Gloria diante de grande parte de portugueses que no Brasil residiam. Os pais de ambos estavam presentes para dar o seu apoio oficial ao casamento. O assento de casamento foi lavrado por inscrição do Consulado de Portugal, com o sacerdote, parentes e autoridades do registro civil do Brasil e de Portugal.
Logo após os acontecimentos civis e religiosos, comemorou-se a festa de núpcias com um lauto banquete ao som de uma orquestra e acordes de instrumentos regionais de Portugal. Ambos os noivos celebraram essa união ao som de valsa e de musica lusitanas até altas horas da madrugada. Logo em seguida, Joana e Fernando alugaram um carro e logo após partiram para a cidade de São Paulo onde festejaram a sua união. A cidade era magnífica para o casal. Jardins acolhedores cheios de labirintos formados por árvores ao redor, museus onde figuras imperiais denotavam o seu poder, cartas da Rainha Elisabete, quadros do primeiro Imperador do Brasil, Dom Pedro, cadernos de livros com a coleção de selos, praças onde nobres ostentavam suas figuras de escol. Museus de artes sacras era o domínio da cidade paulista. O passado remoto do Brasil imperial, teares expostos para quem quisesse olhar, quadros de pintores célebres eram a mostra cativante dos olhares de Joana e Fernando, Quanta beleza para se olhar e sentir que a lembrança voltava aos mais longínquos recantos da Europa de tempos antigos. Isso tudo o casal pode ver. Na volta, uma semana depois, um desastre. O carro em que os dois voltavam colidiu de frente contra outro veículo, pela manhã cedinho, quando trovejava bastante em toda a região com chuva torrencial caindo sem cessar. Ainda, apesar do claro do dia, os dois veículos trafegavam com seus faróis acessos, porém, como o transito pesado da estrada, não houve possibilidade de sair fora. No acidente, morreram quatro ocupantes, dois em cada um dos veículos, escapando apenas duas crianças que viajavam no banco traseiro do carro que foi colidido. Joana e Fernando morreram.

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