domingo, 7 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 19

- MARINA -
CONTO
Eram quase 7 horas da noite e Otávio preparava um ramalhete de rosas no depósito especial que fizera para levar no dia seguinte ao cemitério da Saudade, onde sua mulher estava sepultada há dez anos no túmulo da família. A mulher era Marina que morrera em um acidente de trânsito ao voltar para casa, colidindo com caminhão que atravessara a faixa em uma das tres faixas existentes na avenida, forçando Marina a bater de frente e tendo morte instântanea. O motorista do caminhão, nada sofreu. Carros que vinham atrás do de Marina ainda colidiram com o seu automovel, forçando ao veiculo da colisão ir mais para baixo do caminhão. No acidente, três carros, além o de Marina, entraram no choque frontal, causando traumtismo em seus ocupantes. Isso se deu há dez anos e por todo esse tempo, Otávio, professor universitário, costumava levar rosas para por no túmulo da esposa aos domingos, logo cedo da manhã. A esposa do professor tinha 40 anos de idade quando houve o acidente e eles se casaram quando Marina estava com 19 anos de idade e Otávio com 20 anos. Casaram-se ainda moços e tiveram dois filhos: um homem, Otto, e uma mulher, Olinda que, com a ausencia de sua mãe, mesmo assim estudaram, com o rapaz em área de comércio exterior e a moça como advogada. Desde a morte de Marina, nunca mais Otávio pensou em casar. Ele era um homem esbelto, alto, forte, cabelos brancos e já estava com seus 50 anos de idade, levando a vida da Universidade para a casa. Aos domingos, ir ao cemiterio conversar um pouco com a sua mulher, dizendo das novidades, dos filhos, netos e dos seus pais e procurando saber com estava passando Marina que de há muito morrera. Era uma conversa simples, de um viúvo para com a esposa amada, cujo retrato, ele afixou no túmulo há muitos anos. Era um retrato singelo de Marina, vestida de preto com uns pingentes nas orelhas, cabelos curtos, olhos castanhos, sombrancelhas arqueadas, nariz afilado, boca cheia de carmin. Aquela era uma lembrança do tempo que ainda a mulher era jovem e o homem podia entabular conversa com a foto como se fosse com ela mesma. Coisas triviais do acontecer com os netos, os filhos entre outras mais simples ainda. Marina, quando morrera, vinha da Universidade onde dava aulas no curso de filosofia. E, então, Otávio achou até graça com as suas aulas. Não por maldade, mas por pura alusão ao tema que ela lecionava. Coisas assim, como:
--- Prá você ver. Quando você dava aulas de filosofia era um sufoco aqueles alunos malcriados. - dizia o homem e caia na risada.
Deixava um buquê de rosas que ela mais apreciava, colocando ao lado de sua foto, sempre se desculpando por não entender dessas coisas todas, muito banais, pois a mulher era sempre quem mais entendia.
--- Tá aquí as rosas que eu trouxe. Espero que gostes. São rosas de verdade. - dizia ele.
Na foto, a mulher a sorrir compadecida do sofrimento do seu marido.
Certa vez, ao depositar as rosas no túmulo, uma jovem se acercou dele e o cumprimentou, ao dizer:
--- Que belas rosas! E´para alguém da família? - perguntou a jovem mulher.
--- Ô. Desculpe-me. Estava tão entretido que não a observei. - disse Otávio.
--- Não me leve a mal. Não fiz para incomodar. Mas pergunto: é a tua esposa? - perguntou a jovem.
--- Ah, sim. Minha queria mulher. Faz dez anos que eu costumo vir ao seu túmulo. - disse o homem querendo sorrir e ficar quieto.
--- Eu sei. Meu marido está logo alí. Foi um acidente. E eu costumo vir sempre que posso. - disse a jovem.
--- Eu sei. Eu sempre venho todos os domingos. - disse-lhe Otávio.
--- A vida é curta, né? - disse a jovem.
--- É sim. Curta mesmo. - respondeu Otávio.
Desse dia em diante, Otávio sempre contrito com a sua esposa, teve a intenção de perguntar a jovem qual era o seu nome.
--- Amanda. E o do senhor? - perguntou a jovem.
--- Otávio, é como me chamo. - respondeu o homem.
A jovem tinha 39 anos, uma difereça de 10 anos em relação à Marina que estaria com 49 anos. Desse dia em diante, eles se conheceram melhor, e procuraram marcar encontro em um restaurante da cidade onde procuraram tecer comentários sobre tudo que a vida trás e leva. As conversas se tornaram mais íntimas e, quando menos esperava, os dois já estavam em colóquios cada vez mais fulgazes.
Naquele dia, em que Otávio preparava as rosas no jarro em sua casa, de imédiato entrou no apartamento a jovem mulher Amanda que vinha trazendo um outro buquê de rosas, antúrios e margaridas para levar ao túmulo do seu marido. Os dois se cumprimentaram e não faltara sequer um beijo de paixão entre os dois enamorados. Afinal, eles dedicavam aquele amor aos que estavam dormindo no seu eterno descanso. Logo em seguida, os dois saíram do apartamento, ela de braços dados com o seu amor de pouco tempo, a caminhar entre gente que caminhava para ir à Missa de logo cedo. Um ébriu fez aprovação ao casal, com as mesmisses de sempre, descendo e subindo no seu marchar com o seu terno esfarrapados de todos os dias. Nesse ponto, Amanda sorriu com as alegorias do bêbado.

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