segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 13

- LENA -
CONTO
Êxtase! Era como aquela dama da noite deixava os seus apaixonados e paupérrimos mortais. Lena era seu nome. Nas noites de sexta-feira e início de sábado, o lupanar estava repleto dos enigmáticos rapazes e homens para ver de perto a divina e sensual Lena, deslumbrante e meiga contagiando a todos que estavam onde a mulher eternizava na inigualável pista de dança do lugar. Impregnada de total ternura, ao som de violínos mágicos saídos do templo da maviosa e cativa radiola, ela bailava para todos os letárgicos pobres humanos que, ostensivamente, a aplaudiam com severa altivez. A tenacidade e elegancia da diva faziam dos desprovidos homens os deslumbrados seres embriagados em busca de um beijo sutil e divinal que Lena lhes deixava ao passar próximo às alcochoadas mesas onde os desatentos pares mortais estavam, com seu meigo jeito de adornar a sua bem torneada cálida mão. No passar das horas as afeições distantes da mulher tornavam-se cada vez mais fulgazes aos seus apaixonados seres. Aquela suprema dama era a glória de todos que estavam no antro do lupanar. Apenas o perfume de uma saudade imortal chegava até aos loucos amantes das ilusões extremas. Os ébrios duendes choravam de dor deixando o pranto a escorrer pela face diante da beleza imortal daquela pura senhora das ilusões perdidas. Ao toque telúrico de um Tango apaixonado, a embriaguez do êxito trazia para frente a nostálgica dor de uma saudade amarga. O clamor embriagante sacudia para cima no seu ponto alucinante aquele êxtase da mulher amada. Aos gritos de todos, buscando aplausos, a dama de escarlate não obedecia aos reclamos de sua platéia delirante. Acomodada em seu ser, Lena dançava como se estivesse nos lírios da primeira forma de expressão da arte nos seus acordes deslumbrantes. Nada além de uma ilusão perdida. Aos duendes presentes ficava apenas a presença de um amor em forma de verdade. O seu mistério não se podia decifrar, porém sentir enquanto a dama ocilava ao som de um bandolim saudoso distante. Sonhos de paixão na sombra vaporosa que a diva deixava ao passar por perto de alguém que extasiado estava. A um só tempo, a mulher discipava o sonho do algoz amante. Já bem distante, ela brilhava em louca cadência do imortal e aveludado Tango. Um beijo sentido a naufragar no espaço do salão, Lena deixava-se cair cheia de ansia e de calor. Era o prazer de uma dama a sacudir de encantos nos doces acordes de um suave e encantador violino. Era o final da dança que deixava a todos extasiados de ardor contido. Era o fim, pois neste ponto, a dama corria em volta do salão e desaparecia no espaço.

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