sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 24

- LORENA -
- CONTO -
A tarde prometia sol forte naquele verão. Não se importando com o que fosse, Lorena ajeitou os papeis de sua pasta e vestiu o que mais lhe proporcionava para uma advogada de defesa e, entre outras coisas que teria de levar, passou a vista em seu gabinete, existente sua casa, olhou os sapatos para ver se lhe agradavam, chamou a governanta e lhe disse que tomasse conta dos "pequenos" - dois filhos de Lorena - pois estaria de volta logo que acabasse o julgamento na cidade vizinha. Ainda chamou os pequenos para lhes dizer com muito rigor:
--- Juizo, ouviu? Juizo! Não tem nada de computador e nem de amiguinhas. Juizo! - disse Lorena como se passasse um carão nos filhos amados.
Em seguida, rumou para a garagem do edificio de apartamentos onde foi buscar o seu automóvel de última marca. Lorena pôs os seus processos no banco dianteiro do carro, arrumou o cabelo comprido e loiro, olhou-se no espelho do retrovisor interno, passou um dedo nos lábios, deu partida e mesmo vagarosa, saiu do edificio de 20 andares, um verdadeiro colosso da arquitetura moderna, buzinou para o porteiro que já estava disposto e saiu um tanto vagarosa pela rua onde morava para então pegar a rodovia.
Nessa mesma hora, em um restaurante de estrada, o homem subiu em seu truckado de 22 pneus, lá ajeitou-se como pode, guardou as quatro latas de cerveja na geladeira do truckado, olhou para o seu lado esquerdo, buzinou com a sua esmerada corneta de tres bocas, fazendo um barulho surdo e advertente, saiu do seu acostamento onde tinha mais cerca de dez carros e trucks estacionados, rumou pelo lado de dentro do posto, seguiu para tomar a rodovia, parou para dar passagem a outros carros e seguiu viagem, de início, devagar para, depois, pegar a sua marcha normal. O seu nome era Dagoberto, homem alto, corpulento, de mãos firmes, vestindo uma camisa aberta ao peito e uma calça jeans. Nos pés, um par de sapatos um tanto velhos.
No seu caminho, Lorena seguia lenta, vez que a rodovia estava repleta de autos, caminhões e igualmente trucks àquela hora da tarde. Um serviço de desobstrução da via tornava o trânsito mais devagar ainda. Logo à frente, uma máquina fazia o conserto de uma faixa cujo local estava obstruído por árvores e terra. Por isso, o caminho da rodovia se fazia em apenas uma mão, com os operários sinalizando as passagens de quem seguia em sentido contrário, como era o caso da advogada. Após breves minutos que mais pareciam uma eternidade, o trânsito fluiu normal, com o longo caminho de autos pela frente, alguns passando pela contra-mão para chegar primeiro ao seu lugar. enquantos outros com objetos na carroçaria, elevando um tanto o veículo que se tornava pequeno de tanta encomenda que conduzia. Nesse ponto, Lorena disse para consigo:
--- Ave Maria! São uns loucos! - comentou a mulher.
O truckado de Dagoberto começava a descer uma ladeira na encosta de uma pedreira onde se ouvia sempre o espocar de dinamites para retirar um pouco de material para o calçamento. Esse estrondo se fazia num ponto bem lá dentro da pedreira e não tinha cuidado de vir a cair para o lado de cá do morro. Apenas a ladeira era perigosa, deixando Dagoberto atento para a passagem dos autos de vinham em direção contrária e para os carros e caminhões que seguiam vagarosos em sua mesma direção. O homem passou a mão na cabeça e voltou a descançar o braço da porta da boleia do seu truckado. Os relógios de bordo identificavam que tudo estava certo com o truckado, inclusive os pneus. Ele olhou por uns instantes os equipamentos. O motorista levava uma carga em cima de 22 pneus e, por mais que lhe chamasse a atenção, era sempre preciso olhar os instrumentos de bordo.
Em sentido contrario, vinha a fila de carros, cada qual mais apressado, esperando a subida da íngreme ladeira. O buzinar dos autos não incomodava Dagoberto, pois a sua buzina era mais forte que as dos automóveis passantes. Ao dobrar de uma curva à direita, eis que veio o choque. Um carro tentou cruzar com outro e só encontrou a frente do truck. Foi pancada feia. Dagoberto ainda puxou o seu truck para a direita porém o que tinha que haver foi inivitável. Com o choque, Dagoberto bateu com a cabeça na frente do seu carro, perdendo os sentidos. O carro que colidiu com o dele, era dirigido por uma mulher. Apenas se ouviu gritar:
--- Ai meu Deus! - voz da mulher.
E o carro caiu de barranco a dentro, pelo lado direito de quem sobe, desgovernado, inteiramente às tontas, derrubando árvores, levando rochas, seguindo em desalinho e sòmente a parar a 50 metros de distancia, quando os restos do veículo, todo amassado, machucado como se fosse uma casca de frutas oscilou e ficou com um dos seus pneus para cima, a rodar até ao ponto de parar. Em seu interior estava uma mulher. A sua morte foi quase instantânea, pois perdeu a consciência quando estava deitada no meio do caminho do acidente, vez que o carro lhe despejou para fora. O seu nome, conforme os documentos de identificação, era Lorena.

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