quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

LUZ DO SOL - 23

- GILDA -
- CONTO -
O Teatro estava cheio àquela hora da noite, com as senhoras e cavalheiros, moças e rapazes, alguns noivos e namorados tomando os seus acertados e cômodos lugares oferecidos nas frisas e camarotes, cujo meio era reservado para as autoridades de Estado, poltronas numeradas e, para muitos dos espectadores, na geral, onde todos os que estavam podiam ver o espetáculo magistral que estava sendo oferecido. No palco, a orquestra sinfônica que apresentaria as peças de música, incluindo a famosa "O Bolero", de Maurice Ravel. Entre os muitos convidados, estavam Gilda e Honório, casal requintado e cheio de glamour, cujo prazer era ser exclusivo nas matinês que se fazia na bela cidade. Gilda era uma bela e exuberante jovem de alto requinte da sociedade patriarcal onde os homens eram os senhores e as mulheres eram as suas acompanhantes e nada mais. Honório era um rapaz que veio de familia pobre. Mesmo assim, seus avós paternos se firmaram no comércio de exportação no ramo do algodão. Naquele instante, Honório era um bemquisto jovem também da alta sociedade, graças a herança de seus avós passada para o pai e seus tios. Por conseguinte, a familia de Honório era cortejada pelas mais elevadas pessoas do meio social. Naquela sessão. Gilda era a dama preferida e acercada de todos os convivas, até mesmo das ilustres autoridades de estado, e vivia sendo sempre cortejada pelos mais belos e augustos jovens nascidos na província. De origem alemã, pois seus bisavós eram alemães de cunho e alma, ela não levava grande importância para tal fato. Apenas queria usufruir da diversão. Em um casarão à beira-mar, Gilda tinha os seus prazeres de folga. Amigas não lhes faltavam onde passava horas e mais horas a conversar, tocar piano, exercitar nos demais instrumentos de corda e de madeira e, não raro, dormir pelas altas madrugadas quando não havia mais ninguém e o piano se tornava mudo. Na cidade, era mais cautelosa, apesar de sempre haver amigas a lhe rodear. Com seu porte juvenil de uma dama de 22 anos de idade, era o seu vestir um cetim plissado com bordados em paetês, feito sob medida. Plumas de castor encimava ao ombro, luvas brancas nas mãos e um pouchet a tiracolo. Era ela delirante naquela festa do Teatro, tendo ao lado o seu namorado Honório, jovem também muito bem vestido de smoking, gravata, colarinho, sapatos e cinto cheios de requinte de festa. O seu orgulho de estar ao lado de Gilda era menor do que a própria eloquente dama. Seguramente não olhava em derredor, causando até aborrecimento para com os partilhantes do evento. A moça se agasalhou em torno do ombro do namorado, deitando-lhe as madeixas ao vislumbre do jovem. Cheiro inalterado de phebo, marca de vida longa, ícone de perfumaria com o doce afeto de sândalus que se altercavam no ambiente perfumoso do salão do Teatro. Para o jovem Honório, de tradição comum, aquilo era o climax que ele podia auferir. Aos acordes de O Guaraní, de Carlos Gomes, estava sendo iniciada a festa, com a abertura lenta e enigmática da cortina do espetáculo. Tocaram-se peças, as mais suaves e belas ao executar dos inauterantes instrumentais eruditos até a chegada vez de O Bolero, do eterno Ravel, última do espetáculo, marcando o encerramento da tradicional noite de festa. Houve uma evolução de delirantes aplausos por dez minutos contínuos, fazendo com que a orquestra retomasse uma vez mais à cena e executasse mais vezes trechos do Bolero, atendendo a tantos apelos incontidos. Por fim, terminara a magistral comemoração. À saída, o pessoal, seguindo pelo entre-trecho do Teatro até alcançar as monumentais portas de ferro onde seguiam em direção aos seus automóveis. Entre os que saíam, vinha também, Gilda, entre sorrisos e graças conversando com suas amigas, tendo ao seu lado o namorado Honório. Era tudo contentamento, apesar do avançar da hora. Foi então, que por entre os jardins que alí havia, um jovem, armado com uma arma de fogo, fez um único disparo atingindo o peito da jovem Gilda. Ninguém percebeu quem dera o tiro, pois no meio da multidão, o homem se meteu e escapuliu para longe dalí. O aglomerado se formou em torno da jovem e um cavalheiro se pòs ao dispor de socorrer Gilda com toda a pressa para o pronto socorro. Assim foi feito. Ao chegar ao hospital, Gilda já estava morta.

Nenhum comentário: