domingo, 11 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 11 -

- MEIAS DE SEDA -
- 11 -
Após o café Jubal rumou para a Igreja Matriz onde era celebrada a missa matinal de 7 horas. A Igreja estava quase repleta. Por cuidado, o homem entrou pela porta de trás depois da sacristia onde havia bancos ainda desocupados. A Igreja tinha capacidade para mais de 500 pessoas sentadas e em pé. Na parte da nave já havia gente demais cumprindo a sua obrigação de rezar pelos vivos e os mortos além de todas as devoções que cada um havia de ter. Quando Jubal entrou da Matriz o padre ainda não havia chegado e por isso ele ficou mais a vontade. Na parte em Jubal estava era mais reservadas aos homens apesar de ter casais embora bem poucos. Um rapaz espirrou perto de onde o homem estava. E deu mais um outro espirro seguido de outros e de outros mais. Com tamanha espirradeira, o rapaz achou melhor ir espirrar do lado de fora, mais adiante onde ninguém poderia ouvir seus pertinentes espirrados. Um homem cutucou a mulher para que ela observasse e a mulher não ligou repreendendo o marido de forma baixa dando apenas com o cotovelo para trás.
Com os tais espirrados Jubal se lembrou de Salésia. Não que ela tivesse segmentos de espirros. Porém pelo que disse que às vezes tinha “puxado”, o mesmo que asma. Jubal nunca tivera espirros. Mesmo assim, para não dizer que não tinha nada, ele estava sempre a esfregar os olhos, com certeza por causa das farpas do capim que ele tão bem plantava e colhia. Sem o seu chapéu na Igreja por respeito ao santuário, ele naquela hora notou a presença da coceira que lhe fazia a visão. E com jeito de disfarçar coçou os olhos. Um pigarro veio-lhe a garganta, porem Jubal disfarçou e deu tossida rápida de sem altura tirando aquilo que teria sido qualquer coisa para dentro do seu organismo. Em suma: engoliu o catarro. Quando ele tinha um acesso de tosse era da mesma forma. E dizia para quem tivesse:
--- O que não mata, engorda! – falava Jubal sem cuspir nem escarrar.
A Missa começara com o intróito e o sermão do sacerdote anunciando que naquele momento a Igreja Católica receberia então mais uns bons pastores na sua primeira comunhão. Crianças de dez anos eram as novas infantes bem-aventuradas pelo Senhor Deus do Universo. E ainda falou mais tempo sobre o significado da primeira comunhão enquanto Jubal naquela hora se lembrara que há um ano quem fazia a primeira comunhão era a sua filha Olinda, na Igreja do Bairro onde ele morava. A sua mãe, Chiquita, foi quem levou a sua neta até a Igreja depois da menina ter freqüentado por um mês o Santuário onde recebeu as primeiras doutrinas sobre Jesus Cristo e a Santa Madre Igreja. Ele olhava as crianças que comungavam pela vez primeira naquela hora e se lembrava de Olinda quando foi a sua vez de comungar também. Jubal lembrava-se das vestes da menina com seu indumento longo chegando até aos pés, todo branco, um véu e grinalda também brancos igual a uma santa de pura e legítima castidade, sapatos colegiais brancos e meias de seda cobrindo suas perninhas. As meias de sedas igualmente eram brancas como as de todas as meninas que ali estavam. Uma vela de médio comprimento as crianças seguravam em suas mãos para que guardassem por toda a sua vida como sinal de divina penitencia. Em torno da vela, uma fita branca com os sinais “PX” para identificar Jesus Cristo e a Igreja Católica. O padre ao dar a Hóstia às meninas e meninos dizia sempre um só verso: “Meu escudo, minha hóstia. Meu Jesus Fiel”. E tudo isso era devido a cada criança que de nada entendia o significado de tal preleção. Após a Missa, havia o café e bolos para as crianças e seus pais quando as meninas se abraçavam por serem primeiras crianças que se ofertaram à Igreja do Senhor Jesus Cristo. A Sagrada Comunhão era algo de sublime para todas as meninas e meninos que abraçavam o Cordeiro de Deus.
Na Igreja da Matriz dava o mesmo. Depois das crianças que faziam a sua primeira comunhão vieram às demais crianças para receber a Hóstia Santa. Dentre elas estava Salésia, pequenina, franzina, cabelos longos e negros, vestes brancas. A diferença que a garota fazia era não ter a vela com os sinais da Igreja Católica. De resto todo era como se ela tivesse feito a primeira comunhão naquela hora de silencio e oração. O coro da Catedral entoava cânticos e hinos de louvor ao Senhor Jesus numa perene contrição. No final da Eucaristia o pároco dizia a todos os pais e mães que deviam abençoar os seus filhos, pois para isso eles foram chamados. Ao terminar da Missa da Catedral os fieis foram saindo devagar cumprimentando uns aos outros em uma demonstração de aceitar a devoção de Jesus. Enquanto o povo marchava contrito, cada qual com sua roupa de domingo Jubal seguiu até atrás da Catedral onde tinha deixado o seu cavalo, Pintado, como ele o chamava.
O pessoal caminhava pelo largo da Igreja e Jubal já havia saído para a casa de Osias, o homem que estava a negociar outro capinzal. Ao passar pela praça da frente da Matriz ouviu um gritinho de uma menina que tão logo identificou: Salésia caminhava em companhia de seus pais, irmãos e de Joana, sua tia. Salésia o chamou sorridente:
--- Olha aqui meu pai! – propalou a menina cheia de graça.
Jubal, surpreso com o chamado, olhou para o grupo de pessoas e para a menina. Em seguida cumprimento o homem de a menina apresentara. Era um homem alto, corpulento, de pele meio clara e meio escura, com certeza, causado pelo serviço de maquinista que ele sempre fazia nos trens da Estrada de Ferro. O homem olhou para Jubal e o cumprimentou como deveria fazer, com certeza. Jubal retribuiu a atenção descendo do cavalo de vindo apertar as mãos do cidadão que estava na companhia de sua mulher Suzana.
--- Bom dia, cavalheiro. – disse Jubal ao senhor desconhecido.
--- O nome dele é Artêmio. – respondeu a menina em sorrisos.
--- Bom dia senhor. – respondeu Artêmio em contrapartida.
---Jubal, é o meu nome. A sua filha é muito esperta. Nós nos conhecemos há pouco tempo. Ela estava brincando nos trilhos. – respondeu Jubal querendo tranqüilizar o homem.
--- Ah. O homem do capinzal. A minha esposa me falou a seu respeito. – respondeu Artêmio com um salutar sorriso.
--- Bom dia seu Jubal. – se adiantou Suzana também do mesmo modo que Artêmio.
--- Bom dia senhora. Como tem passado. – respondeu Jubal a Suzana.
E a conversa se prolongou por alguns momentos com a troca de impressões entre Artêmio e Jubal cada um querendo se demonstrar de conhecido um do outro. O pessoal passeava pela calçada da praça às primeiras horas do dia. Casais de namorados aproveitavam para soltar sorrisos uns pelos outros. Um homem barrigudo, de chapéu de panamá, paletós, camisa e calça todas brancas se ajeitava em um banco para se refazer do calor sentido dentro da Catedral. Em seus dedos, anéis de prata e ouro é o que dava a impressão de quem passava por perto. Pele escura, ele era o homem da praça, pois todos o conheciam como sendo. Seus olhos eram escuros, como negros, sua boca era de lábios grossos. Sua altura era mediana. Enfim ele era o verdadeiro homem da praça, pois todo o dia estava ali sentado em um banco a folhear revista.
Após longa conversa, Jubal se despediu de seus novos amigos, inclusive Artêmio, pedindo licença, caminho com o seu cavalo Pintado para outra direção. A menina Salésia perguntou de imediato pelo outro cavalo. O homem respondeu que naquele dia tinha-o deixado no curral de casa, pois era domingo dia de passear com Pintado. A garota sorriu e disse para o pai.
--- Ele tem outro Cavalo. Otário, o nome dele. – e sorriu de novo dizendo isso ao seu pai que ficou surpreso com o nome.
--- Hum. Deve ser Otário mesmo. – respondeu Artemio.
--- É o nome. Por que ele pisou no pede seu Jubal quando o homem dava banho no cavalo. – rebateu Salésia em defesa de Otário para que seu pai não o tivesse tomado por mal.
E o casal sorriu de monta, pois a menina era mesmo diferente. Tinha tudo em sua memória para contar e dizer. A conversa prosseguiu pelo caminhar da família por todo o percurso. Artemio seguiu com a mulher, cunhada e seus filhos pela Rua da Prisão até chegar a sua casa onde buscaram o café da manhã e se deleitaram com as histórias de Salésia e seu Jubal, homem que, ao parecer de Artemio, era um gentil cavalheiro pelo que havia a dizer. As horas foram passando e Artemio ouviu um apito de trem. Ele respondeu que era o trem do interior.

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