terça-feira, 27 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 25 -

- MEIAS DE SEDA -
- 25 -
Era um domingo. Jubal estava na Matriz para assistir a Santa Missa. De longe viu a silhueta daquela mocinha que ele a reconheceu de imediato. Tratava-se de Salésia, uma menina de onze anos de idade que ele, um dia, conhecera. Passado o tempo, já com os seus 15 anos de idade, ela era uma moça. Ele ficou a olhar aquela bela donzela e não fazia tempo em que se declararia em noivado à senhorita. Ela estava tão bela e em forma ideal que Jubal nem parecia acreditar. De antigos domingos quando Jubal assistia Missa na Matriz de sua cidade, lembrava-se de antigas vestes de seda, vestido e meia que ela um dia se protegeu para receber a Primeira Comunhão. Esse caso ele não presenciou. Porém a menina lhe contara muitas e tantas vezes com se vestira na sua primeira comunhão. Era delirante recordar com emoção e afeto de tudo o que se passara com a menina, então senhorita Salésia. O seu aniversario de 15 anos foi uma festa delirante em um salão próprio para esses acontecimentos na Cidade. Um dia 26 de abril em que a rosa desabrochou para a virgem moça de encantos sedutores.
Tudo aconteceu para que esse noivado ocorresse de forma deslumbrante. Salésia, certo dia, foi até o sitio de Jubal e começou a conversar puras amenidades. Ele estava ocupado a plantar feno e nem muita atenção dava a Salésia. E ela a falar de coisas que Jubal não sabia por acaso. Nesse momento, ele teve um susto quando a moça falou bem próxima a ele e com altivez:
--- Você não escuta o que eu falo? – perguntou Salésia de forma ríspida.
E Jubal se virou e perguntou se ela falava sobre caranguejos e fenos.
--- Não senhor. Estou dizendo que a minha celebração da festa de meus 15 anos será no sábado. Ouviu agora? – perguntou Salesia de forma deseducada.
--- Ah sim. Seu aniversario. Eu me lembrava. Vai ser agora. E eu já estou arrumado. Vou sim. – disse Jubal de modo delicado.
--- Não foi isso o que eu disse. Eu perguntei se você quer se casar comigo? – relatou Salésia de modo áspero.
--- Eu? Eu? Mas como eu? Sou velho para você. Tenho 43 anos e você tem 15. Não está vendo que isso não combina? – respondeu Jubal assustado.
--- Não. Não vejo assim. Velo em você um homem e eu uma mulher. Há tempos que eu pergunto por que é que você está solteiro. Eu quero você desde a primeira vez que te conheci. Tinha apenas 9 anos de idade. Mas já sentia profundo amor por você. Entendeu agora? – relatou Salésia de forma ríspida.
--- Entendi. Entendi. Mas vejo que em nossa idade é deveras cuidadoso procurar uma mulher sempre mais nova para se casar. Não digo você. Porém, um homem com mais de 40 de idade não deveria se envolver com uma criança de tenra idade como eu sinto no seu caso. Quando eu atingir 60 anos você terá quanto? – perguntou Jubal.
--- Isso não vem ao caso. Diga se me quer ou me atiro nas águas podres e lamacentas deste rio. – respondeu Salésia de forma resoluta.
--- Bem. Sua família o que sente a respeito disso tudo? – perguntou Jubal
--- Eu não sei, não quero saber. Minha família não vai perder a virgindade com um homem mais idoso do que eu. – respondeu Salésia inquieta.
--- Que horror, menina. Você tocou agora num ponto crucial; a virgindade. Você já pensou em perder sua virgindade com outro alguém? – perguntou Jubal estarrecido.
--- Já. Muitas vezes. Eu pensei sim. Só ele é que não pensa nisso! – retrucou Salésia de forma incomum.
--- Pois bem. Procure esse rapaz e faça que ele te peça em casamento. – fomentou Jubal mais tranqüilo.
--- É o que estou fazendo agora. Eu penso que Otário não é tão asno assim como você! – relatou Salesia a Jubal de forma inquieta.
Jubal sorriu a bel prazer com a resposta de Salésia e saiu do feno em direção a fêmea que estava toda em êxtase. Doce e angelical como em um jardim nascida àquela linda flor. Para Jubal Salésia era como se fosse uma santa e naquele momento ela somente queria de ouvir do homem simples apenas as juras de um amor de parecer eterno. Olhando a fêmea mulher ao eterno vento, o homem não se conteve de tanto pergaminho de amor. Abraçou-a com ímpeto feliz. Mesmo sentindo os seus quarenta e poucos anos, quando a velhice lhe assomava a cada passo o seu coração, ele, em delírio extremo naufragou em extenuantes e alucinados beijos. Da paragem do seu firmamento ele nem viu ou ouviu os sinos a badalar na augusta e singela igrejinha que alimentaria para sempre os eternos e extravagantes corações enamorados.
E foi naquele dia de sábado, ao som de magos violinos ciganos que o homem a pediu em casamento a mão da jovem que completava os seus 15 anos de idade. Tudo aconteceu na sublime festa que se organizou em um enfeitado salão de dança, depois que os músicos tocaram os mais belos acordes da musica ciganas e nacionais, quando o par entoou a dança Fascinação, pai e filha, a meia noite. Jubal, ao entrar para dançar com a sua noiva a pediu para ser o seu primeiro noivo. Vestida de branco marfim, com um par de luvas também brancas que lhe encobriam as mãos até ao meio dos braços, meias de seda em tonalidade branca lhe faziam cobrir as suas pernas e sapatos igualmente brancos lhe rondava o espetáculo. Salésia trazia no busto um colar de diamantes entre um crucifixo de Jesus Cristo, e na cabeça uma coroa de diamante e brilhantes. O pai Artêmio já havia concordado dias antes com o noivado da filha. A mãe, Suzana chorava de alegria. A noiva então sorriu para o seu noivo. Os filhos de Jubal, cujas presenças eram de modo simpático, aplaudiram o pai. Eram eles: Otávio, o mais moço; Olinda, a do meio e Oceanira a mais velha igualmente de 15 anos de idade. Os irmãos de Salésia, também aplaudiram o noivado. Eram eles Ênio e Euclides.
No domingo que se seguiu o noivo estava na Igreja para a tradicional Missa. Logo no começo, Jubal estava em um banco distante da nave da Catedral. Quando viu chegar sua noiva ele demorou um pouco e depois saiu para junto da jovem menina-moça. Na nave da Igreja pendurava-se um cartaz com os dizeres alusivos a Jesus Cristo e as uniões de cônjuges. Havia também imagens de Santos e, no altar mor, centro da Igreja, a da Santa Padroeira da Catedral. Vestida em traje de organdi em seda, a noiva não cabia em contentamento e alegria por estar ao lado do homem a quem amava.
Logo após a Santa Missa, houve cumprimentos de amigos e amigas, gente conhecida de Salésia e do casal pai e mãe. Após tais cumprimentos, Salésia, Jubal e seus três amados filhos rumaram para a residência da moça onde tomaram café matinal. Ali, Jubal conversou por longo tempo com os pais de Salésia, tratando de costumeiros assuntos que ambos trabalhavam até chegar a hora do almoço do meio dia. Entretanto nesse meio tempo, ele viu a noiva a sair acompanhada de sua filha Oceanira e os quatros filhos – dois de Jubal e dois de Artemio – tornaram a brincar de coisas que Jubal nem sabia. Todos os quatro filhos de Artemio e de Jubal buscaram a rua de baixo onde era tudo mais sossegado e ainda foram ao sitio de feno que Jubal era o dono. De ida e de volta, os garotos passaram pela feira e não ficaram sossegados enquanto seus pais não deram dinheiro para comprar brinquedos feitos de barro. Cavalinhos eram os preferidos.
--- Esses meninos são fogo! – disse certa vez Suzana ao passar entre os dois homens que estavam a conversar.
--- Isso é de menino mesmo. – respondeu Artêmio.
Logo Jubal perguntou por uma moça que esteve ali a curar doenças apenas com o ver os seus pacientes.
--- Osita? Esta durou pouco tempo. Questão de um mês. Dizem que ela foi vista em um Solar que fica do alto pelos lados da praia do Meio. – confessou Artêmio.
--- Onde fica esse tal Solar? – indagou Jubal, curioso.
--- Não sei. Quem sabe disso é Nunes que vive escrevendo jornal. – falou Artêmio
Nesse momento vinha chegando dona Joana a mulher de Nunes, que ouviu parte da conversa e malhou com os dois homens.
--- Estão falando da vida alheia! – perguntou a mulher querendo passar carão nos dois homens que caíram na risada.
Durante a tarde, a família foi, todos juntos, meninos, moços, meninas, a noiva, o noivo e seus pais, assistir a um filme no cinema da Cidade. Esse era o costume tradicional das nobres famílias do lugar.

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