sexta-feira, 9 de julho de 2010

MEIAS DE SEDA - 9 -

- MEIAS DE SEDA -
- 9 -
Então, Salésia agradeceu pelo cacho de mangas rosa que acabara de receber de Jubal. A sua mãe, Suzana, também agradeceu pelo presente à menina. E então ambas as visitas acompanhas por Jubal saíram do sítio do plantador de capim fazendo os melhores agradecimentos pelo tempo passado em sua companhia para a satisfação da menina Salésia. A menina era todo sorriso o que retribuía em troca o seu novo amigo como saudando a sua visita àquela hora da manhã de sábado. Foi então que a menina fez um convite a Jubal para que fosse a festa de aniversario no dia seguinte que a sua mãe preparava, com ligeiro atraso, em comemoração aos seus onze anos, fetos no dia 26 de abril. O homem não pode se comprometer em ir, pois no domingo tinha outros compromissos assumidos para os quais não poderia faltar.
--- Que pena. Seria bom se você pudesse vir. Sabe onde eu moro? – perguntou Salésia.
--- Ainda não. Mas não faltará oportunidade. – respondeu Jubal em sorrisos.
--- Moro na Rua da Prisão. Logo ali perto da casa de Osita. Sabe quem é Osita? – perguntou a garota sorrindo.
--- Não. Não a conheço. Quem é Osita? – indagou Jubal surpreso.
--- A Virgem que cura aleijados e outros doentes. Eu já fui a ela. Sabe agora? – indagou Salésia reprovando a ignorância de Jubal.
--- Ah Já sei quem é. Osita. A moça que cura. Sei bem. – respondeu o homem como vindo a saber de fato quem era Osita.
--- Eu sofria de puxado. A Virgem foi quem curou. Ela só olha pra gente e cura. Tem é gente com ela a esta hora. – explicou a menina.
--- Menina. Tenha modos! – repreendeu Suzana a sua filha por delatar tudo aquilo que se passou com a menina. Talvez o homem não acreditasse em tudo o que se dizia sobre a Virgem curandeira.
--- Deixa mãe. Eu não fui mesmo? – perguntou Salésia a sua mãe Suzana.
E o homem achou graça com a franqueza de Salésia ao se referir a Osita e suas curas. Afinal tinha sido muita gente curada pela moça que se dizia virgem. Osita tinha cerca de 20 anos de idade. De pele alva, cabelos longos e lisos, ornamento na cabeça. Vestes repletas de adereços. Ela trajava sempre branco. A virgem estava sempre sentada em um trono coberto de cetim vermelho quase escuro nas horas da cura. Não dizia uma só palavra. Apenas ela olhava para o enfermo. Havia muita gente a procura de um milagre da moça que se dizia santa. Filas enormes de indigentes e gente pobres e mais ou menos ricas procuravam a cura dos mais diversos espasmos. Naquele dia a fila se estendia por toda a Rua Ocidental de Cima, enveredando pela Rua da Prisão até chegar à rua de cima onde havia uma bodega na esquina. O povo que morava naquele local acudia os enfermos dando-lhes água e alimentos enquanto a fila se voltava a formar ladeira a baixo sob sol e chuva intermitente ou não. Aquele tormento de quem precisava de um milagre divino durava o dia todo sem ter fim. Os pobres enfermos deficientes e mesmo as mulheres com incômodos ou sem doença ficavam a noite toda na rua a espera da Virgem dos Milagres. Todo aquele aglomerado de gente teve oportunidade de chegar aos confins da cidade e até os outros recantos mais distantes. Com isso, certa vez, Jubal foi ver de perto o clamor do povo pobre depois que Salésia lhe falou a respeito da virgem. Ele olhou o balançou a cabeça em desaprovo. Ciente do que havia no local, se retirou sem dizer palavras.
Quando a menina saiu com sua mãe da porteira do sitio, Jubal entrou para ver o que tinha deixado de fazer. O trem de passageiros passou no local em frente ao sitio, por onde corria a sua estrada de ferro. O comboio vinha do interior para a cidade já com bastante atraso. O trem era orientado por um maquinista e um foguista. Quando esse trem vinha do interior para a cidade começava a apitar antes da curva para orientar que estava na linha a sair o mais depressa possível. Após ele fazer a curva apitava intermitente para que o povo que fazia compras na Feira do Paço saísse da linha. O mecanismo do trem era pesado e no País tinha para além de quarenta ferrovias existentes composto por dezoito estradas de ferro. Depois de passado o comboio, as pessoas voltaram as suas atividades pertinentes normais. Salésia acompanhou a sua mãe, atravessando na carreira as duas estradas de ferro existentes no local.
Ao subir para a Rua Ocidental de Cima, a mulher Suzana teve o cuidado de segurar a sua saia, pois estava a observar um rapaz com desejos ímpios tentando ver algo mais do que as suas pernas. Ela, revoltada com a ação do tal elemento disse apenas:
--- Herege! – falou Suzana para o rapaz.
Ele então sorriu como pedindo, por favor, para que a mulher deixasse subir a saia por um pouco instante qualquer para satisfazer seus desejos. A mulher, de seus 30 anos, ascendeu os degraus íngremes da rampa e não olhou mais tal elemento. A menina, Salésia, já se soltara da mão de Suzana e correra para casa, vendo a multidão que se formava em frente e mais além da casa de Osita, uma espécie de casa bem ampla, pois abrigava toda gente que se aglutinava no local. Em seguida, Salésia saiu em debandada até a sua casa na mesma Rua da Prisão, lado direito de quem subia casa simples, porém de acordo com o modo de vida de seus ocupantes. Na frente da casa tinham uma porta de veneziana e uma janela igual à porta. Duas bandas e venezianas. Um trinco fechava a porta. A janela de meia altura era fechada por dentro por ferrolhos. A menina abriu a porta e entrou gritando para os seus irmãos o que tinha recebido de presente.
--- Olha o que recebi de presente!! – disse Salésia para os irmãos Ênio e Euclides que a menina o chamava de “Sequilho”.
--- Mangas? – comentou Ênio com os olhos regalados e a boca cheia de água.
--- Vou dividir com vocês, minha mãe e minha tia Joana. – respondeu a menina cheia de vida e contentamento.
E assim o fez. Dividiu em partes iguais. Uma para cada um. A despeito de ter ficado com a maior de todos, os meninos, tia e mãe ficaram bem satisfeitas. A sua mãe foi quem disse:
--- Faltou uma manga para o seu pai. Eu deixo a minha parte para ele. Agora, vocês podem chupar as mangas depois do almoço. Antes, não. – falou Suzana apaziguando os ânimos que se formara perante as mangas rosa.
E todos ficaram satisfeitos com a decisão de sua mãe e irmã, pois a tia Joana também era aceita na partilha do quinhão das frutas.
Na casa de Salésia tinha um quintal onde amplamente era plantada fruteira como jaqueira, mamoeiros, pés de pinha e de outras frutas. Era um quintal pequeno e essas fruteiras já haviam sido plantadas bem antes de se construir a casa como também as outras residências ali localizadas. A residência de Salésia ficava no meio das outras casas existentes no local com apenas ficando de fora o terreno da esquina que não tinha casa. Era tudo fruteiras. No terreno também havia mangueiras. Porém manga bacuri e espada. A manga rosa não havia ali. O terreno da esquina que ficava no cruzamento com a Rua Ocidental de Cima, era pequeno. Mesmo assim, ainda menor, servia de quintal para a casa vizinha a ele. Os donos da habitação vizinha tinham o apego em dizer que aquele era o seu quintal também. E quem quisesse construir no local tinha que consultar o dono do domicilio. E tais pessoas não deixavam ninguém construir qualquer coisa no terreno.
Joana, 25 anos de idade, tia de Salésia, tinha casamento marcado para o final do ano. O seu noivo era Pedro Nunes, jornalista, trabalhando em um jornal da cidade como editor chefe. Ela era moça prendada. Ele era um jovem de 27 anos, inteligente e capaz, percorreu todas as editorias do jornalismo, começando como repórter policial. Desse plano passou para reportagem geral e então durou um longo tempo como repórter. Quando um chefe de reportagem pediu demissão do emprego, Nunes foi nomeado para ocupar a chefia. Daí então foi um pulo. Chegou a ser editor chefe em pouco tempo. Ele de namoro com Joana, a pediu em casamento e dessa forma se deu bem. O casamento foi marcado para dezembro. Enquanto trabalhava até altas horas da noite para por o jornal logo cedo na rua, Nunes progrediu bastante tendo sido sondado por outros jornais locais e nem mesmo aceitou. Era aquele órgão que Nunes desejava e não qualquer outro. Assim, ele se fez na vida ao lado de tanto mestres em jornalismo.

Nenhum comentário: